Blog do Flavio Gomes
F-1

IS SAKHIR Ô-Ô (3)

SÃO PAULO (foi boa) – O GP do Bahrein, no ano passado, foi o melhor da temporada. Nesta, até agora, também. O resultado não foi totalmente previsível, apesar da vitória, mais uma, de Hamilton — terceira no ano, 36ª na carreira. Isso porque o final reservou uma boa novidade, Raikkonen em segundo, passando Rosberg na […]

Tree_of_Life_in_BahrainSÃO PAULO (foi boa) – O GP do Bahrein, no ano passado, foi o melhor da temporada. Nesta, até agora, também. O resultado não foi totalmente previsível, apesar da vitória, mais uma, de Hamilton — terceira no ano, 36ª na carreira. Isso porque o final reservou uma boa novidade, Raikkonen em segundo, passando Rosberg na penúltima volta — o alemão exausto, assim como seus pneus, numa corrida em que teve de remar muito para recuperar o que perdia nas paradas nos boxes.

Teve disputa, como Vettel x Bottas, teve drama, como Massa empacado no grid, teve motor estourando na bandeirada, o de Ricciardo. Corridinha que salvou a hora do almoço dominical, em resumo.

E desde o começo a prova árabe deu pinta de que poderia ser mesmo bacana. Na largada, Hamilton manteve a ponta. Vettel se segurou em segundo. Kimi, como se previa, passou Rosberg. E Massa, que tinha ficado no grid com problemas elétrico-hidráulicos-eletrônicos-termodinâmicos-psicológicos, saiu dos boxes e foi à luta.

Na quarta volta, Nico, passou Kimi. A missão era, agora, partir para cima de Vettel. Lewis, que sofreu um sufoco do alemão ferrarista na largada, começou a abrir.  Na nona volta, Tião Italiano alargou uma curva, Rosberg chegou e jantou a Ferrari. Era, já, o grande nome da prova. Afinal, fizera duas ultrapassagens, e sobre dois carros vermelhos. O propagado “ritmo de corrida” da Ferrari, que li e ouvi em vários lugares, dava ares de cascata — era bom, claro, mas não o bastante para vencer. E eu que achava que Nico ficaria com medinho da dupla Kimi/Vettel, caí do cavalo. Que nada… Passou sem tomar conhecimento da fama de mau de ambos.

Na volta 11, algum movimento nos boxes, mas ali no segundo escalão. Foi só na 14ª que começaram as paradas da turma da frente. Vettel foi o primeiro. Rosberg parou na 15ª. Mas perdeu a posição para Tião porque seu pit stop foi coisa de 1s pior. Toca remar tudo de novo. Hamilton veio na volta 16. Aí tivemos um momento lindo da corrida. Comandante Amilton saiu dos boxes na frente, mas Nico e Vettel vinham pela reta babando, logo atrás. Rosberguinho não quis saber, jogou o carro por dentro, tinha Hamilton na frente, empurrou Vettel para o outro lado e passou o alemão.

Lewis observava tudo pelo espelho. Opa, melhor eu me cuidar. Rosberguinho está nervoso, pensou. Estava mesmo, e ensaiou um ataque ao inglês. A Ferrari ficou para trás de novo. Kimi, então líder, só parou na volta 18. E colocou pneus médios — todos os outros tinham colocado macios, no pessoal da dianteira. O que estaria pensando em aprontar o finlandês?

Na volta 20, a briga estava interessante do nono ao 11°  — Hulk, Massacrado e Felipe II. Mas foi só na 25ª que o piloto da Sauber passou o xará. Maldonado vinha junto e todos foram para os boxes na volta 26. Resultado: Massa passou Nasr no pit stop (a parada da Sauber foi 0s8 pior que a da Williams) e Maldonado jantou os dois (com um pit stop mais rápido ainda). Voltaram em 14°, 15° e 16°.

Lá na ponta, Hamilton seguia tranquilo, já tinha controlado a situação, e trazia Rosberg na escolta. Vettel brigava com os pneus e Kimi,com a borracha mais resistente, chegava. Foi nesse momento que percebi que Button nem estava na pista, no final de semana mais trágico de sua história. A McLaren achou melhor ele nem largar.

Na volta 33, Vettel para pela segunda vez e coloca pneus médios. O terceiro lugar estava de ótimo tamanho, mas ele teria algum trabalho nas últimas voltas. Hamilton parou na 34ª e também espetou médios. Rosberg foi na volta seguinte. E voltou de novo atrás de Vettel. Tenha santa paciência, dona Mercedes! Toca correr para se recuperar de novo, e lá foi Rosberguinho atrás de seu destino. Durou uma volta a alegria de Tião Italiano. Deu uma espalhada na última curva e Nico passou de novo, reassumindo a escolta de Lewis. Tarefa que ficou ainda mais fácil porque Sebastian teve de parar na volta 37ª para trocar o bico. Algum problema na asa dianteira teria levado o alemão a errar na volta anterior. Ele não é disso.

Na volta 38, Kimi liderava, com 4s de vantagem para Hamilton e uma parada a menos. O “aprontar”, do parágrafo lá de cima, poderia ser fazer a prova inteira com uma parada só, o que seria uma insanidade e uma espécie de milagre de Papai Noel, porque o finlandês já virava tempos 1s5 por volta piores que o mercêdico. Vettel tinha caído para quinto. Na volta 39, com os pneus esbagaçados, até Alonso passou Raikkonen. Pelo rádio, o espanhol gritou: “Estou em primeiro! I am P1, Mr. Stoddart! Passei o Schumacher! Grande ragazzi! Grande, Faenza!”. Na volta 40, Hamilton também atropelou Kimi, que àquela altura se arrastava com os pneus médios trocados 22 voltas atrás. Parou na 41ª para colocar macios e correr para o pódio — azar dos azares, justo numa daquelas corridas onde não se pode tomar champanhe. O terceiro era batata, para Raikkonen. Segundo, uma possibilidade concreta, que dependia de seu ritmo com pneus novos contra Rosberg com a borracha esgarçada.

Na volta 43, uma tristeza. Maldonado, que estava em oitavo, foi para os boxes com seu carro fumegando por todos os poros, e olha que ele fazia uma corrida mais do que decente, depois de largar em 16°. Faltando 13 voltas, Vettel chegou em Bottas para buscar o quarto lugar. Hamilton monitorava Rosberguinho, que tirava alguns décimos por volta, mas nada muito assustador. Nasr, numa corrida discretíssima depois de uma terceira parada, já tinha tomado uma volta e andava atrás de Sonyericsson. Passou na volta 47 e assumiu o 13° lugar. Isso e nada era a mesma coisa para a Sauber.

E a dez voltas do final, eis que Kimi, em terceiro e com pneus estalando de eficiência, começa a tirar a diferença, que era superior a 14s, para Nico. Faz conta daqui, faz conta dali, e chega-se à conclusão de que, naquela toada de quase 2s mais rápido por volta, chegaria no alemão com tempo suficiente para passar. Das voltas 41 a 45, Raikkonen evaporou 10s. Nico era avisado pelo rádio da aproximação, mas pedia delicadamente que não falassem com ele sobre o assunto: “Não me encham o saco com isso!”.

Um pouco mais atrás, Sapattos resistia bravamente a Vettel pelo quarto lugar. Massa, pro sua vez, tomava de Pérez e perdia o nono. Um domingo ruim para o brasileiro, que ainda reclamou de um toque de Maldonado no início, que afetou seu carro. O ritmo de aproximação de Raikkonen em direção a Rosberguinho refreou um pouco, mas ainda assim preocupava o mercêdico. A equipe, a pedido, ficou quieta. Num determinado momento, perguntou apenas, docemente, o que Nico queria jantar. Na volta 55, o finlandês chegou de vez. Teria duas voltas para dar o bote. Nem precisou. Rosberg espanou a porca numa freada, espalhou pela área de escape e Kimi passou, assumindo o segundo lugar. Merecido. Inventou moda na estratégia, parou depois que todo mundo, colocou pneus duros, trocou para macios no stint final, tinha borracha mais em forma na fase derradeira da corrida, conseguiu um segundo lugar estupendo.

Lewis fechou a prova em primeiro com alguns problemas de freio no fim. Kimi e Rosberguinho, este com cara de zé-coió, levaram seus belos troféus para casa. Fecharam a zona de pontos Sapattos, Tião Italiano, Ricardão (com a fumaça de seu motor se juntando aos fogos de artifício barenitas), Grojã, Maria do Bairro, K-Vyado e Massacrado. Alonso foi o 11°. “Batemos na trave de novo. Mas andamos na frente da Eurobrun e da Onyx, e isso é muito importante neste momento. Grazie, grazie”, falou o espanhol pelo rádio.

Hamilton pulou para 93 pontos, com Rosberguinho voltando à vide-liderança, 66 pontos, um à frente de Vettel. Daqui a três semanas, Espanha. Do giro pelo outro lado do planeta, restou uma lição: a Ferrari renasceu com a empolgação de Arrivabene, o entusiasmo de Vettel, a técnica de Raikkonen. Ainda não é o bastante para ameaçar a Mercedes, mas é o suficiente para incomodar um pouco.