Blog do Flavio Gomes
F-1

CATALINHAS (4)

SÃO PAULO (deu pro gasto) – Foi bom para dar uma animadinha no campeonato. Rosberguinho sabia que era vencer agora, aproveitando a pole e o bom fim de semana, ou ser relegado ao limbo da história. Não será campeão, acho muito difícil. Mas pelo menos dá uma respirada e mantém o Mundial aberto. Vai que […]

art-de-la-terraSÃO PAULO (deu pro gasto) – Foi bom para dar uma animadinha no campeonato. Rosberguinho sabia que era vencer agora, aproveitando a pole e o bom fim de semana, ou ser relegado ao limbo da história. Não será campeão, acho muito difícil. Mas pelo menos dá uma respirada e mantém o Mundial aberto. Vai que engata uma sequência, desestabiliza Hamilton, sei lá. De novo: acho difícil. Mas é melhor isso do que nada.

Com a vitória de hoje na Espanha, a diferença de Nico para para Lewis caiu para 20 pontos. Foi a nona da carreira do alemão platinado. O pódio, como se imaginava, foi completado com Vettel.

Caramba, você acertou na mosca o pódio!, dirá o leitor mais puxa saco. Verdade, mas não era muito difícil. E a corrida quase desmentiu os prognósticos óbvios por conta da má largada do Comandante Amilton, que caiu para terceiro e teve de mudar sua estratégia de duas para três paradas — era a forma mais segura de recuperar a posição de Sebastian.

No fim das contas, a prova catalã foi daquelas que a gente chama de “corrida tática”. E daquelas em que a largada acabou sendo determinante para vários pilotos. Raikkonen, por exemplo, que foi mal na classificação, pulou de sétimo para quinto. E lá chegou. Por pouco, muito pouco mesmo, não terminou em quarto. Nas últimas voltas, encostou em Bottas e ficou colado nele. Como o conterrâneo da Williams é igualmente bom, acabou não passando. Mas a tática de usar pneus duros no meio da corrida e deixar os médios para o último stint quase funcionou — como no Bahrein.

Rosberg não teve dificuldades para vencer e só ficou com a pulga atrás da orelha quando voltou de seu segundo pit stop, na volta 45. OK, ele sabia que o companheiro teria de parar mais uma vez, mas vai que…

No fundo, a corrida de Hamilton era contra Vettel. Que percebeu, a certa altura, que o inglês faria três paradas e teria pneus mais novos por mais tempo, compensando o que perderia nos boxes. “Dá pra fazer igual?”, chegou a perguntar pelo rádio. Mas já era tarde. A decisão de trocar para três pit stops foi considerada já no início da corrida. Na volta 11, Hamilton chegou em Vettel e ficou três voltas esboçando uma ultrapassagem. Viu que não dava, em Barcelona é bem complicado. Foi para os boxes na volta 14, teve uma parada lenta (a roda traseira esquerda enroscou) e foi à luta.

Mas Vettel parou na volta seguinte, tentando monitorar o rival. Voltou à frente dele. Era, ainda, questão de estudar o que fazer a partir dali. Duas ou três paradas? Rosberg, sem maiores problemas, foi para a troca de pneus na 16. Na volta 18, um espanto. Sabe quem estava em sétmo? Alonso! Pois é. Mas ele não tinha parado ainda. Foi só um brilhareco. Na 28ª volta ele retornou aos boxes. Sem freio, quase fez um strike nos mecânicos. Mas foi hábil e conseguiu não atropelar ninguém.

“Era uma boa corrida”, declarou o espanhol. “Só que aqui em Jarama, ficar sem freios dá um medo danado. O problema foi nas lonas das rodas traseiras. Estamos estudando colocar disco nas quatro. Disco, não CD. Hahahahahaha!” Foi quando o médico chegou e lhe deu um comprimido: “Vem, Fernandinho, vamos descansar um pouco”. E os repórteres escutaram Alonso, em direção à enfermaria, cantando “doutor, eu não me engano, meu coração é asturiano”.

Na volta 20, Hamilton encostou de novo em Vettel. Tirava meio segundo por volta, mas quando chegou, a coisa se repetiu. Não passava. Era hora de arriscar algo. Box na volta 33, pneus duros, acelerar até se esgoelar, tirar a diferença para Vettel e ver o que iria acontecer.

Aconteceu que o cara começou a virar de 2 a 3 segundos mais rápido por volta, até que Tião Italiano parou na volta 41, colocou seus pneus duros e voltou em terceiro. OK, Hamilton teria uma parada, ainda. Hora de olhar no cronômetro. Na volta 43, Rosberg, com uma parada, liderava com 23s6 para Hamilton, que tinha duas paradas e 15s para Vettel, igualmente duas paradas. Nico parou na 45ª para trocar pela última vez. Voltou em segundo. Hamilton só abria. Na 49ª, a diferença dele para Vettel já era de 22s5. Já dava. Na 51ª, Comandante Amilton parou, colocou pneus médios, perdeu a ponta para Rosberg, mas saiu dos boxes bem na frente de Sebastian. Tarefa cumprida.

Faltavam 13 voltas, e Rosberguinho tinha 20s3 de folga lá na frente. Lewis ainda perguntou pelo rádio se daria para tentar algo, mas as respostas foram evasivas. Também, não tem milagre. Recuperar o que perdera na largada já estava de bom tamanho.

O GP espanhol teve algumas disputas interessantes e desempenhos curiosos. A dupla sensação Sainz Jr./Verstappinho, por exemplo, fez uma ótima classificação, mas foi ultrapassada por todo mundo na corrida, com seus motores de Twingo correndo o risco de abrir o bico. No final, Sainz Idade ainda conseguiu um honroso nono lugar. Em casa, estava ótimo. Raikkonen x Bottas, nas últimas dez voltas, também foi algo interessante, apesar da dificuldade de Kimi, mesmo com pneus melhores, de atropelar o piloto da Williams. Não conseguiu. Sapattos foi o quarto e Kimi Erda de Domingo, o quinto. Massacrado terminou em sexto, com uma corrida discreta e três paradas, como Hamilton. Acabou sendo superado por Bottas na classificação do Mundial. Ricardão, Grojã, Sainz Idade e K-Vyado fecharam a zona de pontos.

Houve alguns momentos divertidos, também, como Grosjean babando nos boxes e atropelando o mecânico que operava o macaco dianteiro. O cara segurou a onda, mas o equipamento acertou seus países baixos. Ele teve de colocar gelo no local e é claro que as câmeras mostraram tudo, para sua desgraça pessoal. Registre-se que Romain fez uma ótima prova, depois de tantos infortúnios — deve ser dramático saber que quase castrou um companheiro de trabalho. Ainda na Lotus, Maldanado ficou com a lateral da asa traseira pendurada. Chegaram a arrancar, no box. No fim, abandonou. Na Sauber, pouco a comentar. Nasr foi o 12° e em nenhum momento deu a impressão de que poderia pontuar. A equipe estacionou no desenvolvimento de seu carro. Muita indenização pra pagar…

A tábua de pontos agora aponta 111 para Hamilton, 91 para Rosberg, 80 para Vettel, 52 para Raikkonen. Próxima parada, Mônaco. Onde, ano passado, Nico e Lewis tretaram pela primeira vez, na classificação. No pódio, hoje, foram educados um com o outro, mas sem grande entusiasmo. A amizade já foi, mas as hostilidades de 2014 ficaram para trás. Pelo menos por enquanto.