Blog do Flavio Gomes
F-1

MIRABOAS (3)

SÃO PAULO (hoje tem Pacaembu) – Quando tudo é muito previsível, é difícil encontrar alguma emoção. Nem forçando a barra. “Ah, a briga pela pole no Q3 foi bonita!”, dirão. Não, não foi. Aliás, acho que nem dirão isso, há limites para o embuste. Porque não houve briga nenhuma depois que Hamilton fez um temporal […]

mirabo3SÃO PAULO (hoje tem Pacaembu) – Quando tudo é muito previsível, é difícil encontrar alguma emoção. Nem forçando a barra. “Ah, a briga pela pole no Q3 foi bonita!”, dirão. Não, não foi. Aliás, acho que nem dirão isso, há limites para o embuste. Porque não houve briga nenhuma depois que Hamilton fez um temporal e Rosberg errou na tentativa de batê-lo. Acabou aí qualquer possibilidade de disputa em Monte Carlo. Broxante. Foi muito mais legal no ano passado. A esta altura, Lewis estava acusando Nico e chamando o companheiro de filho da puta para baixo. Hoje, estão apenas trocano amabilidades.

O sábado começou com alguma esperança de novidade depois que Vettel, surpreendentemente, fechou o terceiro treino livre com o melhor tempo.

Fogo de palha, claro.

No Q1, a petizada da ponta saiu de pneus macios, deixando a goma gosmenta supermacia para as equipes menores — nas outras duas partes da classificação, também adotariam os pneus mais aderentes, claro. Hamilton encaixava volta rápida em cima de volta rápida, até que Rosberguinho conseguiu batê-lo. Era uma briga de gato e rato e exclusiva, porque quem chegava mais perto, Sebastian, virava 1s mais lento por volta. Os tempos: 1min16s528 para Nico, 0s060 à frente de Lewis. No fim Vettel deu uma encostada: 0s222 atrás do platinado da Mercedes, mas nada que assustasse realmente.

O tráfego, como sempre, deixava todo mundo irritado. Era um tal de pegar carro mais lento a cada esquina que fazia muita gente perder o espírito esportivo, disparando impropérios dentro do capacete. Faz parte dos rituais sagrados de Mônaco xingar os outros.

A briga para fugir da degola estava interessante, porque a McLaren aos poucos vai deixando de ser cativa — só os marússicos são presença certa entre os cinco piores. E aí apareceu a maior decepção do dia: a dona Williams. Bottas não passou do Q1, ficando apenas com a 17ª posição. Massa, aos trancos e barrancos, conseguiu um suado 13°. Outra enorme decepção vem sendo a Sauber, depois de uma estreia promissora na Austrália. Os dois dançaram, com Felipe II em 16º e Sonyericsson em 18º. Cat Stevens e Leroy Merhi ficaram com a última fila em seus carros brancos e vermelhos.

E os motorzinhos de Twingo fizeram bonito. Verstappinho, que já havia sido destaque na quinta, foi o terceiro colocado. Depois dele, na ordem, K-Vyado, Sainz Idade e Ricardão. Os dois meninos da Toro Rosso vêm mostrando muito serviço em sua temporada de estreia. Fico imaginando um brasileiro de 17 anos, como Max, andando lá na frente numa pista como Mônaco. Viraria deus em dois minutos, tã-tã-tã.

No Q2, ninguém estava para brincadeira. Pneu supermacio para todo mundo, andando até aguentar. Em Monte Carlo, dá para fazer umas três voltas rápidas com essa borracha antes de ela abrir o bico. Vettel iniciou bem os trabalhos com uma volta em 1min16s224. No mesmo momento, Alonso encostou a McLaren na saída dos boxes com fumaça saindo do motor. “A Cosworth nos deve explicações!”, falou, indignado. No volante, apareceu a mensagem do sistema que desliga tudo. O que teria acontecido? “A Cosworth nos deve explicações!”, repetiu o espanhol, já totalmente recuperado do acidente que sofreu em Barcelona no começo do ano, onde um raio teria caído sobre sua cabeça — o que ele nega. “Vocês dizem isso para desviar o assunto, a Cosworth nos deve explicações!”

Robserguinho, então, disse a que veio. Cravou 1min15s471, abrindo mais de 0s7 para Tião Italiano e Comandante Amilton, que fizeram exatamente o mesmo tempo, ambos a 0s753 do mercêdico alemão. Então, ambos voltaram à pista. Lewis, que reclamou da falta de aderência nos seus pneus na primeira saída dos boxes, ouviu pelo rádio um pedido de desculpas de seu engenheiro. “Erro meu, colega”, falou. Oh, o que seria? Na TV, Max Wilson especulou que poderia ser alguma coisa na calibragem dos pneus.

Por alguma razão insondável, Nico saiu de novo para outra volta. Não tinha a menor necessidade. Ainda deu uma abusada na Sainte Dévote e quase bateu. Coisa de doido, por pouco não estragou a classificação. Hamilton e Vettel melhoraram e desempataram, o inglês em segundo, o alemão em terceiro. Ficaram fora, pela ordem, Grojã, Bonitton, Incrível Hulk, Massacrado e El Fodón de la Eliminación.

Ah, dona Williams… Atrás da McLaren, dona Williams? O que está acontecendo, dona Williams? Qual é, dona Williams? Nenhum carro no Q3, dona Williams?

Mercedes à parte, era a Toro Rosso quem mais se destacava, com Verstappen e Sainz Jr. de novo andando lá na frente e incomodando os grandões. Foram para o Q3 as duplas de Mercedes, Ferrari, Red Bull, Toro Rosso e dois avulsos que merecem aplausos: Maldonado e Pérez.

A briga pela pole seria entre Hamilton e Rosberg, como todo mundo previa, com alguma vantagem, pelo andar da carruagem, para o alemão — que busca amanhã sua terceira vitória seguida em Monte Carlo.

Mas…

Primeiro round: 1min15s304 para Hamilton, 1min15s440 para Rosberguinho. Esqueçam os demais. Segundo round: Rosberg erra de novo na Sainte Dévote e aborta sua volta, Hamilton faz 1min15s098. Melhorou, abriu 0s342 do companheiro, fim de conversa. Na hora H, Nico espanou. Pole de Hamilton, quinta no ano, 43ª na carreira.

Depois da dupla da Mercedes vieram Vettel, a 0s751, Ricciardo, Kvyat (olha a Red Bull aí, gente), Raikkonen (mal, muito mal), Pérez (supresa do dia), Sainz Jr., Maldonado (segunda surpresa do dia) e Verstappen. No fim das contas, na hora da onça beber água, a duplinha tororrôssica foi apenas OK. Mas farão uma boa corrida, mesmo Sainz Jr. tendo sido punido por não parar para a pesagem (larga dos boxes, vai remar muito para tentar pontuar). Outro punido foi Grosjean, que perdeu cinco posições por troca de câmbio. Graças a isso pilotos como Button, Massa e Alonso subiram duas posições no grid.

A pole em Mônaco é decisiva. Se não fizer nada errado na largada, Hamilton ganha. É corrida para apenas uma parada, não acontece muita coisa. Rosberg esboçou uma reação em Barcelona e em alguns momentos dos treinos em Monte Carlo.

Mas quem reagiu rápido foi Lewis.