Blog do Flavio Gomes
Gomes

ENTREVISTA COM O BLOGUEIRO (14)

SÃO PAULO (por que invento essas coisas?) – Calma, macacada, são só 18 páginas de perguntas. Vamos à quinta parte, a página 14, da já remota proposta de uma entrevista coletiva feita pela blogaiada com o blogueiro. Nesse ritmo, até o fim do ano acabo. [bannergoogle] Ah, nunca é demais lembrar que não estou editando as […]

SÃO PAULO (por que invento essas coisas?) – Calma, macacada, são só 18 páginas de perguntas. Vamos à quinta parte, a página 14, da já remota proposta de uma entrevista coletiva feita pela blogaiada com o blogueiro. Nesse ritmo, até o fim do ano acabo.

[bannergoogle] Ah, nunca é demais lembrar que não estou editando as perguntas. Elas estão sendo publicadas como vieram, com suas qualidades e defeitos. No máximo estou tirando “abraços”, “olás”, “ois” e “bons dias”.

Hoje tem futebol, religião, F-1, Fórmula E, Nascar e, claro, política no cardápio.

Divirtam-se e comentem, comentem muito. Mas não adianta perguntar mais nada, porque a sessão de perguntas já foi.

Marcos – Há motivo específico para a preferência por automobilismo, dentre os esportes? Inclusive como competidor? Seu trabalho é instigante e provocador. Você também é assim?
RESPOSTA – Eu gosto de vários esportes. Sempre sonhei trabalhar com futebol, no entanto, e na “Placar”. E no fim das contas minha carreira profissional passou e ainda passa por quase todos os esportes — hoje minha principal atividade na Fox é falar de futebol. Automobilismo também faz parte desse universo. É um esporte, afinal. Gosto de carros, gosto de competição entre carros, gosto dos personagens envolvidos nas corridas, do pioneirismo do início do século passado no lidar com essas máquinas que mudaram a história do planeta. Talvez esse gosto por automóveis tenha me levado ao automobilismo, e talvez por linhas tortas. E poder competir, ainda que com carros antigos, é muito prazeroso. Além disso, ajuda no exercício da minha profissão. Muita coisa a gente só entende quando faz. Quanto à segunda pergunta, sou a pior pessoa do mundo para me definir. Instigante e provocador… Talvez. Acho uma boa definição, mas deixo para os outros acharem o que quiserem de mim.

Guarani campeão brasileiro de 1978

André Longhini – Exceção feita a Lusa, qual foi o melhor que time que você viu jogar?
RESPOSTA – A seleção brasileira de 1982 foi um time que me encantou. Descarto esses supertimes de hoje, que só o são porque há uma ditadura do poder econômico que distorceu o mundo e o futebol, por tabela. Ah, gostava muito do Guarani de 1978, também. Dos poucos times que escalo sem gaguejar: Neneca; Mauro, Gomes, Edson e Miranda; Zé Carlos, Renato e Zenon; Capitão, Careca e Bozó. Mas é claro que nenhum deles se aproxima de nenhuma Portuguesa da história, só para deixar claro.

Joelton Batista – Flávio, bom dia. Gostaria que vc exponha sua opinião dos três pilotos campeões mundiais de F1 brasileiros. Separadamente, pilotos e homens, qual a análise que vc faz deles?
RESPOSTA – Acho que já respondi isso. Mas, resumidamente, acho o Emerson o mais importante, o Piquet, o mais interessante, e o Senna, o melhor. Como figuras humanas, Piquet é de quem mais gosto.

Marcelo Rezende – Bom dia Flávio, ou melhor… Доброе Утро. Nosso automobilismo a cada ano perde mais um pouco de sua glória, nossas safras de bons pilotos diminuem e vemos boas iniciativas fracassarem por falta de apoio das federações e por vezes até da imprensa. Um exemplo é a bobagem de não pronunciar o nome de uma categoria num canal que não transmite por exemplo. Por outro lado é claro o aumento do interesse nos últimos dois ou três anos por programas sobre reforma de carros, carros envenenados, leilões, etc… Como você acha que o pessoal do automobilismo pode aproveitar o aumento do interesse por carros em geral? Você não acha que se faz muito pouco evento para promover as categorias nacionais? Temos eventos de carros antigos, tuning, miniaturas em todo canto mas raramente se vê um carro de corrida sendo exposto ou um piloto dando autógrafos em eventos que não são “oficiais” da categoria. Não faltaria um pouco de vontade por parte dos pilotos e equipes para uma maior divulgação?
RESPOSTA – Você tem toda razão. O interesse por carros, e isso a gente vê na TV fechada, tem crescido em determinados segmentos. Acho que o automobilismo, todo seu universo, não está sacando que dá para surfar nessa onda. Há uma aparente contradição no que eu disse no início, e inclusive já escrevi sobre isso: o interesse dos jovens por carros só cai. Mas o mundo não é feito de jovens, apenas. E quando os jovens envelhecem, impressão que tenho, passam a se interessar por coisas mais antigas – e os carros estão entre elas. Fato é que a relação do jovem com o automóvel hoje é bem diferente de 20, 30, 40 anos atrás. Carro hoje, para o jovem urbano, é um estorvo. Custa caro, não tem onde parar, paga imposto, tem de abastecer. Antes, era símbolo de liberdade, masculinidade. Mas quando o sujeito ganha uma graninha, pode ser que o interesse volte, ou passe a existir. O problema do automobilismo é que ele vive no seu mundinho próprio e acha que não precisa do mundo exterior para existir. É um erro. Carros de corrida chamam a atenção. Essa turma toda deveria abrir os olhos para o que acontece no mundo, trazer gente para os autódromos, tentar seduzir a juventude.

Américo Teixeira Jr. – Teria havido, querido amigo, um dia que você ficou prá lá de puto e falou: “Caralho, vou mandar esse automobilismo para a merda e nunca mais escrevo sobre isso”? Se houve, claro, foi – felizmente para nós, leitores, amigos e fãs – algo que desapareceu logo da mente. No mais, um agradecimento público pelo amigo que você é. É um privilégio conhecer Flavio Gomes.
RESPOSTA – Sem confetes, que eu jogo mais! Não, Américo, nunca houve. E olha que motivos não faltaram! Basta ver a quantidade de gente do meio que está me processando por uma coisa ou outra. Mas eu gosto de carros, gosto de corridas, gosto de correr, e gosto da maioria das pessoas com quem convivo graças ao automobilismo – você é um deles, claro. Qualquer atividade tem altos e baixos, a gente passa por vários momentos ruins, mas é preciso colocar a convicção da escolha acima disso.

Ui, que medo

Saulo Caram – Flavio, sou um admirador antigo dos seus textos, das suas posições, da sua acertividade e das suas paixões (carros, mulheres, aviões). Entretanto, discordo de suas posições políticas e econômicas. Então pergunto: Você é realmente comunista? Em caso positivo, você acredita na viabilidade do sistema político-econômico comunista em um país como o Brasil?
RESPOSTA – Mania de rotular as pessoas… OK, vamos lá. Acho o sistema capitalista um desastre. Basta olhar para o mundo em que vivemos. Dizer que o comunismo não deu certo para afirmar, de imediato, que o capitalismo deu é um silogismo barato. E não precisa ter medo de o Brasil virar um país comunista. Tal regime, hoje, não existe em lugar nenhum. O que estraga os regimes são as pessoas. Na teoria, é claro que o comunismo é infinitamente mais justo e melhor que essa selvageria que vivemos hoje.

Marcos Andre rj – Vc é o cara… vou preparar minhas perguntas…
RESPOSTA – Espero que tenha dado tempo.

Carlos Camardella – Como iniciou sua paixão por produtos da extinta URSS?
RESPOSTA – Não tenho tantos produtos soviéticos assim. Só carros e um relógio de um submarino nuclear. Mas gosto da história do país, do momento histórico em que a Revolução de 1917 aconteceu, do conflito ideológico que tomou conta do mundo. As discussões eram mais ricas.

Gerdolino em Leipzig

Rodrigo Romão – Se fosse pra ficar com só um carro da sua coleção, qual seria e pq? (com certeza alguem perguntou mais sobre os demais carros, entao…) puta ideia daora!
RESPOSTA – Talvez já tenha respondido. O Trabant. Mas não consigo nem pensar nessa hipótese, porque é assustadora demais! Por quê? Tenho uma história pessoal muito forte com esse carrinho. Coloque “Gerd” no sistema de busca do blog.

Beto Carpini – Ok. Vou lhe fazer uma pergunta que realmente me intriga. Flávio Gomes, você gosta mesmo de Ladas? Se sim, O que lhe desperta tanta paixão nesses carros?
RESPOSTA – Já respondi, creio. Mas como faz tempo e não estou com disposição de procurar a resposta, digo o que já devo ter dito um milhão de vezes: esses carros foram feitos pelo proletariado soviético. É pouco? Além do mais, são carros ótimos, bonitos, resistentes, sexys.

Thiago – Qual a sua mais crítica ao atual governo federal?
RESPOSTA – Ter se rendido à frase batida de que “só é possível governar com o Congresso”. Por conta disso, da tal governabilidade, fez alianças incompreensíveis e inaceitáveis. Um governo tem de governar com o povo. O PT tinha de arrebentar tudo. Arrebentou só um pouco.

Evandro Jorge Riat – Não perdendo tempo…Vá lá!!
1ª F1 cogitou em retroceder algum forma de tecnologia, como cambio automático para o manual e assim exigir mais dos pilotos, mecânicos e Engenheiros ?
2ª Equipes e pilotos de F1 cogitaram em participar de outras provas tradicionais, como as 500 milhas de indianapolis, Le mans, Daytona.?Sem deixar a competição do calendário F1.
3ª Na F1 cogitou em reutilizar os autodromos tradicionais, como Paul Ricard, etc?
RESPOSTA – Para a primeira pergunta, não, nunca. Para a segunda, alguns pilotos às vezes cogitam – e vão. Mas equipes, não. Para a terceira, qualquer decisão sobre autódromos, hoje, passa por dinheiro. Não é a tradição de um autódromo que vai levar a F-1 de volta para ele. Infelizmente.

Rafael – Existe alguma empresa ou grupo de mídia em que você não trabalharia de jeito nenhum?
RESPOSTA – A Editora Abril. Quem publica aquela excrescência que é a “Veja” e emprega alguns tipos cujos nomes me dou o direito de não escrever jamais me terá em seus quadros.

Rafael – Percebo em blogs no geral, que jornalistas que cobrem esportes a motor pouco falam sobre a Nascar. Geralmente, só quem é especialista em Nascar fala sobre ela. E não é a mesma coisa que acontece com outros campeonatos, como Indy, F-1, até mesmo F-E. Por que isso acontece? Há um certo “preconceito” dos jornalistas brasileiros com relação à Nascar?
RESPOSTA – Não. O que há é poucos especialistas. Cito três nominalmente: Thiago Alves, Sérgio Lago e Rodrigo Mattar. A Nascar, como outros esportes tipicamente americanos, tem muitas especificidades. É preciso estudar, acompanhar, entender para falar e/ou escrever. Respondo por mim: não é meu caso. Vejo algumas corridas, me divirto com as porradas, mas não tenho conhecimento profundo para falar dela. Em relação às categorias de monopostos, elas têm mais tradição no Brasil e por isso acabam tendo uma cobertura mais sistemática.

Pai Wellington, um mito

Mibson Lopes Fuly – Quais suas orientações política e religiosa
RESPOSTA – Estudei em escola católica, fui batizado, fiz Primeira Comunhão, mas abdiquei da Crisma antes dos 15 anos e sou um ateu convicto há décadas. Respeito todas as religiões, de verdade. Invejo quem tem fé. Acho que a vida é mais fácil para quem acredita em desígnios divinos, essas coisas. Gosto do papa, acho uma figura. Desse papa, o Francisco. E sou fã de Pai Wellington, que apresenta o programa “No Templo dos Orixás”. É um cara sensacional. Nunca vi líder religioso nenhum ser tão franco com seus seguidores e respeitar tanto todas as religiões como ele.

Evandro – Seu estilo sincero e debochado já te causou algum tipo de problema profissional ?
RESPOSTA – Já, claro. Perdi um emprego por isso. Mas no geral, não causa muitos, não. Prefiro ser sincero e debochado do que falso e anódino.

Askjao – 1 – Por que as vezes se porta como um babaca, principalmente no que ser refere a política, quando as opiniões são divergentes da sua? 2 – Entendo que as pessoas confundem as coisas, que se acham íntimo seu só porque lê o que você escreve diariamente, mas será que a forma, por diversas vezes, estúpida de responder faz parte de uma espécie de “personagem” ou é a sua forma mesmo de responder a questões babacas?
RESPOSTA – Não tenho problemas com quem pensa de forma diferente de mim. Mas quando o sujeito parte para a ofensa, expõe sua ignorância, me contesta com argumentos rasos, de forma agressiva, ou achando que é erudito, tenta impor a mim uma visão de mundo, se comporta como um idiota, a resposta vai no mesmo tom. Não sei qual é exatamente sua definição de “babaca”. Eu, por exemplo, acho babaquice vir aqui e me ofender, como você faz. Mas numa coisa sou absolutamente intransigente: defendo até a morte o direito que cada um tem de ser babaca, tolo, boçal. É o que permite, por exemplo, que uma pergunta como a sua seja publicada. Mas me dou o direito de achar o que quiser das pessoas. Quanto à segunda pergunta, não encarno personagem nenhum. Sou o que sou.

Nelsinho Piquet, primeiro campeão da Fórmula E

Rafael – Você realmente vê na formula E um campeonato promissor, com vida longa, ou suas opiniões são de alguma forma “contaminadas” pelo fato de você ser contratado da mesma empresa que transmite o campeonato? (Deixo claro que é uma pergunta sem “alfinetada”, realmente é uma dúvida minha, que, a propósito, gostei da Formula E, e torço muito para que tenha vida longa).
RESPOSTA – Acho, sim. Todas as categorias de monopostos que surgiram nos últimos anos, Premier1, A1GP, Master Não Sei o Quê (nem sei se os nomes eram esses), essas de times de futebol, países etc. eram picaretagens. A Fórmula E nasceu de outro jeito. Primeiro, tem a chancela da FIA. Segundo, presença de gente grande como Michelin, Renault, Audi, McLaren, Williams. Os pilotos são bons. O conceito – corrida de rua, cenários bonitos, acesso mais aberto ao público, interatividade – é muito interessante e bem pensado. Tem alguns problemas, claro, como algumas pistas ruins. Mas nada que uma boa avaliação da primeira temporada não seja capaz de resolver. Tem gente séria envolvida, em resumo. E o campeonato foi muito bom. Os carros ainda são um pouco lentos, mas para o tipo de circuito onde correm, acho que são compatíveis. A ausência de ruído incomoda um pouco, mas é preciso entender que se trata de uma tecnologia que não faz barulho. Ela nasceu assim, não se transformou nisso. É uma modalidade de automobilismo tão defensável quanto qualquer outra.

Rildo – Oi Flavio, você sempre foi um defensor da F1 sem pachecadas dos torcedores brasileiros. Qual foi o brasileiro mais talentoso a passar pela F1 na era pós Senna, tendo obtido destaque ou não, sendo um compreendido ou incompreendido. Você torceu por ele? Acreditou ser um próximo campeão?
RESPOSTA – Acho que já respondi algo parecido, mas se não respondi, lá vai. Massa teve um excelente momento, que foi 2008. Na era pós-Senna, foi quem mais chegou perto de ser campeão, e disputou três campeonatos muito bons pela Ferrari. Acho que foi ele, portanto. E teve um que infelizmente não vingou, e tinha condições para isso, que foi o Cristiano da Matta.

Alesi, o que foi sem nunca ter sido

Xico – Quando a gente assiste uma corrida à distância, geralmente constrói uma opinião a partir do resultado que vê. Se o cara roda, vai pra grama, não consegue fazer o carro andar, acaba sendo taxado como fraco. Qual a sua opinião sobre os comentários que geralmente lemos a respeito? Você que “conhece porque já esteve lá” diria que os jornalistas levam em conta isso, o que acontece de real? Você é realmente duro com os pilotos ou pega leve? E nestes mais de 30 carreira, boa parte deles vividos dentro de autódromos, quem na sua opinião já foi piloto pra caramba, mostrou isso na pista, mas na hora H não emplacou?
RESPOSTA – Começando pelo fim, Alesi. Os outros grandes pilotos que vi acabaram emplacando. A análise que se faz, em qualquer esporte, tem no resultado o critério mais forte. Afinal, é disso que se trata: vencer. Claro que muitos atletas acabam sendo supervalorizados em esportes coletivos porque estão no lugar certo, na hora certa. No caso específico do automobilismo, não. É um esporte de equipe, claro, mas quem personifica o resultado é um indivíduo, o piloto. Uma das verdades absolutas do automobilismo é que os melhores, em algum momento, estarão com os melhores carros. Uma equipe que faz um bom carro não tem interesse num piloto ruim, porque ele pode pôr tudo a perder. Agora, é claro que a avaliação do jornalista é bem mais superficial e menos embasada do que a dos técnicos e engenheiros que têm acesso a dados muito mais precisos sobre o que os pilotos fazem. Alonso, na Minardi, não conseguia resultados impressionantes – era impossível. Mas internamente, a F-1 sabia do que ele era capaz.