Blog do Flavio Gomes
Gomes

ENTREVISTA COM O BLOGUEIRO (17)

SÃO PAULO (é preciso muito amor) – A segunda bateria de perguntas da coletiva blogaiada-blogueiro está aí embaixo. Tomei coragem e fiz a lista dos carros antigos. Portanto, aproveitem para gostar ou achar uma porcaria. No fim de semana, não sei se terei tempo de voltar ao tema — afinal, tem corrida de F-1 e […]

SÃO PAULO (é preciso muito amor) – A segunda bateria de perguntas da coletiva blogaiada-blogueiro está aí embaixo. Tomei coragem e fiz a lista dos carros antigos. Portanto, aproveitem para gostar ou achar uma porcaria. No fim de semana, não sei se terei tempo de voltar ao tema — afinal, tem corrida de F-1 e isso já me ocupa bastante.

Lembrando sempre, e isso me parece importante, que estou reproduzindo as perguntas exatamente como chegaram. Não sou responsável por anomalias linguísticas.

Divirtam-se. E comentem.

Jeff – Por quê você parou de comentar assuntos políticos aqui no blog?
RESPOSTA – Porque o ambiente de debate político no Brasil, que se reproduz nas redes sociais, degringolou. A malta reacionária, conservadora e babaca de direita, que nunca se conformou com um operário na presidência, criou uma crise, embalada pela mídia, e passou a alimentá-la de forma virulenta, agressiva, hostil, inaceitável. E tenho muitos leitores assim. Por isso, não tenho paciência para ficar respondendo comentários idiotas. Nem tempo. E não vou convencer ninguém a deixar de ser idiota. É uma opção pessoal.

Winner Augusto da Fonseca – Bom dia Flavio Gomes, você pretende compilar num livro suas aventuras pelo leste europeu com o Gerd? E/ou suas últimas aventuras pelo mundo?
RESPOSTA – Não, não acho que minha vida dê um livro. Aqueles dias com Gerd na Europa foram descritos aqui no blog. Não sei se merecem um livro.

Renato – Para você, qual foi o melhor presidente do Brasil?
RESPOSTA – Lula, fácil.

Carlos Carrera – Flávio, sempre fui apaixonado por futebol. Acompanho todos os jogos do meu time. Depois que comprei a moto, confesso que o futebol é uma paixão a qual está diminuindo cada vez mais. E vc? O que vc tem mais paixão ou amor? Portuguesa ou Automobilismo em gera?
RESPOSTA – A Portuguesa é muito importante na minha vida por vários motivos. Quem vê futebol como eu não perde a paixão por seu time. Não gosto do ambiente do futebol, acho tudo um saco, mas seu apaixonado pela Portuguesa. Assim como meu pai e meus filhos. Meu gosto por automobilismo é de outra natureza. Depois que comecei a correr, aumentou. E tenho um especial prazer em estar num carro de corrida, ainda que seja um DKW, ou um Lada. São momentos em que me encontro comigo mesmo.

Clovis – Flavio, em seus 33 anos de carreira, houve algum momento onde você esteve em alguma situação profissional onde se perguntou “É realmente isto que quero para mim, quero viver disso, seja difícil quanto seja”?
RESPOSTA – Como sempre soube o que quis fazer da vida, desde moleque, nunca questionei minha profissão. Mas confesso que nos últimos tempos tenho tido alguns momentos de desânimo. O jornalismo que aprendi a praticar não existe mais, era mais solene e responsável. As coisas estão muito confusas. Soube me adaptar a todas as últimas revoluções, ao surgimento de novas tecnologias e mídias, mas muitas vezes me sinto meio deslocado neste novo ambiente.

Rodrigo – Antes, parabéns pela bela carreira e, exemplarmente mantendo-se atualizado aos meios de comunicação.
Talvez você já tenha dito aqui no blog, site, onde quer que seja, mas, nunca vi você dizer com a real pretensão de passar que, em determinado momento do esporte motor você se emocionou, não obrigatoriamente de chegar às lágrimas, mas de que você realmente sentiu algo muito forte por algum momento desse esporte que você é tão ligado. Qual seria esse momento automobilístico marcante em sua vida? Um pessoal, afinal, é piloto, outro de um momento do esporte motor em geral.
RESPOSTA – Não sei se entendi bem a pergunta. Se já me emocionei com automobilismo, acho que é isso. Bom, sempre que estou num carro de corrida me sinto emocionado, da minha maneira. Quando me despedi do #96, por exemplo. Na F-1, me emocionei com a primeira vitória do Barrichello, por um conjunto de circunstâncias – uma delas a volta do meu colega Nilson Cesar, que estava afastado da rádio e narrou aquelas últimas voltas. E é claro que o fim de semana da morte de Senna foi igualmente muito marcante, por tudo que aconteceu.

Caio Pallu – Flávio, houve algum momento em que, saindo de um emprego, especialmente quando não foi por sua vontade (p.ex., Folha e ESPN), em que você se sentiu com algum tipo de receio? De, por exemplo, não voltar a ser admitido em breve ou de acabar tendo que fazer algo de que você não gostasse ou não conhecesse o suficiente?
RESPOSTA – Não deu tempo de temer o futuro. Quando saí da “Folha” fiquei muito triste, mais do que quando deixei a ESPN. Eu gostava demais do jornal e de trabalhar em jornal. Mas tive de ir à luta rápido, porque era preciso encontrar um caminho para seguir. Encontrei, dei algumas cabeçadas, mas estou na ativa ainda e sinto que há algum reconhecimento do meio e do público por tudo que já fiz e pelo que faço. Hoje, penso nisso de vez em quando. O que fazer quando tiver de parar? Muitos colegas estão passando por essa situação atualmente, gente com quem trabalhei em vários lugares. É difícil, sem dúvida. Mas não tenho medo de nada, sempre acho que as coisas vão acabar dando certo.

Klaus f1 – Bom dia Flavio….Além da sua paixão pela Portuguesa (explicitamente declarado) existe, em algum outro esporte, para você, algo similar, que você torça de cruzar os dedos?
RESPOSTA – Nada. Nenhuma vitória ou derrota de quem quer que seja me tira o sono. Só a Lusa.

Ivan – FG, lendo o seu livro ‘O Boto do Reno’ notei que os seus textos mais recentes são muito melhores que os mais antigos. Também deu pra perceber que você se tornou uma cara mais legal e politizado. Tens essa percepção?
RESPOSTA – O normal na vida é evoluir, creio. Mas não sei se meus textos são tão melhores assim. Os textos mudam. Eu escrevia para jornal, jornal não existe mais. Escrevia colunas, não escrevo mais. Hoje tenho uma liberdade, hum…, literária aqui que não tinha em lugar nenhum simplesmente porque a linguagem era diferente. Politizado, sempre fui. Mas, de novo, não era algo que eu demonstrasse tendo de escrever sobre esporte, pura e simplesmente. O espaço que a internet abriu para falar sobre qualquer coisa é o que explica o fato de, hoje, as pessoas que me leem saberem o que penso de tudo, ou quase tudo.

Fabio Amparo – Bom dia Flávio.
Muito legal sua atitude! Agora vamos à pergunta:
– Muito se fala na ‘receita ideal’ para os motores de F1. Uns querem a volta dos V8, outros dos V10 e ainda há quem prefira os turbos à moda antiga. E você, qual seria sua preferência?
RESPOSTA – Aspirados, sem dúvida. Os V10 foram os mais legais, mas creio que por razões econômicas a fórmula ideal seria a volta aos V8, que todo mundo é capaz de fazer, com cilindrada única e eletrônica controlada. Simplificar as coisas. Esses motores de hoje são incompreensíveis e desnecessários.

Roberto – Vc continua apoiando o PT?
RESPOSTA – Claro. A alternativa ao PT, no Brasil, é essa elite histérica, abominável, retrógrada, representada pelos partidos de oposição. Quem tem alguma noção da história do Brasil sabe bem o que essa gente fez no Brasil até 2002.

Rafa N – De onde vem essa obsessão pelos veículos soviéticos e por que os acha tão superiores aos outros veículos?
RESPOSTA – São carros que foram fabricados num país que não existe mais, a URSS. Eles têm uma enorme importância histórica. Dá para imaginar o que se sente quando se está dentro de um Lada fabricado por um operário soviético? Só entende isso quem passou a maior parte da vida num mundo dividido em dois, EUA e asseclas de um lado, URSS e satélites do outro. Meus carros são um elo entre os dias de hoje e um passado recente que definiu os rumos do planeta. Basta?

Hugo – Curti Flavio,
Em anos como jornalista qual foi o pior momento da sua carreira?
E o melhor momento?
E qual era jornalista, piloto ou chefe de equipe em anos de F1 que tu não suportava e apenas aturava? (caso exista, claro).
Parabéns pelo trabalho cara, sou seu fã.
RESPOSTA – A saída da ESPN, talvez, pela maneira como ocorreu. Hoje vejo que me fez muito bem. Melhor momento? Bem, eu diria que o período em que trabalhei na “Folha” foi quando me senti mais jornalista do que nunca, jornal era uma coisa importante e relevante, e foram anos muito interessantes do ponto de vista profissional. Teve Collor, impeachment, Constituinte, Senna, Copa do Mundo, um monte de coisa legal.
Nunca houve nada disso, se não suportar ninguém. Fiz muitos amigos na F-1.

Wilian Esteves – Bom dia, Flávio.
Gostaria de saber de sua coleção de carros. Quantos e quais são, quanto é gasto na manutenção e guarda deles etc. Enfim, tudo que alguém que estivesse interessado em seguir esses passos precisaria saber .
RESPOSTA – Que preguiça de fazer essa lista… Não sei quanto gasto. Guardo numa garagem secreta. Quem quiser ter carro antigo deve… comprar um. Cuidar dele, usar, se divertir. Só isso.

Eduardo – Quantos carros vc tem? Quais são?
RESPOSTA – Afe, uma hora vou ter de fazer essa lista, então que seja agora. Vocês contam aí. Primeiro, os DKWs: Grande DKW-Vemag 1958, Belcar 1962, Belcar 1967, Carretera #96 1963, Caiçara 1962, Vemaguet 1961, Candango 1961, Fissore 1967, Schnellaster 1958, Universal 1956. Agora, os VWs: Fusca 1966, Fusca 1976, Passat 1974, Passat Surf 1980, Variant 1970, TL 1972, Gol GT 1986, Gol 1983, Kombi 1965, Karmann-Ghia 1963. Ford: Corcel 1970, Corcel II 1979, Escort XR3 1989. Fiat: 147 1983. Gurgel: Supermini 1992. Lada: Laika 1991, Niva 1990, Samara 1993, Station 1993, #69 de corrida. Alemães-orientais: Trabant e Wartburg. Sueco: SAAB 1965. Franceses: Citroën 2CV 1968, Twingo 1994. Chrysler: Dodge 1800 1974. Motonetas: Lambretta 1969 e Vespa 1986. Motos: DKW Sport 250cc 1936, Suzuki GT 550cc 1976. Acho que não esqueci ninguém. Se considerar meu carro novo antigo, tem também um Audi A3 1997.

Muchacho – Perguntitas:
1) em Campinas vc torce para AAPP ou GFC ? Pq ?
2) um jornalista mediano ganha salários iguais de executivos medianos ?
3) qdo vc publicará outros livros ?
4) qtos carros antigos vc tem na sua coleção ?
RESPOSTA – Nenhum, por que eu deveria torcer para um time de Campinas? Só morei lá, não nasci em Campinas, sempre torci para a Portuguesa. Mas estou triste demais com a situação do Guarani. Não tenho ideia de quanto ganha um executivo mediano, e os salários de jornalistas são absolutamente irregulares, tem gente ganhando muito gente ganhando pouco, não sei responder a essa pergunta. Publicarei novos livros, sim, em breve – espero. E já respondi sobre os carros.

Renan Veronezzi – Você sabe quem era NickB, aquele homossexual engraçado que sumiu do seu blog, te deixando chateado?
RESPOSTA – Nunca soube, e pelo jeito é um mistério que jamais será desvendado, porque Nick B desapareceu. Uma pena. Era um cara sensível, inteligente, escrevia bem pacas. Espero que um dia volte a frequentar o blog.

Jucostajunior – Qual é o verdadeiro FG, o do rádio e tv, ou o do blog?
RESPOSTA – Sou uma única pessoa. O que muda, e lamento se a resposta será técnica e insossa,é a linguagem do veículo. Tem coisa que cabe na TV, tem coisa que cabe num blog, tem coisa que cabe no rádio. Mas é claro que no blog há mais liberdade de expressão. Digamos que aqui há espaço para ser mais autêntico.

Pedro Paiva – A agência tem tradição em lançar jovens jornalistas. Os exemplos de jornalistas hoje estabelecidos que começaram com você são muitos. Como você identifica e seleciona os talentos e como trabalhar com eles te influencia como jornalista? O que eles te adicionaram de valor como profissional e empresário que talvez outros jornalistas, mais experientes, não adicionariam?
RESPOSTA – Na maioria das vezes, fazemos um processo seletivo muito rigoroso. Em outras, as contratações se dão por razões puramente intuitivas – como foi com o Tales Torraga, o Everaldo Marques, o Victor Martins, a Evelyn Guimarães… Um dos orgulhos que tenho é o fato de ter aberto as portas da profissão para muita gente boa. O entusiasmo, a dedicação, o esforço, a seriedade, tudo isso me encanta nessa molecada e aprendo muito com eles diariamente. Mas sempre aprendi muito, também, com os mais experientes. Aprendizado é um negócio permanente, se você for uma pessoa aberta para aprender. Não sei tudo. Sei quase tudo, mas não tudo!

Pablo – Se lhe presenteassem com a chance de escolher um carro de competição (de qualquer época, qualquer modalidade) para guiar num autódromo de sua preferência, quais (carro e autódromo) seriam? Se puder explicar o motivo, melhor ainda.
RESPOSTA – Sem dúvida o DKW de corrida que a Vemag fez para as Mil Milhas de 1961, pilotada por Bird Clemente, Marinho, a turma da época. E eu acho que gostaria de pilotar esse carro na pista antiga de Interlagos. Sonho em guiar um DKW realmente competitivo, e uma vez o Bird me disse que aquelas carreteiras eram os melhores carros de corrida que ele tinha guiado na vida.