Blog do Flavio Gomes
Gomes

ENTREVISTA COM O BLOGUEIRO (10)

SÃO PAULO (acelerando) – Vamos tentar dar um gás nisso. Nona parte da coletiva da blogaiada com o blogueiro, perguntas já encerradas em 2 de julho – sempre é bom lembrar. Aquele negócio das cores está suspenso. Vai tudo em preto e branco, mesmo. Acho que dá para sacar onde começa um bloquinho de pergunta/resposta, […]

SÃO PAULO (acelerando) – Vamos tentar dar um gás nisso. Nona parte da coletiva da blogaiada com o blogueiro, perguntas já encerradas em 2 de julho – sempre é bom lembrar. Aquele negócio das cores está suspenso. Vai tudo em preto e branco, mesmo. Acho que dá para sacar onde começa um bloquinho de pergunta/resposta, não?

Hoje tem jornalismo, futebol, política, economia, carros antigos… Algumas perguntas começam a se repetir. Mas vocês vão ter de procurar nas outras postagens para encontrar as respostas. Vamos lá.

[bannergoogle] Saulo Lopes – Flavio, vc acha que o Fluminense pagou a Portuguesa para escalar o Héverton ?
RESPOSTA – Não sei o que aconteceu. Há duas hipóteses: uma cagada interna monstruosa, na Portuguesa; e alguém que comprou alguém no clube para evitar que Flamengo ou Fluminense caíssem. Se isso aconteceu, a Portuguesa tem de ser rebaixada para a Série D junto com quem pagou. Mas o Ministério Público não quer investigar, só faz espuma. Se foi uma cagada, que a Portuguesa assuma. Mesmo assim, ela tinha defesa, baseada no Estatuto do Torcedor. O caso era muito simples. Toda punição de tribunal esportivo tem de ter publicidade igual à de qualquer decisão de tribunal federal. Ou seja: precisa ser publicada, tornada pública. Enquanto isso não acontece, não tem efeito. Isso não aconteceu. A defesa da Portuguesa foi patética.

Thiago – Bacana você ter ouvido e ter matutado. Tem muita gente (inclusive eu) tem uma visão muito próxima de tudo o que foi falado no podcast. Minha pergunta é única: o que não é verdade (ou é mal interpretado), dentre as coisas que foram ditas no podcast?
RESPOSTA – Sendo sincero, não lembro em detalhes o que foi dito no podcast que motivou esta coletiva. Acho apenas muito curioso como algumas pessoas acham que me conhecem profundamente apenas a partir de minhas opiniões sobre automobilismo. E não conhecem tão bem assim. Agora, o que é opinião eu não discuto. Posso concordar, ou discordar. Mas cada um pensa o que quiser de mim, não é algo que me incomode.

Sergio SP – O que você e o Fábio Seixas fizeram naquele fim de semana em Hungaroring?
RESPOSTA – Hungaroring? Qual fim de semana? Não me lembro de nada muito específico, exceto um negócio engraçado que não posso contar. Mas não me lembro de sequer ter mencionado isso publicamente.

Cainã – Só uma curiosidade. Acompanho seu blog há 3 anos e só fiz 3 comentários. A maior parte dos leitores são como eu ou mais participativos? Isso por acaso te incomoda ou é irrelevante?
RESPOSTA – Quanto mais gente participa, melhor. Mas não tenho esse dado, de quantos comentam e quantos não comentam. Não me incomoda. Me incomoda não ter ninguém lendo. Mas não é o que acontece, a audiência do blog é boa.

Netflix: o caminho é vender conteúdo

Pedro Paulo – A forma de apresentar atrações estão mudando radicalmente. Hoje, com uma internet de boa qualidade, é possível assitir qualquer programa em qualquer lugar e a qualquer hora, seja um filme, uma série, um jogo de futebol ou uma corrida de fórmula 1. Isto é feito, em grande parte, por meio de streaming ilegal. Em sua opinião, como as empresas de comunicação se adaptarão para atender ao mercado cada vez mais específico, onde o telespectador escolhe a forma e o horário de assitir o que quiser, e consiga transformar o usário em consumidor?
RESPOSTA – Isso já está acontecendo. A grandes empresas oferecem sua produção “on demand”. A questão é como ganhar dinheiro com isso. Publicidade não é mais uma fonte capaz de financiar tantas produções. Cobrar pelo conteúdo, em algum momento, será necessário. Já escrevi sobre isso. É como quando você comprava uma revista. Você pagava pelo conteúdo. Agora, não compra mais, está tudo na internet, e de graça. Mas, cedo ou tarde, as pessoas terão de pagar para ver aquilo que realmente desejam. Ainda que os valores sejam baixos. Os produtores de conteúdo relevantes vão se sustentar com assinaturas. Está aí o Netflix, que não me deixa mentir.

Giulio Mela – Nao pergunto quem foi o melhor, è uma discussao esteril, mas segundo voce, quem foi o mais completo: Schumacher ou Senna?
RESPOSTA – Schumacher.

Reube Reis – Minha pergunta é referente a suas posições políticas (esquerda), da qual compartilho contigo em grande parte, porém acho meio curioso alguém jornalista ligado ao automobilismo sustentar esta posição, acredito que seja um meio aonde playboys, empresários, pessoas em geral deste meio pendem para a direita. Gostaria apenas que me explicasse sua visão do mundo neste tema, e se já teve problemas neste meio em que atua, por sustentar suas convições.
RESPOSTA – Acho que já falei sobre isso, essa história de ter de conviver com pessoas com quem não concordo num meio muito conservador. Tenho alguns perrengues às vezes. Porque sustento minhas posições e não tolero injustiças e sacanagens. Discuto, sim. Bato boca quando me provocam. Mas esse embate ideológico não se dá apenas no meio do automobilismo. Eu diria que, hoje em dia, ele acontece em qualquer ambiente. E tenho tido um pouco de preguiça para debater, porque me sinto pregando no deserto quando a audiência já tem suas ideias pré-concebidas. Não me irrito mais com isso. Me irrito, já disse, é com a burrice endêmica.

Globalização: estabilidade inevitável

Silvio – Li em uma entrevista sua onde afirmou que o Plano Real e a estabilidade da moeda seriam algo que aconteceriam de uma forma ou de outra, independente de quem estaria no governo. Você tem a mesma opinião sobre a distribuição de renda e inclusão social? Porque?
RESPOSTA – Isso é muito claro. Naquele mundo que caminhava de forma muito acelerada para a globalização, que é algo recente (basta lembrar que o euro foi instituído em 1995 e começou a circular como moeda física em 2002), nenhum “player” poderia se dar o luxo de ter inflação alta e moeda instável. E o Brasil, pelo tamanho de sua economia, era e é um “player” global. A economia mundial se encarregaria de estabilizar as coisas. Quanto à segunda parte da pergunta, a resposta é não. Distribuir renda e promover a inclusão social é decisão política, não econômica. A moeda se estabilizou em 1994, mas até 2003 nada foi feito no sentido de reduzir a desigualdade no Brasil. Isso só foi acontecer no governo Lula, como prioridade. A prioridade do governo FHC foi vender o Brasil a preço de banana e financiar os compradores.

Chupez Alonso – O que vc acha do governo Dilma?
RESPOSTA – Já falei que o erro do PT foi se aliar a quem não devia. O governo deveria radicalizar, e não o fez. Taxar grandes fortunas, perseguir sonegadores, investir no social. O primeiro governo Dilma foi razoável, o suficiente para ela se reeleger. O atual tem sete meses. Não dá para avaliar, ainda mais neste cenário golpista ridículo.

Eltontoptec – Qual dos pilotos de F1 ainda na ativa você considera ser o melhor. E por que?
RESPOSTA – São três claramente superiores aos demais: Hamilton, Alonso e Vettel. Fico com o alemão.

Rodrigo Pacheco – De onde surgiu sua paixão por carros soviéticos?
RESPOSTA – Já respondi isso.

Senna: não falar bem, no Brasil, é igual a falar mal

Caina – Olá, Flávio. Gostaria de saber qual seu piloto favorito dessa atual geração e da história da F1. Também gostaria de saber o que você acha da “Igreja Senniânica” que nasceu depois da morte do Ayrton, tenho a impressão que um mero debate de quem é o melhor de todos os tempos é insulto suficiente pros fiéis me condenarem ao fogo eterno. Um abraço.
RESPOSTA – Como dito acima, Vettel me parece o melhor da atualidade. De todos os tempos, Schumacher. Sobre a devoção a Senna, creio que também já respondi. Aqui, basta não colocá-lo no olimpo e ousar compará-lo a outros que, automaticamente, a cegueira leva as pessoas a concluírem que você está “falando mal do nosso Ayrton”. Falar bem do Schumacher é “falar mal do nosso Ayrton”. Falar bem do Piquet é “falar mal do nosso Ayrton”. Dizer que Vettel fez mais do que ele é “falar mal do nosso Ayrton”. Acho essa reverência exagerada. Senna não tinha o monopólio dos bons-modos. Não foi o único piloto dedicado, arrojado, corajoso e espetacular do mundo. Há muitos assim. Ele não era o único a pensar nas criancinhas. Schumacher doou dez milhões de dólares às vítimas do tsunami.

Carlos – Uma coisa que acho interessante é como você se valoriza. Mas como a sua área de atuação vai além de informar, mas também de opinar, imagino que você já tenha errado (ou até mesmo feito algumas cagadas) várias vezes. Tenho, na realidade, três perguntas: (1) Como evoluiu sua capacidade de assumir, publicamente um erro e até mesmo pedir desculpas? (2) Qual foi a última vez que errou e assumiu o erro? (3) Você se lembra de algum fato desse tipo que ocorreu no passado e que perdeu a oportunidade de consertar? Se sim, aproveite o momento. :) As perguntas são restritas à profissão, é claro. Não temos interesses na sua influência perniciosa sobre o pobre Fábio Seixas durante as viagens pelo mundo afora.
RESPOSTA – Não acho que eu me valorizo. Valorizo o trabalho da minha equipe no Grande Prêmio. É diferente. Não me lembro de nenhum texto meu que contenha autoelogios. Se você econtrar, me indique. “O homem que diz ‘sou’/Não é”, “Canto de Ossanha”, Vinicius de Moraes. Procuro proceder assim. Respondendo: 1) Não mudei muito nos últimos 200 anos. Sempre assumi meus erros. E posso te garantir: na profissão, não erro muito. Quase nada. Sou criterioso com o que faço. E quando preciso pedir desculpas, peço. 2) Não lembro. Estou falando de coisas importantes, claro. Quando erro um nome de piloto, ou o ano de uma corrida, corrijo e pronto. Não é nenhum drama. 3) Não lembro.

Newton Barbosa – Por que você não faz mais o Indiana Gomes, já que você gosta tanto de carros antigos? De onde surgiu essa paixão dos DKW e dos Ladas? Um dia você falou que se o automobilismo virtual se tornasse profissional, você se mataria. O que você acha do programa “GT Academy”? E se você pudesse ter apenas um carro pra sempre, qual seria?
RESPOSTA – Indiana Gomes era um quadro do programa “Limite” da ESPN Brasil. O programa acabou, o quadro acabou. Simples assim. Já falei sobre os Ladas. Sobre DKW, a coisa vem da infância. Ganhei dois DKWs da Atma, miniaturas, do meu pai. Isso foi quando fiz dez ou 11 anos. Na mesma época, fizemos uma viagem de carro até Porto Alegre e todo DKW que aparecia meu pai me mostrava, porque ele tinha tido alguns. Fui me apaixonando pelo carro e pela marca. Prometi a mim mesmo que teria esses carros quando “crescesse”. E isso aconteceu. Sobre automobilismo virtual, continuo achando que é brincadeira de adolescente. Guiar bem em simulador não faz de ninguém um piloto. Mas se você pega um cara que gosta de corrida, guia bem em simulador, coloca num carro e ele demonstra algum talento, OK. Mas pode ter certeza que o talento de pilotar conta muito mais do que a habilidade num videogame. Um cara bom de videogame não vai ser necessariamente um bom piloto. Mas um bom piloto pode perfeitamente ser um desastre no videogame. Aliás, acho que a maioria é assim. Lamento informar que a vida real é bem diferente. No mais, esse treco aí é muito mais promocional do que qualquer outra coisa.

Filipe Archer – Com tantas e diversas perguntas, você não vai responder à uma entrevista, você vai escrever sua autobiografia!
RESPOSTA – Não creio.

Galvão Bueno: bom companheiro

Joca – Você é amigo do galvão?
RESPOSTA – A gente se dá bem, mas são raros os encontros. Não tenho relação de amizade propriamente dita. Ele tem a vida dele na Europa, na TV, na fazenda, com os vinhos… Não faço parte desse universo. Fazia mais quando eu viajava para as corridas. Mas Galvão é um ótimo companheiro, nunca tive problema algum com ele.

Fábio Mesquita – Você acha que já deu de Galvão Bueno narrando F1?
RESPOSTA – Quem tem de achar isso é a TV Globo. Eu gosto do trabalho dele, embora diga algumas bobagens – todos dizemos – e seja ufanista demais para meu gosto. Mas é questão de gosto.

Fábio Mesquita – Você acha que houve exagero na sua demissão da ESPN Brasil? Você gosta do estilo de comentaristas da Fox, menos “homogêneo”? Um campeonato com uma disputa entre Senna x Prost é legal para a F1? Ou é mais do mesmo (uma equipe se destaca e seus pilotos disputam o campeonato, enquanto o resto do povo tenta chegar em terceiro). Você pediu demissão depois da cobertura da morte do Senna? Por que? Você (também) acha que essa primeira metade do campeonato de F1 é um saco? Quem é o melhor piloto dos anos 2000 pra cá? Era branco e dourado ou azul e preto?
RESPOSTA – Sim. Sim. Sim, quando os dois pilotos se equivalem. Essa história da minha saída da “Folha” está descrita num texto chamado “Imola, 1994”, que está neste link aqui. Acho que o campeonato está bom, até, com algumas corridas surpreendentes. O que acho que está um saco é o formato da F-1, o regulamento técnico, a coisa dos motores, a limitação de desenvolvimento que impede que uma equipe que começa mal o campeonato tenha alguma chance de melhorar. Schumacher. Azul e preto.

Valadares – Brother, quantas minas você comeu nessas viagens todas e, na sua opinião, qual delas trepa melhor? As russas? Alemãs? Quem sabe, as brasileiras? Qual?
RESPOSTA – Publico a pergunta apenas por obrigação. De retardados como esse, passo longe. Mas confesso que fiquei tentado a responder algo como “onde nasceu sua irmã, mesmo?”.

F-Renault: a última categoria-escola

Filipe Archer – Bom dia Flávio. Cada ano que passa temos menos pilotos brasileiros se destacando no cenário internacional, em especial nos monopostos. Por diversas vezes você abordou o assunto, apontando diversas causas. Uma delas, a falta de investimento na base, principalmente no kartismo. Gostaria que você me dissesse como vê a relação da grande imprensa com essa base. Porque nenhum veículo importante, incluindo o seu blog, acompanha e informa o seu público sobre o kartismo nacional?
RESPOSTA – Não acho que o problema é o kart. Tem bastante investimento no kartismo, rola bastante grana. O que não tem é o passo seguinte. O moleque sai do kart para onde, mesmo? O problema é da base de carros, não kart. O kart vai depurando a molecada. Mas tem hora para acabar. E é preciso ter onde correr depois disso. O automobilismo brasileiro não tem mais categorias-escola, como F-Chevrolet, F-Ford, F-Renault. Esse é o problema.