Observando a conversa, Hamilton deu uma risadinha. “Que foi, oxigenada? Nunca precisou trocar de motor não? Quer que eu troque o óleo?”, falou Nico, de forma meio agressiva. Depois, se voltou para Wolff, ríspido. “O que aconteceu? Quebrou o quê? O que tem aí no estoque pra colocar? Como é que eu vou fazer no treino? E se eu não tiver carro, vou andar de quê”, e antes mesmo que o chefe respondesse, Lewis, dando um lustre no capacete, aproveitou a deixa e cantou quase alto, o suficiente para o companheiro ouvir, “de transporte nóis tá bem, de Hornet ou mil e cem, Kawasaki, tem Bandit, RR tem também”, e isso irritou profundamente o alemão, que partiu para cima do inglês, que por sua vez deixou cair o capacete e saiu correndo para o caminhão, rindo e dizendo “relaxa, é de graça!”, e Rosberg teve de ser contido por Toto, Lauda e Alonso, que passava por ali levando o currículo — foi recebido pelo chefe de cozinha, que perguntou se ele sabia fazer paella.
Com o motor usado em Spa, seis corridas no lombo, Nico não poderia fazer nada contra MC Hamilton na classificação, e é claro que a pole ficou com o líder do campeonato de novo, e ele larga amanhã em Monza como favoritaço absoluto e inconteste, até porque Rosberg, por conta da potência restrita, ficou apenas em quarto no grid. E com esse motor velho, se conseguir chegar na frente da Ferrari já será muito.
Hamilton chegou a 49 poles na carreira, 11ª no ano (em 12 possíveis), sétima seguida — igualando marcas obtidas por Schumacher e Prost, e com mais uma empata com as oito consecutivas de Senna entre o fim da 1988 e o início de 1989. Ao lado dele, na primeira fila, estará Kimi Raikkonen, quem diria! Desde abril de 2013 ele não largava na primeira fila — na ocasião, de Lotus, foi segundo no grid em Xangai. Com o macacão vermelho da Ferrari, a última vez fora em 2009 em Mônaco. Numa longa entrevista depois da classificação, cuja íntegra está no parágrafo abaixo (perdão pelo tamanho do texto, mas nesses casos cada palavra é importante), o finlandês falou sobre o resultado.
“Surpreendente.”
A Ferrari, para alegria da italianada, ficou também em terceiro, com Vettel. Se existe alguma chance de surpresa nessa corrida, ela virá de um dos carros vermelhos. Uma má largada de Hamilton, por exemplo, pode ser fatal. Como é prova de apenas um pit stop, nenhuma grande estrepolia deve ser esperada em termos estratégicos. Chuva? Pode ser. Hoje choveu, bem cedo, mas depois parou. Quem sabe. Chuva em Monza é bem divertido.
A classificação aconteceu até com um solzinho tímido, e tomei um susto quando, na TV, vi Barrichello nos boxes da Ferrari. Segundo consta, ele soube que Raikkonen ainda não tinha renovado seu contrato e veio correndo. Chegou com alguns dias de atraso, avisaram que sim, Kimi já tinha renovado, e então Rubens comentou que nesse caso teria de conversar com o presidente Luca di Montezemolo, e então lhe informaram que Luca já não era mais o presidente, e ao brasileiro restou resmungar com um mecânico conhecido “o que o Ross viu nesse alemãozinho aí?”, e quando o mecânico ameaçou responder, Rubens o interrompeu: “Ah, tá bom, vai me dizer também que o Ross foi embora? Vocês estão de brincadeira comigo. Jean, onde está você, vou pro seu escritório!”, falou em alto e bom som mesmo sem saber se Jean estava por ali, virou as costas e foi embora.
[bannergoogle] Não perdeu muita coisa, porque o Q1 foi absolutamente standard, rodando, pela ordem, Button (a 1s8 de Hamilton, que foi o mais rápido, com pneus médios, 1min24s251, 0s358 à frente de Rosberg), Alonso, Stevens, Merhi e Verstappinho, que teve a carenagem de seu motor voando pelos ares como se fosse uma folha de papel. As duplas da McLaren, da Toro Rosso e da Red Bull, por conta de trocas de motores, MGUs, NHKs, PQPs, meias, luvas, cuecas, óculos de sol, marca de cera para polimento, operadora de celular e parece que até de sexo, num caso isolado, foram punidas com 800 posições no grid acumuladas e terão de usar a pista antiga e as curvas sopraelevate.
A direção de prova ainda deve estar montando o grid, por isso deste relato constam apenas os resultados de cada parte da classificação (não estou brincando, no release da Red Bull Kvyat diz que não sabe em que posição vai largar). No Q2 foi registrada a melhor volta do dia, melhor até que o tempo da pole: 1min23s383, de MC Amilton. Rosberguinho ficou 0s7 atrás. Foram tungados do Q3 Maldanado, Felipe II, Sainz Idade, K-Vyado e Ricardão — que nem fez tempo. Sonyericsson passou, mas também foi punido e terá de largar mais atrás. Ele atrapalhou Hülkenberg numa volta no início do treino. Já no Q2 a Ferrari se colocou, com os dois carros à frente de Rosberg. Estava dada a letra: com o motor usado por Fangio, Nico não teria como lutar por nada muito significativo no Q3.
E foi um Q3 dos mais fajutos. Lewis fez 1min23s397 e ninguém chegou perto. Na sua segunda tentativa, nem melhorou o tempo. Rosberguinho, sem ter como alcançar Kimi e Vettel, segundo e terceiro, ainda salvou o quarto lugar na sua segunda volta, desbancando Massacrado — que já estava comemorando a segunda fila e ficou em quinto. Fecharam o treino, pela ordem, Sapattos, Maria do Bairro (a Force India seria forte em Monza por causa dos motores, todos sabiam), Grojã (tem ido muito bem, o menino), Hulk (que quebrou depois da primeira volta rápida) e Sonyericsson (que despencou para 13º pela treta com o alemão forceíndico).
Monza é uma pista velocíssima (sacaram?). Hoje, Pérez foi flagrado a 354,4 km/h no fim da reta. Merhi, o mais lento, passou a 329,7 km/h no mesmo ponto. Falar que um cara que acelera a 330 km/h foi o “mais lento” parece até sacanagem. Mas 25 km/h a menos é dose, coitado. Essa é a lógica do GP da Itália desde sempre. Tira asa, enfia o pé no acelerador e quem tiver mais motor e colhões leva.
Lewis leva, e amanhã deve bater nas 40 vitórias na carreira, uma marca e tanto.