Blog do Flavio Gomes
F-1

VELOCISSIMO (4)

SÃO PAULO (demorou, mas saiu) – Só duas horas e meia depois de receber a quadriculada que MC Hamilton pôde, enfim, cantarolar. “Deixa eles falar enquanto nóis tá festejando, eu posso parar, mas não paro, nem to parando nessa vida louca”, e com seus cabelos oxigenados guardou o troféu do GP da Itália, olhou no […]

veglia0005SÃO PAULO (demorou, mas saiu) – Só duas horas e meia depois de receber a quadriculada que MC Hamilton pôde, enfim, cantarolar. “Deixa eles falar enquanto nóis tá festejando, eu posso parar, mas não paro, nem to parando nessa vida louca”, e com seus cabelos oxigenados guardou o troféu do GP da Itália, olhou no espelho e disse: “Quarenta, negão”.

Quarenta vitórias. A de hoje ficou sub-júdice até as 17h48 locais, porque às 15h04 a Mercedes recebeu a informação da direção de prova de que havia um probleminha nos pneus de Hamilton e Rosberg. A pressão foi medida no grid (dos carros da Ferrari também) e os pneus traseiros esquerdos dos dois mercêdicos estavam abaixo das 19,5 libras que a Pirelli estabeleceu como valor mínimo, por questão de segurança. Lewis tinha o pneu 0,3 PSI abaixo. Nico, 1,1.

A equipe entrou no rádio imediatamente. Comandante Amilton liderava a corrida com folga. Faltavam apenas cinco voltas. “Lewis, acelera a bagaça aí. A gente explica no final, não pergunta nada”, disse o engenheiro do inglês. A vantagem dele para Vettel, o segundo colocado, era de 23s573. Lewis não falou nada e acelerou. “O que eu faço agora?”, perguntou, depois de uma sequência de voltas boas. “Nada, continua acelerando”, ouviu.

A Mercedes, informada da investigação sobre a irregularidade, imaginou que uma punição possível seria acrescentar 25s ao tempo total de prova de Hamilton. Mandou pisar fundo para abrir mais do que isso em relação ao segundo colocado. Lewis cruzou a linha 25s042 à frente de Tião Italiano. Sem saber direito o que estava acontecendo. Por 0s042, caso tivesse de pagar 25s, ganharia a corrida.

Mas tal esforço acabou sendo desnecessário. Os comissários discutiram a questão em detalhes por horas, ouviram todas as partes e analisaram toneladas de dados até emitir o veredito. Os pneus estavam com a pressão correta quando foram montados no carro de Hamilton — já não falavam mais de Rosberguinho, porque o pobre alemão abandonara a duas voltas do final com seu velho motor estourado, quando estava em terceiro. Só que os cobertores térmicos foram desconectados antes do que deveriam, no grid, e quando os fiscais mediram a pressão, a temperatura da borracha era bem menor do que em outros carros. Quando a temperatura baixa, a pressão do ar cai também. Os comissários consideraram que a Mercedes seguiu as recomendações de segurança da Pirelli. E sugeriram que, para que tais episódios não se repitam, medições e manuseio dos pneus obedeçam a protocolos mais claros.

Logo depois da corrida, houve até bate-boca (a distância, é verdade) entre Hamilton e Paul Hembrey, o homem da Pirelli. “Se estabelecemos um valor mínimo, há uma razão para isso. No fim das contas, trata-se, sim, de obter alguma vantagem“, disse o dirigente. “Sabíamos que seria uma corrida de apenas uma parada. Seriam muitas voltas com um só jogo de pneus. Por isso, todos têm de seguir os planos que fornecemos.” Lewis rebateu: “A gente trabalha no limite. Se é 20, a gente tenta usar 20,0001. F-1 é assim. Não ganhei hoje por causa desse 0,3 PSI nos meus pneus, mas porque fomos mais rápidos”.

Palavras ao vento, serão esquecidas, porque afinal tudo se resolveu. E ainda bem que a vitória foi mantida, porque MC Lewis mereceu amplamente. Foi o mais rápido em todos os treinos, largou bem, da pole, e desapareceu do resto.

O GP da Itália começou com um susto no grid. Kimi Dera Fosse Tudo Automático, segundo no grid, empacou e todo mundo passou por ele. Felizmente, nenhum por cima. “Ele se atrapalhou com os dedos”, explicou Maurizio Arrivabene, o chefe. O finlandês caiu para último. Mas na quarta volta já estava em 11º. Na sexta, em nono. Depois, demorou um pouco mais para escalar o pelotão. Foi assumir o oitavo lugar só na 32ª volta, ao passar Sonyericsson, e o sétimo, na volta seguinte — atropelando Hülkenberg. Na volta 50, superou Pérez. Com a quebra de Rosberguinho, terminou em quinto. Uma performance digna. Mas chegaria ao pódio, se não tivesse se embananado na largada.

Em longa entrevista, que reproduzimos na íntegra abaixo — já pedindo desculpas pelo inconveniente, porque ninguém tem tempo para textos muitos longos –, Raikkonen explicou tudo.

“Fiz  o que sempre faço.”

A primeira volta da prova de Monza tirou de combate a dupla da Lotus. Grojã quebrou e Maldanado foi tocado por Felipe II. Como o grid acabou de ser montado apenas pela manhã, porque a direção de prova precisava alocar 168 posições perdidas por punições, alguns pilotos que foram muito mal nos treinos largaram no meio da galera, como a dupla da McLaren. Isso fez com que Button, por exemplo, fechasse a primeira volta num espantoso décimo lugar.

[bannergoogle] Rosberguinho, que largou mal, caiu de quarto para sexto na primeira volta. Foi se virando, até chegar em Sapattos na volta 14, lutando pelo quinto lugar. À frente deles estavam, pela ordem, Hamilton, Tião Italiano e Massacrado, que largou muito bem de novo. Na volta 19, Nico teve uma boa ideia. Como não passava Bottas na pista, foi para os boxes. Trocou os pneus e encaçapou uma volta muito boa, tão boa que Massa, que parou na volta seguinte, perdeu a posição para ele. Bottas, que fez sua troca na 23ª, também voltou atrás. Na TV, o narrador que só fala do “Filipe” e do “Filipinho” especulou que a parada de Massa tinha sido muito ruim, um desastre, e que por isso ele voltou atrás de Rosberg. Dados: a parada de “Filipe” durou 25s207, contra 24s657 de Nico — da entrada à saída dos boxes. A diferença de 0s550 não foi o que  determinou a perda da posição. Foi o alemão que acelerou direito.

Vettel trocou os pneus na volta 26. Hamilton, na 27. A corrida se acomodou. Rosberg chegou a se aproximar de Tião Italiano, 3s na volta 44, mas não deu em nada. Quem se esfolava mesmo era Raikkonen, com boas ultrapassagens e um grande esforço para recuperar-se da cagada inicial. As derradeiras emoções ficaram para a Williams. Bottas chegou em Massa no momento em que o motor de Rosberguinho ia para os ares, garantindo de vez o segundo lugar de Sebastian. Felipe resistiu bravamente ao assédio do companheiro e conseguiu um pódio merecidíssimo. Brincou com a equipe, ao final da prova: “Estou muito velho para essas coisas”, disse.

Pódio bonito, como sempre em Monza, com dois pilotos queridíssimos dos italianos — Vettel, que na Red Bull era vaiado pelos ferraristas, e Massa, pelos anos de vermelho — e um terceiro que está em estado de graça. Hamilton vai empatar com Senna no número de vitórias. Falta apenas uma. Será um momento emocionante, pois ele sempre colocou o brasileiro no topo de sua lista de ídolos. Depois do trio, fecharam a zona de pontos Bottas, Raikkonen, Pérez, Hülkenberg (bem, a Force India), Ricciardo, Ericsson (outro que vem mostrando serviço) e Kvyat.

Na classificação, Hamilton deu um salto enorme. Foi a 252 pontos, contra 199 de Rosberg. A diferença foi de 28 para 53 pontos. Se Nico tivesse terminado em terceiro, seriam 38. Vettel tem 178, se aproximando (será um vexame enorme, se Rosberg não ficar com o vice), e Massa saltou para quarto, uma ótima posição, com 97 pontos. Deixou para trás Raikkonen (92) e Bottas (91).

O campeonato acabou? Desconfio que sim. No que se refere, claro, ao título. Mas as corridas, com uma exceção ou outra, têm tido bom nível, embora sejam previsíveis lá na frente. Pena que a fase europeia acabou. Não tem nada como uma pista na Europa, com público de verdade, história e tradição. De bom, nesta fase final da temporada, Suzuka, Interlagos e México. Estou doido para ver o Hermanos Rodriguez cheio de loucos, apesar de a Peraltada não existir mais.