Blog do Flavio Gomes
Automobilismo brasileiro

COM O MESTRE

SÃO PAULO (só nas arábias) – Aí que ontem a noite a namorada e sua trupe resolvem fazer quibe em casa, toca o telefone e é o Crispim, e minha namorada é absolutamente apaixonada pelo Crispim, e aí eu digo, Crispim, estão fazendo quibe aqui em casa, quer vir?, e ele pega o carro e […]

crispaSÃO PAULO (só nas arábias) – Aí que ontem a noite a namorada e sua trupe resolvem fazer quibe em casa, toca o telefone e é o Crispim, e minha namorada é absolutamente apaixonada pelo Crispim, e aí eu digo, Crispim, estão fazendo quibe aqui em casa, quer vir?, e ele pega o carro e vem, come os quibes e nos alimenta com sua sabedoria e suas histórias.

Cada história… Só para dar uma invejinha, vamos ver se lembro o que ele contou.

– Mil Milhas de 1966, detalhes inéditos da participação de Emerson e Jan Balder com o Malzoni da Equipe Brasil, cinco carros ex-Vemag chefiados por ele, Crispim. Camilão ganhou, mas a turma dos dois tempos veio na cola e fechou o pódio.

(A história dessa corrida, a mais espetacular de todos os tempos, é relatada aqui com apenas uma imprecisão: o carro não voltou a funcionar “limpinho” no dia seguinte. Aqui o Crispim explica exatamente o que aconteceu, tirando aquela que seria uma vitória épica de um carrinho dois tempos, três cilindros, 1.000 cc, pilotado por uma dupla que ainda nem tinha barba na cara. O carro, inclusive, ainda existe e é de um grande amigo meu. A Audi fez matéria com ele.)

– Piquet e suas aventuras na Super-Vê, que incluem uma invasão aos boxes da equipe rival, chefiada pelo Crispim, entrando pelo telhado para copiar a giclagem do carburador do mestre.

– O encontro com Wilsinho Fittipaldi num boteco da rua Ana Cintra, no Centro, no começo dos anos 70, para convidá-lo para trabalhar na Copersucar. No relato, uma discussão aerodinâmica que deixaria Adrian Newey de queixo caído.

– Os 17 motores que a Vemag estourou na Rodovia do Café.

– A morte de Cacaio em Petrópolis.

– As largadas “Le Mans” em Interlagos, com o óleo dos DKWs decantando com os carros parados. “Em 66, soltei o último carro quando o primeiro colocado estava fechando a primeira volta.”

– O convite de Pace para ver o Brabham-Alfa Romeo de perto numa noite em Interlagos.

– A generosidade de Piquet ao levar a ele dois comandos de motor VW que ele usava, e virava muito, e dizer: “Escolhe um, porque se eu tiver de perder para alguém, que seja para você”.

– E a cereja do bolo. Numa corrida em Brasília, a pilotada toda dormindo na casa de Piquet, Crispim passa mal no jantar e no dia seguinte o pai de Nelson, médico, ex-ministro da Saúde de Jango, que nunca ia a um autódromo, aparece vestido no café da manhã, de chapéu e tudo. “Onde vai, pai?”, pergunta Nelson. “Ao autódromo.” “Mas você nunca vê corrida!”, respondeu o filho, espantado. “É que o Crispim passou mal à noite. Vou ficar lá caso ele precise de alguma coisa.” Crispim, sempre que encontra Piquet, diz a ele que seu pai nunca foi a autódromo nenhum vê-lo correr. “A única vez que foi, foi para cuidar de mim.”

Noite memorável.