Blog do Flavio Gomes
Imprensa

FARO, 88

SÃO PAULO – Fernando Faro morreu ontem de madrugada aos 88 anos. Vi Faro, o Baixo, uma única vez. Ele era diretor do MIS e por alguma razão o programa que eu apresentava na rádio foi transmitido de lá. Algum evento, não lembro. Lá pelas tantas mo trouxeram para uma rápida entrevista. Fiquei tão idiotizado com […]

SÃO PAULO – Fernando Faro morreu ontem de madrugada aos 88 anos.

Vi Faro, o Baixo, uma única vez. Ele era diretor do MIS e por alguma razão o programa que eu apresentava na rádio foi transmitido de lá. Algum evento, não lembro. Lá pelas tantas mo trouxeram para uma rápida entrevista. Fiquei tão idiotizado com sua presença que a única coisa que me ocorreu dizer a ele antes da primeira pergunta foi “finalmente alguém do meu tamanho”. Ele apenas sorriu um sorriso entre triste e cansado, e se sentou à mesinha montada à guisa de estúdio. Eu estava diante de uma lenda e sabia disso, daí a idiotia. Foi em 1996.

Faro criou “Ensaio”, na TV Tupi, em 1969. Ficou no ar até 1971, mudou de nome para “MPB Especial” entre 1972 e 1975 e, a partir de 1990, retomou o título original na Cultura.

“Ensaio” era brilhante. Entrevistava cantores e cantoras brasileiros sem que o entrevistador fosse visto e sua voz, ouvida. Na pergunta, silêncio. Faro, que perguntava, não tinha microfone. Nem rosto. E enquanto a pergunta era feita, “close” no entrevistado. Câmera quase sempre fechada no rosto ou nas mãos do entrevistado. A luz, misteriosa e espetacular. Os operadores de câmera, artistas. E entre perguntas, silêncios, rostos e mãos, música. Com luz diferente. Um negócio fenomenal.

Quando, no jornalismo, dizemos que o entrevistador não pode aparecer mais que o entrevistado, é ao programa criado por Fernando Faro que nos referimos — a máxima levada ao extremo e, por isso, executada com perfeição.

Graças a esse formato, as melhores entrevistas já feitas com as estrelas da música brasileira foram ao ar no “Ensaio”.

Se você nunca viu, veja. São centenas — 640, para ser preciso. Abaixo, apenas uma. Tim Maia, em 1992.

(“Gostava tanto de você”, aos 42min46s, e “Um dia de domingo”, na sequência, têm interpretações épicas nesse vídeo — com a inestimável contribuição dos meninos da Vitória Régia, a banda musicalmente mais precisa e talentosa que já se escutou no mundo.)

Incrível como o Brasil era melhor.