Blog do Flavio Gomes
F-1

DANS LA RUE (2)

SÃO PAULO (sei) – “Sábado tem pole da Mercedes”, escreveu o sabichão aqui quinta-feira. Ô. Bom, não teve. O que teve foi uma volta anormal de Ricardão, para cravar 1min13s622 e fazer a primeira pole-position de sua carreira. Sim, primeira. Até então, tinha quatro segundos lugares em grid — Austrália e China em 2014, Cingapura […]

danslerue2SÃO PAULO (sei) – “Sábado tem pole da Mercedes”, escreveu o sabichão aqui quinta-feira.

Ô.

Bom, não teve. O que teve foi uma volta anormal de Ricardão, para cravar 1min13s622 e fazer a primeira pole-position de sua carreira. Sim, primeira. Até então, tinha quatro segundos lugares em grid — Austrália e China em 2014, Cingapura em 2015 e China de novo, neste ano.

Abrir a lista de poles com Mônaco é bom para qualquer um. Não só porque demonstra um talento acima da média — mais ainda quando se bate uma equipe tão dominante como a Mercedes –, mas porque coloca qualquer piloto na condição de candidato à vitória no Principado.

Ricciardo é favorito?

Olha, é corrida para apenas uma parada. Assim, estratégia de pit stops não é algo que será decisivo. Pode ser, apenas, no caso de um safety-car — o que não é raro em Monte Carlo. Aí, tudo passa a ser uma questão de sorte. Dependendo do lugar da pista em que o piloto estiver na hora em que alguém der uma panca, dá até para receber uma vitória no colo. Mas em condições normais de temperatura e pressão, numa prova sem surpresas ou intempéries, sim, é favorito. O pole sempre é favorito em Mônaco. O problema para o australiano é que pode chover. Se isso acontecer, pode-se esperar qualquer coisa do domingo nas ruas chiques da Côte D’Azur. Aliás, chuva é a torcida de Hamilton.

E o que aconteceu com a Mercedes, afinal de contas?

Não aconteceu nada de muito especial. OK, aconteceu para Hamilton, que na hora em que ia para a pista no Q3 chamou a equipe pelo rádio. “Tem alguma coisa estranha aqui”, avisou. Os mecas foram correndo até a saída do pitlane e trouxeram o carro de volta, numa longa jornada — a garagem da Mercedes é a primeira, na outra extremidade dos boxes. Mexeram sabe-se lá em quê, até que devolveram o inglês à pista quando faltavam 6min30s para o fim da prática.

No início, Comandante Amilton deu a impressão de que estava andando apenas com três cilindros. Preparou sua tentativa única com zelo e cautela, lento que dava dó, até acelerar de verdade para fazer um tempo 0s320 pior que o do australiano cheio de dentes. Nas condições, até que não foi ruim. Larga em terceiro. Entre ele e Ricciardo, Rosberguinho. O líder do Mundial virou 0s169 mais lento que o canguru rubro-taurino. E olha que se esforçou. Mas não deu.

[bannergoogle]A volta de Ricciardo foi realmente especial. O chassi da Red Bull, é sabido, é muito bom. O motor Renau…, digo, TAG Heuer, calibrado com carinho por Mario Illien, não decepcionou e nem é tão decisivo assim em pistas como Mônaco. Junte-se a isso um piloto muito bom, e é a chance que pinga para bater um time hegemônico.

A Mercedes vinha enfileirando poles desde o GP de Cingapura do ano passado, onde Vettel largou na frente. Eram 11 seguidas. Desde o início de 2014, quando começou a era prateada na F-1, foram 41 poles em 44 corridas. Além dessa de Tião Italiano em 2015, a lista de poles não-Mercedes teve uma de Massa na Áustria em 2014 e a de hoje do sorridente marsupial. Já a Red Bull não partia da ponta desde 2013.

Isso dá bem a medida da proeza de Ricciardo, embora seja importante ponderar que nem sempre vai acontecer. Em circuitos, digamos, “normais”, as coisas voltam ao… normal, ué!

Mas dane-se, o que vale é Mônaco amanhã, e vai ser interessantíssimo acompanhar a epopeia de Ricardão atrás de uma vitória improvável, com os carros da Mercedes em seu cangote. Isso se os caras não se enroscarem na largada, indo parar no fundo do mar. Veremos. E é importante lembrar que Ricciardo larga com pneus supermacios, e não os ultramacios com os quais fez o tempo da pole. Isso porque sua melhor volta no Q2 foi feita com o “supersoft”, numa aposta difícil de concretizar, mas que ele conseguiu. Era difícil andar mais rápido com o “SS” do que com o “U”. Deu certo, o que permitirá a ele esticar o primeiro “stint” e fazer a última parte da prova com os pneus mais velozes. Muito espertinha, a Red Bull.

O top 10 monegasco teve, atrás do trio Ricciardo/Rosberg/Hamilton, um enfezado Vettel em quarto, a 0s930 do pole. Pelo rádio, o alemão xingou até a última geração de Remo e Rômulo. Raikkonen, o outro ferrarista, fez o sexto tempo, mas larga em 11º porque trocou o câmbio e perdeu cinco posições no grid. Hulk larga em quinto, num ótimo final de semana da Force India — que antes só andava em pista rápida, e agora está tudo ao contrário –, com Sainz Idade em sexto, Maria do Bairro em sétimo (olha os force-índicos aí de novo), K-Vyado em oitavo e El Fodón de La Clasificiación em nono. Bottas, o primeiro dos eliminados no Q2, herdou o décimo posto de Kimi.

[bannergoogle]E cadê Verstappinho, a grande sensação do Parque da Xuxa?

Putz, o moleque deu uma espanada e tanto no Q1. Na sua primeira tentativa de volta rápida, na última chicane antes da Rascasse, pegou o guard-rail do lado direito, quebrou a barra de direção, o carro ficou troncho, saltou na segunda zebra e deu na parede. Foi a segunda bandeira vermelha da primeira parte do treino — antes, logo que saiu dos boxes, Felipe II explodiu o motor e a sessão teve de ser paralisada.

Pena que as câmeras não mostraram a cara de Kvyat na hora em que Max se estatelou. Em russo, ele deve ter mandado um “chupa!” com a boca cheia. Até porque terminou o Q1 em sétimo. Vettel ficou com a primeira colocação. Dançaram Sonyericsson, Palmer (cadê o apelido desse cara?), Haryanta, Wê Lá Hein? e os dois já citados que pararam no meio do caminho por conta de seus infortúnios.

No Q2, a briga para escapar da degola seria equilibrada entre a turma do segundo pelotão. Lá na frente, Hamilton cravou um convincente 1min14s056, que só seria batido no finalzinho por Rosberg, 1min14s043. Ricciardo, com seus supermacios, ficou a 0s301 do britânico. O vexame ficou por conta da Williams, que não consegue andar nadica de nada em pistas lentas. Sapattos foi o primeiro degolado, seguido por Gutierros, Bonittón, Massacrado, Grojã e Magnólia Arrependida. Sim, vocês estão certos: Alonso passou de novo para o Q3! Avançaram, pois, as duplas de Toro Rosso, Mercedes, Ferrari e Force India, e os avulsos de McLaren e Red Bull.

Aí foi aquilo que já contei, Ricardão estourando a banca para animar a festa. O mundo dá voltas, mesmo. Há duas semanas, o cara voltou para casa macambúzio com a vitória do fedelho que acabara de chegar no pedaço. Hoje, subiu o elevador de seu prédio — ele mora ali do lado — expondo a arcada dentária alvíssima para quem o encontrasse pelo caminho. Enquanto isso, o menino imberbe engolia o choro.

É assim que são as coisas.