Blog do Flavio Gomes
F-1

COM CANA DÁ (3)

SÃO PAULO (mundo besta) – Lewis Hamilton é um cara diferente porque é capaz, depois de vencer uma corrida de Fórmula 1, de citar Muhammad Ali. O maior boxeador de todos os tempos dizia que flutuava como uma borboleta e picava como uma abelha. A frase foi repetida por Lewis assim que ele recebeu a quadriculada em […]

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SÃO PAULO (mundo besta) – Lewis Hamilton é um cara diferente porque é capaz, depois de vencer uma corrida de Fórmula 1, de citar Muhammad Ali. O maior boxeador de todos os tempos dizia que flutuava como uma borboleta e picava como uma abelha. A frase foi repetida por Lewis assim que ele recebeu a quadriculada em Montreal, para vencer o GP do Canadá pela quinta vez — foi sua segunda vitória no ano e 45ª na carreira.

Quando saiu do carro, bailou como fazia o pugilista, que morreu na semana passada aos 74 anos. Homenagem bonita e justa, num meio que não costuma olhar para o mundo exterior.

Foi bonito, porque mais do que um esportista, Ali era um ativista incansável pelos direitos das minorias. Negro como Hamilton, se recusou a lutar no Vietnã “porque lá ninguém me chama de crioulo”.

[bannergoogle]Lewis picou antes de bailar hoje em Montreal, e quem levou a ferroada foi seu companheiro Nico Rosberg, logo na largada. Antes, Vettel partira como um raio para assumir a ponta, e na primeira curva os dois pilotos da Mercedes foram para a dividida. Hamilton, como fizera Rosberg na Espanha, diminuiu o espaço. Aqui não, violão. Se lá não culpei o alemão, aqui não culparei o inglês. Nico-Nico no Fubá viu a chance, tentou. Ao ser apertado, as rodas se tocaram e ele foi para a grama, retornando ao leito da pista em décimo lugar. Um prejuízo que seria muito difícil de recuperar.

E nisso Tião Italiano se mandou todo faceiro na ponta, dando a impressão de que a Ferrari — ufa! — poderia ganhar uma corridinha neste ano. Afinal, o GP canadense não é dos mais complicados em estratégia. Na dúvida, é só fazer um único pit stop. Caso seja necessário trocar os pneus mais de uma vez, que se espere um safety-car, que quase sempre tem.

Bem, não teve. Teve um virtual na volta 11, quando Button parou o carro quebrado no acostamento. E Vettel, líder com pneus ultramacios como quase todos, foi para os boxes. E colocou os supermacios.

Ué. Parou na volta 12 e colocou supermacios, não há outra hipótese. Vai parar de novo. Mas… Dois pit stops em Montreal com a pista sequinha? Pra quê, exatamente?

“Superestimamos a degradação da borracha”, disse depois da prova Maurizio Arrivabene, o capo do time italiano. “Nós o chamamos e esta foi uma decisão errada.”

[bannergoogle]Oh, não diga. Raikkonen também veio, mostrando que não basta ser burro uma única vez. É preciso ser em dobro. Vettel voltou em quarto, a 11s do agora novo líder Hamilton. O inglês teria de fazer uma parada, claro. O alemão, mais uma. Como tirar 11s em Montreal?

Essa resposta a Ferrari não tinha, e não teria até o final. Sebastian tinha um bom ritmo e na volta 17, com uma boa ultrapassagem sobre Ricardão, pulou para terceiro. Logo depois, foi para cima de Verstappinho, que ciscava lá na frente depois de uma ótima largada. Assumiu o segundo lugar. A diferença para Hamilton? 10s3. Pois é. Como tirar 10s3 em Montreal?

Rosberguinho, enquanto isso, se esfolava lá atrás para buscar o que perdera na largada. Estava em sétimo quando a turma da parada única começou a se preparar para trocar de pneus, na volta 20. E foi assim: Verstappinho na 21, Ricardão e Nico na 22. Hamilton? Na 25ª, depois que Vettel deu uma aproximada perigosa, reduzindo a diferença para 5s7 por conta de um erro do inglês.

Lewis voltou em segundo, atrás de Tião Italiano. A diferença era de 13s. E não se alterou demais até a volta 38, quando o ferrarista foi para sua mais que previsível segunda parada — aí sim, colocando pneus macios, como todos os outros. Uma volta antes, Massa abandonara com o motor fervendo (sim, eu sei que motor não ferve). Pela primeira vez no ano, deixou de pontuar.

Vettel voltou obviamente em segundo, coisa de 7s atrás de Hamilton. Como tirar 7s em Montreal?

Não era uma boa corrida. As disputas um pouco mais atrás eram limitadas pela falta de alegria e ousadia dos envolvidos. Ninguém tentava nada muito maluco. Rosberg, por exemplo, não conseguia ameaçar Bottas na briga pelo quarto lugar. O finlandês, de motor Mercedes, conseguia manter o alemão a uma distância segura nas grandes retas, sem ser incomodado. Verstappinho foi um que tentou algo. Ao perceber que ficava sem pneus, abriu mão do terceiro lugar para garantir uma parte final da corrida mais segura. Colocou ultramacios e foi à luta, voltando em quinto. Sapattos achou o máximo. O trofeuzinho de terceiro ficaria para ele.

Na volta 52, Rosberg teve de ir aos boxes de novo. O pneu traseiro direito perdia pressão e a Mercedes o chamou para uma nova troca. Voltou em sétimo. Oh, céus, oh, vida. Bem, pode-se dizer o que quiser de Nico-Nico, mas ele não se rendeu à desgraça, passou Ricardão na volta 55, foi para cima de Raikkonen na 58 e partiu para cima do fedelho da Red Bull.

Lá na frente, não me esqueci, não, Hamilton seguia vendo Vettel no retrovisor a uma distância quase intransponível. Só se errasse feio. Mas quem errava tentando chegar era Sebastian. Assim…

[bannergoogle]Voltemos a Rosberguinho. Chegou no jovem Max e na primeira tentativa, na volta 64, o holandês deu a ele o lado de fora da tomada para a última chicane, na freada mais forte do circuito. Macho. Para fazer isso, é preciso jogar o carro no lado sujo da pista. Ele jogou, e segurou a onda. Na volta seguinte, repeteco. Max por dentro, Nico por fora, necas. Rosberg tirou o pé. Só na última volta, a 70, tentaria de novo. Mesmo roteiro. Desta vez, porém, passou. Mas passou freando tão no “deus-me-livre” que rodou. Verstappinho, todo pimpão, contornou a chicane e recebeu a bandeirada em quarto, quando Hamilton, Vettel e Bottas, cada um à sua maneira, já comemoravam o pódio. Rosberg ainda segurou o quinto lugar, seguido por Raikkonen, Ricciardo, Hülkenberg, Sainz Jr. e Pérez para fechar a zona de pontos.

Foi nessa hora que Lewis citou Ali. Depois, bailou como o ídolo.

No pódio, eu achava que Vettel estaria com cara de quem comeu chucrute gelado. Que nada, estava satisfeito, até. Embora a Ferrari tenha assumido um erro, talvez o próprio Sebastian tivesse a percepção de que com uma única parada seria impossível manter um ritmo bom o bastante para segurar a Mercedes. Nunca saberemos como seria se ele tivesse feito um único pit stop. Mas sua feição não era a de quem tinha sido vítima de um equívoco monumental de seu time.

Rosberg segue na liderança do Mundial. Mas a diferença só cai. São nove pontos, apenas. Nas últimas três corridas, tudo deu errado para ele. Vai voltar a dar certo?

Veremos domingo que vem em Baku.

Bá o quê?