Blog do Flavio Gomes
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MAHAR GUIOU MEU CARRO

SÃO PAULO – Foi em Caxambu, em 2012. Ele já não andava muito bem das pernas (sorry, Mestre, perdi o amigo, então que se foda, não perco a piada), mas fez questão de dirigir o DKW mais esquisito que já vira. Claro que sabia que não era um DKW. Ele sabia tudo. Apenas pediu para […]

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SÃO PAULO – Foi em Caxambu, em 2012. Ele já não andava muito bem das pernas (sorry, Mestre, perdi o amigo, então que se foda, não perco a piada), mas fez questão de dirigir o DKW mais esquisito que já vira.

Claro que sabia que não era um DKW. Ele sabia tudo. Apenas pediu para afastar o banco um pouco. O câmbio no chão. Essa relação de marchas é melhor que qualquer uma que o Jorge Lettry imaginou, disse, logo de cara. O que restou de seu pé esquerdo na embreagem. Tá dando?, perguntei. Quando eu não puder dirigir, me mato, respondeu.

A direção segura e precisa, mesmo com todas as dificuldades. Mesmo com todas as dificuldades, ele guiou o DKW da Alemanha Oriental, dele se enamorou e aproveitou para ministrar a breve aula do dia. Isso aqui foi feito em Eisenach, contou, e nesse castelo de merda Lutero traduziu a Bíblia, que em alemão é incompreensível. Onde é a roda-livre?

E eu só conseguia escutar e rir. E mostrei onde era a roda-livre.

Contador de histórias e conhecedor da História, era o cara que mais entendia de automóveis no universo. E de motos e aviões. E do Rio. Puta que pariu, como ele gostava do Rio, como ele ERA o Rio! E não tinha caso que não terminasse com uma piada, uma sutileza, uma sacanagem. Para nos coalhar de encantamento e sabedoria.

O Mestre tinha lá suas preferências. O Mahalet e a Mahavan, seus dois filhotes queridos da marca da gravatinha. E os DKWs, paixão nada secreta — porque foi a mais de um dos nossos encontros embebedar-se da fumaça azul. E as Alfas. E como presidente vitalício da ACHUBERJ e da ACHUCURJ, todas as mulheres do mundo — inclusive Demi Moore.

Ele bebia, fumava, trepava, comia, amava, namorava, acelerava, tudo em quantidades industriais, e se a vida lhe cobraria um preço, às favas com a vida.

Às favas com a vida, meu mestre Mahar.