Blog do Flavio Gomes
F-1

ADEUS, SAUBER

SÃO PAULO (fez muito) – Estranho dizer “tchau” no dia em que, na verdade, a Sauber garantiu sua sobrevivência dando “hello” a um grupo financeiro suíço que assumiu o controle da equipe de Hinwil. Longbow Finance é a empresa que salvou o time da extinção. Não tenho a menor ideia de quem se trata. Grupos financeiros […]

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SÃO PAULO (fez muito) – Estranho dizer “tchau” no dia em que, na verdade, a Sauber garantiu sua sobrevivência dando “hello” a um grupo financeiro suíço que assumiu o controle da equipe de Hinwil. Longbow Finance é a empresa que salvou o time da extinção. Não tenho a menor ideia de quem se trata. Grupos financeiros não são propriamente novidade na F-1. Outro dia mesmo um deles comprou a Renault, transformou-a e Lotus, deu certo por um tempo, depois caíram fora. Genii, lembram? Coisa recente. A Renault pegou de volta.

Esses conglomerados de gente engravatada que vive de mexer com o dinheiro dos outros nada têm a ver com o esporte e nele enxergam uma possibilidade de fazer negócios, apenas. Se dão certo, seguem em frente. Se não dão, tiram o time de campo e partem para outra. É a lógica capitalista. Por ela, nenhuma equipe de competições teria nascido. Corrida não é exatamente um bom negócio, na sua origem. Pode se transformar, até. Mas, na maioria das vezes, se equilibra mal e porcamente e depende de decisões políticas e apaixonadas de grandes empresas e empresários. Uma das máximas do meio é: para ficar milionário com automobilismo, basta ser bilionário. Algo assim.

[bannergoogle]O “adeus” do título lá em cima pode ser acrescido de um “a”, a Sauber, Peter, o fundador e garagista que fez do sobrenome uma equipe, ou de um “à”, à Sauber, a equipe. Sem crase, um adeus ao vetusto e austero Peter. Com crase, um adeus à equipe, que deixa de ser o que é para se tornar ativo de um grupo de financistas.

É uma boa notícia, a venda? Num primeiro momento, claro. Afinal, era isso, ou fechar as portas. A longo prazo, impossível dizer. Grupos financeiros, insisto, não têm compromisso algum com esporte nenhum. Seu compromisso é exclusivamente com dinheiro. Seria muito, mas muito melhor, se o Grupo Fiat assumisse a bronca usando a marca Alfa Romeo, como se especulou há algum tempo. Na verdade, houve conversas sérias nesse sentido, mas no fim a negociação não evoluiu, e não me perguntem por quê. Mas é fácil adivinhar as razões. Montadoras de automóveis, hoje, também têm financistas engravatados no comando. Devem ter achado que era um mau negócio.

E por que um grupo como esse Longbow se mete com corridas, se elas são um mau negócio? Fui procurar informações sobre a empresa, sediada na pequena Lutry, minúscula cidade medieval de dez mil habitantes no Cantão de Vaud, lado francês da Suíça, onde em 1984 foram encontrados 24 menires durante as escavações para a construção de um estacionamento subterrâneo.

Menir é aquilo que o Obelix carrega o tempo todo, e nunca soube, nem saberei, para que serve. Mas menires existem, os de Lutry estão aí para não me deixar mentir. Num desses sites sobre mercado financeiro mundial, encontrei a seguinte descrição das atividades da nova dona da Sauber: “Gestion financière, administrative et comptable de fortunes, participations, titres, valeurs mobilières et immobilières ou autres investissements”.

Não é preciso traduzir nada. Resta apenas torcer que os caras curtam essa parada de carrinhos de corrida, que consigam investidores entre os afortunados com quem mantêm relações, que preservem os empregos na fábrica e, sobretudo, o espírito de Peter Sauber. Que foi aposentado compulsoriamente e, a partir de hoje, desconfio, nem credencial vai ter mais para entrar nos autódromos.