Blog do Flavio Gomes
F-1

BELGIQUINHAS (3)

POÇOS DE CALDAS (e vambora) – Bem, Rosberg fez o que tinha de fazer. Ganhou. Mas sentiu um pequeno arrepio, creio. Porque o início do GP da Bélgica foi tão zoado, que muito rapidamente seu parça de box, largando da última fila, entrou na briga por um pódio improvável. E acabou conseguindo. Hamilton foi o terceiro. […]

POÇOS DE CALDAS (e vambora) – Bem, Rosberg fez o que tinha de fazer. Ganhou. Mas sentiu um pequeno arrepio, creio. Porque o início do GP da Bélgica foi tão zoado, que muito rapidamente seu parça de box, largando da última fila, entrou na briga por um pódio improvável. E acabou conseguindo. Hamilton foi o terceiro. Entre ele e o alemão mercêdico, o novamente sorridente Daniel Ricciardo. Não refrescou tanto assim para Nico-Nico no campeonato. Mas melhor descontar dez pontos, do que nada.

A zona toda começou porque Verstappinho largou mal. Segundo no grid, todo pimpão diante de uma enorme torcida cor de laranja, patinou, mal saiu do lugar, e uma Ferrari passou por cada lado. Quando o piloto da Red Bull retomou a tração, tentou recuperar as posições perdidas por dentro da Source. É muito apertado. Raikkonen, à sua esquerda, se esforçou para não bater no pequeno holandês. Mas se tocaram. Vettel, por fora, à esquerda do finlandês, acabou batendo no companheiro de equipe e rodou. Tanto Kimi, quanto Verstappinho tiveram danos em suas asas e almas. Tião Italiano, que poderia ter evitado a batida se tivesse feito uma trajetória um pouco mais aberta, despencou para último.

A partir dessa treta logo na primeira curva, o grid deu uma embaralhada. Hülkenberg, por exemplo, apareceu em segundo. Mas mais coisas aconteciam lá atrás para mexer ainda mais nas posições originais de largada. Wehrlein encheu a traseira de Button, o pneu de Sainz Jr. explodiu, arrancando sua asa traseira, havia pedaços de aerofólio por todos os lados, e a direção de prova acionou o um safety-car virtual para limpar a sujeira.

Alguns aproveitaram o momento para trocar pneus. Massa foi um deles. Nessas, Palmer e Magnussen apareceram em sétimo e oitavo. Alonso, que largara em último, era o décimo. Hamilton, o 12º.

Então, na sexta volta, Magnólia Arrependida se estabacou na Eau Rouge. Até a proteção de cabeça de cockpit saiu voando. Os danos ao carro foram enormes. À barreira de pneus, idem. Ao tornozelo de Kevin, parece que também. Se tiver de ficar fora de Monza, semana que vem, a Renault nem reserva tem, já que Ocon foi para a Manor. O safety-car foi acionado, mas logo depois, na volta 10, bandeira vermelha e para tudo.

A prova foi interrompida para arrumar a barreira de pneus. Aqueles que já tinham parado, como Hulk, Massa e Pérez, perderam a vantagem. Aqueles que não haviam feito pit stop algum, se deram bem porque puderam fazer a troca sem perder tempo, com os carros parados nos boxes. E depois disso tudo, onde estava Hamilton? Em quinto, já! Com Alonso em… quarto!

Rosberguinho, que tinha sumido na largada, e Ricciardo, o segundo, eram talvez os únicos que não tinham passado por nada de excepcional até ali. Na relargada, atrás do safety-car, também seguiram tranquilos. Hamilton passou logo por Alonso e assumiu o quarto lugar. Para quem tinha sofrido punições a granel, tendo de largar na última fila, era algo inesperado e quase trágico para Nico-Nico, que esperava vencer e ver Comandante Amilton marcando poucos pontos. As circunstâncias ajudaram muito o inglês.

A prova não foi ruim. Teve vários arranca-rabos, como entre Raikkonen e Verstappinho — que na volta 14, perigosamente, deu uma balançada no carro para impedir a ultrapassagem do finlandês. Kimi xingou o jovem Max de tudo que lembrava. “Paskiainen! Typerys! Ääliö! Satula eläin! Aisankannattaja!”, gritou pelo rádio.

[bannergoogle]O pessoal da Ferrari não entendeu direito, mas um mecânico que teve uma namorada em Helsinque quando fez intercâmbio na adolescência entendeu alguma coisa e cochichou com o colega do lado: “Porra, se alguém me chamasse de aisankannattaja eu enchia de porrada”. “E você não era?”, devolveu o outro meca, que curiosamente tinha feito intercâmbio na mesma época e conheceu bem a namorada do primeiro.

Verstappen não estava num bom dia. Além de tumultuar a corrida inteira na primeira curva — o que de melhor fez no domingo, diga-se, e somos gratos –, teve problemas de pneus, parou mais do que gostaria, andou atrás se esfregando com os outros o tempo todo e terminaria o GP de casa (ele é holandês, mas nasceu numa pequena vila belga, Hasselt) em 11º, apenas.

Na frente, Hamilton escalava o pelotão com calma e paciência. O pódio passou a ser o alvo claro, com os problemas enfrentados pela Ferrari e por um dos carros da Red Bull. Na volta 18, já estava em terceiro. A diferença para Rosberg era grande, vitória não estava nos planos, mas um terceirinho iria cair muito bem. Ele fez mais uma parada na volta 22, voltou a colocar pneus macios, saiu dos boxes em nono e ficou esperando os outros pararem também.

E isso aconteceu nas voltas 23, 24 e 25, em lotes de três ou quatro de cada vez. Rosberg, com pneus médios, seguia tranquilo na frente. Quando todo mundo encerrou os trabalhos nos boxes, lá estava Hamilton de novo em terceiro, a 30s do companheiro de equipe. Só na 27ª volta Nico parou, colocando médios mais uma vez. No pelotão intermediário, Verstappen foi novamente protagonista de uma boa disputa, trocando posições com Vettel três vezes até parar para mais uma troca.

Hamilton fez mais um pit stop na volta 33. Médios, desta vez. Os pneus macios, no incomum calorão de Spa, estavam sofrendo bastante. Voltou em quarto, mas passou Hülkenberg rapidinho. E lá se estabeleceu. Na última parte da corrida, pouco a relatar, exceto o passa-passa sobre Massa, que andou boa parte da prova em sexto, mas acabou sendo superado por Vettel, Bottas, Alonso, Pérez, Raikkonen, Lauda, De Cesaris, Patrese, Comas, Gachot, Alesi e Brambilla. Um horror.

[bannergoogle]Rosberg recebeu a bandeirada sem suar, com Ricardão em segundo a 14s113 de distância. Para Hamilton, a vantagem foi de 27s634. Hulk, Maria do Bairro, Tião Italiano, El Fodón de La Recuperación, Sapattos, Kimi Dera Esse Moleque Tivesse Apanhado Quando Criança e Massacrado fecharam a zona de pontos. Foi a sexta vitória de Robserguinho no ano, 20ª na carreira. Estancar a sangria depois da sequência de triunfos de Hamilton foi importante. Mas ele segue na vice-liderança, nove pontos atrás — 232 a 223 para o inglês. Melhor que nada. Eram 19.

Nos Construtores, a Force India finalmente passou a Williams com o quarto e o quinto lugares de hoje. São agora 103 pontos, contra 101 da equipe de Massa e Bottas. Quarto lugar no Mundial. Sensacional. A McLaren também subiu, graças ao esforço de Alonso, que fez uma corridaça — de último para sétimo. O time de Woking passou a Toro Rosso. OK, pode não parecer muito, mas para quem começou a parceria com a Honda de forma tão errática, a evolução é notável. Legal de ver, inclusive.

No pódio, sorrisos. Todos felizes. Os três conseguiram o que queriam no fim de semana.

Menos tirar uma selfie decente.