Blog do Flavio Gomes
F-1

JURA, CINGAPURA? (3)

SÃO PAULO (bom demais) – Tem corrida que é boa sem ser boa. Digo: sem ter grandes manobras, ultrapassagens mirabolantes, lances épicos. Foi assim o GP de Cingapura. Um espetáculo tático, decidido nas tomadas de decisão rápidas, um show de precisão das duas principais equipes da categoria hoje, Mercedes e Red Bull. E depois de […]

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SÃO PAULO (bom demais) – Tem corrida que é boa sem ser boa. Digo: sem ter grandes manobras, ultrapassagens mirabolantes, lances épicos. Foi assim o GP de Cingapura. Um espetáculo tático, decidido nas tomadas de decisão rápidas, um show de precisão das duas principais equipes da categoria hoje, Mercedes e Red Bull. E depois de quase duas horas de prova, com estratégias diferentes, escolha de pneus distintas e pilotagem próxima da perfeição, menos de meio segundo separou Nico Rosberg de Daniel Ricciardo. Foi sensacional, para ser bem honesto.

Nico-Nico sai de Marina Bay com moral lá em cima. São três vitórias seguidas, 100% de aproveitamento pós-férias, e a liderança do Mundial reconquistada: 273 x 265 contra Hamilton, terceiro colocado — pódio obtido graças a uma parada para troca de pneus na hora exata, que lhe permitiu recuperar a posição perdida, na pista, para Kimi Raikkonen. O finlandês foi o quarto. E o quinto foi Vettel, com uma corrida exuberante depois de largar em último — deve levar o título de “Piloto do Dia”.

Largar bem seria fundamental para Rosberg, e ele fez isso. A corrida entrou em safety-car logo nos primeiros metros, depois que Hülkenberg, tocado por Sainz Jr., rodou e bateu no muro. Incrivelmente ninguém o acertou. E tudo começou quando o espanhol teve de desviar de Verstappinho, que patinou no grid.

[bannergoogle]A relargada foi autorizada na terceira volta — com um comissário ainda na pista limpando detritos, um perigo absurdo –, Lewis esboçou um ataque a Ricardão, o segundo, mas foi só ameaça. Rapidamente as coisas começaram a se estabilizar, com Nico abrindo 4s4 para Hamilton, o terceiro colocado. Entre os dois, Ricciardo tinha pneus supermacios, insinuando que faria seu primeiro stint mais longo que a dupla da Mercedes, de ultramacios.

Para não esquecer: lá atrás, Vettel, que largou com os pneus macios (os mais duros do fim de semana), começava a jantar todo mundo. Entraria na zona de pontos na 15ª volta.

Verstappen abriu a janela de pit stops, na volta 14. Estava em sexto, voltou em 15º. Na passagem seguinte, Ricciardo e Hamilton pararam juntos. O australiano repetiu a dose com supermacios. Lewis colocou os de faixa amarela, macios, mais lentos do lote para Cingapura. No fim das contas, a ideia da Red Bull de esticar o primeiro trecho da prova acabou não se confirmando. Rosberg faria sua primeira parada na volta 16, colocando pneus iguais aos de seu companheiro de equipe.

Ninguém imaginava, porém, uma corrida de apenas um pit stop. O GP de Cingapura tem 61 voltas, e o padrão, o “plano A” de todo mundo, seria parar duas vezes. Depois que Raikkonen, o quarto colocado parou, na volta 17, as coisas se estabilizaram novamente. E Rosberg já tinha, sobre Hamilton, 9s6.

[bannergoogle]Um momento divertido aconteceu nessa hora, altura da 19ª volta, quando Verstappinho chegou em Kvyat para brigar pelo oitavo lugar. O soviético não quis saber. “здесь нет!”, gritou pelo rádio. Acho que gritou. Mas não passou, mesmo. Foram três tentativas e três defesas ferozes, por motivos de esse cara tirou meu lugar na equipe e é um filho da puta.

Foi na volta 25 que Vettel, já em sexto, fez sua primeira parada — outro que esticou tudo no primeiro stint foi Pérez. A corrida parecia caminhar para um tédio infinito, mas ainda tinha coisa para acontecer. Ô, se tinha. Na volta 26, Raikkonen começou a se aproximar de Hamilton. Ali valia pódio. Rosberg, na ponta, mantinha-se seguro 4s1 à frente de Ricciardo e com 13s5 de folga para Lewis. Ricardão parou na volta 33. Colocou pneus macios. Iria até o fim com eles? Kimi, na mesma volta, aproveitou uma vacilada de Hamilton e passou o inglês sem pestanejar.

As coisas começaram a se desenhar para a segunda metade da prova quando Nico-Nico e Raikkonen pararam na volta 34. Ambos colocaram pneus macios. A sensação era de que iriam até o fim com aqueles pneus. Hamilton veio na volta seguinte, macios também. Igual: duas paradas, não mais.

Só que não foi assim. Em dez voltas, Lewis saiu voando para cima de Raikkonen para recuperar o terceiro lugar. Quando encostou de vez, a equipe o chamou para uma terceira parada. Surpresa geral. Colocou supermacios. A Ferrari não sabia o que fazer. Nessa indecisão, acabou chamando Kimi, também. Ultramacios, para fechar a corrida no pau. Mas a volta a mais que Raikkonen levou para tomar a decisão de parar foi fatal. Voltou atrás de Hamilton, que reassumiu o terceiro lugar.

E o lance final de emoção começou a ser desenhado na volta 48, quando Ricardão também foi para uma terceira parada. Faltavam apenas 13 voltas para o final, e ele colocou pneus supermacios. Voltou mais de 20s atrás de Rosberguinho. E começou a voar. Tirava, em média, 3s por volta do alemão. Àquela altura, a Mercedes não podia mais chamar Nico. Se tivesse de fazer isso, teria de ser na mesma hora que Ricciardo.

[bannergoogle]Então, começou uma corrida contra o relógio fantástica. Na volta 51, a diferença de Rosberg para Ricardão, com seus pneus macios velhos trocados na volta 34, caiu para 18s7. Nas voltas seguintes, 15s4, 12s1, 9s8, 8s1, 6s7 e, pelo rádio, a Red Bull avisou: você chega nele a quatro voltas do final. Rosberg, por sua vez, se preocupava imensamente com os freios. Pelo rádio, a equipe pedia que ele cuidasse deles, porque já estavam no osso. Na volta 57, quando os rubro-taurinos imaginavam que Ricciardo já teria encostado, a diferença ainda era de 5s4.

O australiano perdeu tempo com alguns retardatários. Passou 5s3 atrás na volta 58, mas não desistia. Na 59, 3s8. Na 60, 2s3.

Aí, Rosberg só perderia se cometesse algum erro — o que não estava fora de questão, pela pressão e pelos freios em pandarecos. Mas o alemão fez suas últimas voltas com um olho no peixe e outro no gato, não pisou fora da linha nenhuma vez, e mesmo com Ricardão enorme em seu retrovisor, manteve a calma e recebeu a bandeirada 0s488 à frente. Um espetáculo.

Espetáculo que, além de devolver a ele a liderança do Mundial, caiu muito bem para comemorar sua 200ª corrida na F-1. Foi a 22ª vitória na carreira, oitava no ano. Um fim de semana perfeito, com um resultado que deve ser dividido com a equipe, sem dúvida, mas que teve muito de seu estilo frio e preciso de pilotagem que sempre vem à tona quando consegue controlar uma corrida desde o início. Frieza mais do que necessária nos momentos finais, porque ali não era qualquer um que seguraria a onda, não. Rosberg é melhor do que as pessoas pensam.

Lá em cima eu tinha parado no quinto, Vettel. Fecharam os pontos Verstappinho, El Fodón de La Sétima Posición, Maria do Bairro, K-Vyado e Magnólia Arrependida. De Alonso para trás, todos merecem aplausos. A Force India passou a Williams de novo, que zerou com Massa em 12º e com o abandono de Bottas. Agora, o placar do Maraca aponta 112 a 111 para os forceíndicos.

Depois da festa do pódio (na qual Ricardão esqueceu de tirar o boné na hora do hino…), Rosberg foi entrevistado por Martin Brundle, que também é comentarista de TV. Deu uma patada no ex-piloto inglês. “Não se comporte como se estivesse feliz por mim. Todos sabemos que você torce pelo Lewis”, falou. A cara de bunda de Brundle foi indisfarçável, como se vê acima.

O coice tinha endereço. A imprensa inglesa, que vive fazendo fofocas com o alemão. Nico, hoje, foi o cara.