Blog do Flavio Gomes
F-1

POKE-BUTTON

SÃO PAULO (sabe das coisas) – Olha, me desculpem se escrever alguma bobagem nas referências ao “Pokémon”, que não sei direito se é gente, um bicho, um duende, um coelho, um esquilo, não sei se são muitos, poucos, se é o nome de um só, de uma tribo, uma raça, uma espécie, ou ainda apenas […]

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SÃO PAULO (sabe das coisas) – Olha, me desculpem se escrever alguma bobagem nas referências ao “Pokémon”, que não sei direito se é gente, um bicho, um duende, um coelho, um esquilo, não sei se são muitos, poucos, se é o nome de um só, de uma tribo, uma raça, uma espécie, ou ainda apenas o nome de um jogo, ou de vários jogos, ou de um aplicativo, talvez um site, ou ainda um esporte, sinceramente, não sei nada e não tenho grande interesse em saber, e NÃO TENHO RAIVA de quem sabe — apenas não sei, assim como não entendo nada de pilates, e também não compreendo os fundamentos do Snapchat, não sei como o Twitter vale tantos bilhões de dólares, nem como o Instagram ganha dinheiro.

[bannergoogle]Fiz este longo introito, palavra que perdeu o acento e é igualmente incompreensível que isso tenha acontecido, para comentar a visão que Jenson Button tem do futuro da F-1 a partir da compra da categoria pelo grupo americano Liberty Media.

Num passeio por um shopping em Cingapura, Button filmou milhares de pessoas caçando Pokémons (o acento é aí mesmo?), ou pokémons, caso ele não seja um só, mas vários. Se for um só, acredito que Pokémon é nome próprio. Se forem vários, aí é substantivo comum, e portanto seriam pokémons, com minúscula. Complicado, isso.

Mas Jenson viu aquele monte de adolescentes com seus celulares procurando a tal coisa — que é virtual, isso já entendi — e refletiu sobre a queda de popularidade da F-1, que para ele tem um público envelhecido, acima dos 30, 40 anos. É preciso seduzir a galerinha mais jovem que caça pokémons, concluiu. “Não é possível que a F-1 não seja melhor do que isso”, falou.

Ele tem toda razão, e aqui terei de fazer uma observação, sempre com a ressalva de que NÃO TENHO NADA CONTRA quem curte essas coisas: acho uma maluquice, acho que estão todos ficando loucos, tem gente morrendo atropelada por causa disso, considero uma bobagem infantil, inexplicável e alienante, mas tudo bem. Qualquer um pode achar exatamente a mesma coisa sobre corridas de automóvel, é perfeitamente compreensível, mas Button tem razão porque corrida de automóvel, me desculpem os que pensam o contrário, me parece algo mais interessante, inteligente, fascinante, emocionante e, sobretudo, real do que caçada de pokémons.

[bannergoogle]Mas é, de fato, um desafio atrair caçadores de pokémons para uma causa, qualquer causa — seja ela de cunho político, artístico, musical ou esportivo. O processo mental que levou milhares de pessoas a dedicarem seu tempo a essa caçada virtual de objetos inexistentes — supondo que pokémons não existem, mas posso sempre estar enganado — é difícil de ser revertido. Há uma disparidade clara de interesses entre pessoas que gostam de carros e pessoas que gostam de pokémons.

Ocorre que, aparentemente, há hoje no mundo mais gente que gosta de pokémons do que de carros. E é isso que está afetando a F-1. E tantas outras coisas. O mundo caminha para ser habitado por adoradores de pokémons. Essa é a grande e verdadeira questão.