Blog do Flavio Gomes
F-1

SUZUKA NA CUCA (4)

SÃO PAULO (ainda tem mais) – Hamilton, diga “trinta e três”. “Trinta e três.” É isso, amigo. São 33 pontos para Rosberguinho, e faltam só quatro corridas. Nico-Nico não precisa mais vencer neste ano. Três segundos e um terceiro, por exemplo, se você, rapaz, ganhar as quatro. Tá osso. Assim, acho que acabou. Rosberg chegou […]

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SÃO PAULO (ainda tem mais) – Hamilton, diga “trinta e três”. “Trinta e três.” É isso, amigo. São 33 pontos para Rosberguinho, e faltam só quatro corridas. Nico-Nico não precisa mais vencer neste ano. Três segundos e um terceiro, por exemplo, se você, rapaz, ganhar as quatro. Tá osso.

Assim, acho que acabou. Rosberg chegou em Suzuka à sua nona vitória na temporada, quarta nas últimas cinco corridas. Ah, as últimas cinco corridas… Quando o Mundial chegou ao final de sua primeira fase, no GP da Alemanha, Hamilton tinha sido o responsável por uma virada inacreditável. Abrira 19 pontos para o companheiro mercêdico, depois de ficar 43 atrás após as cinco primeiras etapas. A arrancada parecia irresistível.

[bannergoogle]Mas vieram as férias, Nico se recolheu aos seus aposentos e Hamilton caiu na farra. Claro, estou exagerando e apelando para o moralismo idiota que certamente será evocado como explicação para o que aconteceria depois.

E o que aconteceria depois? Rosberg daria a volta por cima, recuperaria seus pontos, ultrapassaria o inglês e chegaria aos 33 que abriu hoje — 313 x 280. Uma diferença que pode não ser impossível de tirar, claro — uma quebra, por exemplo, aliada a uma vitória de Hamilton, e a coisa volta a um quase empate técnico. Mas, pelo andar da carruagem, basta ao alemão um pouco de sangue frio e cabeça no lugar, agora, para conquistar seu primeiro — e merecidíssimo — título mundial.

Rosberg tem tido uma certa ajuda do Comandante Amilton para chegar lá. Em Suzuka, Lewis largou de novo muito mal e caiu de segundo no grid para oitavo nos primeiros metros da prova. De cara, portanto, perdeu a chance de pelo menos tentar brigar com Rosberg, que partiu solenemente da pole para pontear o pelotão até o final da corrida, sem nenhum susto e com absoluto controle da situação.

Foi um GP intenso, este do Japão, com alguns momentos interessantes e atuações dignas de aplausos. O próprio Hamilton foi bem, recuperando-se da má largada e remando com vontade para buscar o pódio. Na primeira parte da prova, depois das paradas, apareceu em quarto já na volta 16. Seu pit stop aconteceu na volta 14, uma depois das paradas de Rosberg e Vettel. Um pouco antes, na 11ª, foram para os boxes os dois da Red Bull, Verstappinho e Ricardão — e todo mundo optou por colocar os pneus duros, para esticar o segundo stint até onde fosse possível.

Lewis voltou de sua parada em sétimo, mas logo foi para cima de Ricciardo, Massa e Bottas. A dupla da Williams não tinha trocado pneus ainda, é bom que se diga. Até a segunda janela de pit stops, aberta por Raikkonen na volta 27, não aconteceu muita coisa. Na 29, veio Verstappinho. Na 30, Nico. Na 33, Ricciardo. De novo, todos colocando pneus duros. Vettel, então, assumiu a liderança, com Hamilton em segundo e, atrás deles, Rosberg e Verstappen. Os dois primeiros, porém, ainda precisavam fazer a segunda parada.

Foi na 34ª passagem que Lewis foi para os boxes, e sentou a bota assim que voltou à pista. Vettel parou na 35 e colocou pneus macios. Não deu muito certo. Ao retornar à pista, o fez atrás do inglês. A perda da posição — e do pódio — parecia momentânea, porque Tião Italiano tinha uma borracha mais mole e veloz. Mas não conseguiu passar. Ficou cinco voltas atrás da Mercedes, reclamando de retardatários e choramingando pelo rádio. Enquanto isso, Hamilton acelerava e colocava Verstappen na mira. Na volta 40, estava 4s9 atrás do jovem holandês. Cinco voltas antes, essa diferença era superior a 10s.

[bannergoogle]Teríamos uma corrida, afinal. A luta pelo segundo lugar prometia, e quando a vantagem de Max caiu para 2s, faltavam dez voltas ainda. Rosberg estava tranquilo na frente, uma vitória era fora de questão para o inglês. Mas passar Verstappen, não. E lá foi Lewis atrás de sua sobrevida no campeonato.

Só que o menino é carne de pescoço demais. Hamilton só conseguiu diminuir a diferença para menos de 1s, podendo usar a asa-móvel, na volta 47. Ocorre que Verstappinho fazia a última chicane muito bem, tracionava mais na saída da segunda perna e não dava a menor chance para o mercêdico ultrapassá-lo na reta. E sem mais tempo a perder, a tentativa de Lewis veio na penúltima volta, na famosa freada onde Prost e Senna se enroscaram em 1989. E Max, como vem fazendo desde que estreou na F-1, defendeu-se de uma maneira pouco habitual, mudando a trajetória durante a freada e atrapalhando os neurônios de quem vem atrás. Hamilton passou direto pela chicane, perdeu tempo e contato, e o garoto marrento fez a última volta sossegado, para terminar em segundo e ganhar, de novo, o título de “Piloto do Dia” concedido pelo amigo internauta.

Lewis reclamou, é bom registrar. “He moved under braking”, resmungou pelo rádio, mas sem muito ânimo para levar a discussão adiante. Bem, não é proibido. Mudar de direção uma vez para se defender pode, e se o cara tem habilidade suficiente para fazer isso freando, sorte dele. É bom que os adversários comecem a se acostumar. Podem não gostar nem um pouquinho, mas desconfio que Verstappen não liga muito para o que os outros pensam.

Hamilton teve de se contentar com o terceiro lugar e foi para o pódio com cara de derrotado. O público, que deixou vários brancos nas históricas arquibancadas de cimento de Suzuka — eu nunca tinha visto um GP do Japão com tão pouca gente –, aplaudiu os três e não deu muita bola para a contrariedade do inglês, que foi ao pódio pela 100ª vez na carreira, mas não tinha mesmo muito a comemorar.

Vettel, Raikkonen, Ricciardo, Pérez, Hülkenberg, Massa e Bottas fecharam a zona de pontos. A Mercedes, matematicamente, conquistou o tricampeonato entre os Construtores. Rosberg foi a 23 vitórias na carreira, empatando com Piquet nas estatísticas. O alemão tem números muito sólidos em sua carreira. Falta uma taça, no entanto.

Mas, agora, é apenas uma questão de tempo.