Blog do Flavio Gomes
F-1

ÚLTIMO TANG EM SEPANG (3)

SÃO PAULO (café) – Um motorzão Mercedão quebrando, quem diria… Red Bull fazendo dobradinha, quem diria… Vettel dando uma de iniciante logo na largada, quem diria… Rosberguinho ampliando a liderança para 23 pontos e com uma mão na taça, quem diria… Quem diria que o GP da Malásia seria tão… surpreendente? Pois foi. E nem […]

mal16eSÃO PAULO (café) – Um motorzão Mercedão quebrando, quem diria… Red Bull fazendo dobradinha, quem diria… Vettel dando uma de iniciante logo na largada, quem diria… Rosberguinho ampliando a liderança para 23 pontos e com uma mão na taça, quem diria…

Quem diria que o GP da Malásia seria tão… surpreendente?

Pois foi. E nem precisou de chuva.

A imagem acima, em que pese a alegria de Ricardão pela quarta vitória na carreira, primeira no ano, é a que mais representa o peso dessa corrida de Sepang. Como assim, quebrar motor? Há quanto tempo isso não acontece?

Aos mais jovens, informo que motores fazendo fumaça e estourando eram a coisa mais comum do mundo nos anos 80 e 90. Na virada do século, com as restrições de uso impostas pela FIA, os fabricantes passaram a fazer engenhocas menos, digamos, “quebráveis”. Em algum momento seria necessário abrir mão de um pouco de performance para garantir confiabilidade. E, por isso, cenas como a de hoje a 15 voltas do final do GP malaio passaram a ser bem mais raras.

A quebra de Hamilton, que provavelmente venceria a prova — seria um pouco apertado, talvez, mas venceria –, muda a história do campeonato. E como as coisas mudam rápido… Na largada, Rosberg foi tocado por Vettel e despencou para a 17ª posição. O domingo seria uma desgraça para o alemão, com Lewis na ponta caminhando para uma vitória que o levaria novamente à liderança na classificação.

[bannergoogle]Mas que nada, como diria Jorge Ben. Sai da minha frente eu quero passar, cantarolava Nico-Nico escalando o pelotão e tomando a decisão correta de abstrair os problemas e fazer sua corrida, deixando para contabilizar os prejuízos no final. Na nona volta, entrou na zona de pontos. Fez as três paradas que pretendia, nas voltas 9, 32 e 42, enfiou pneus macios apenas na última delas, colocou-se na briga pelo quarto lugar, conseguiu uma linda ultrapassagem sobre Raikkonen na volta 38 — e foi punido por isso, ô coisa mais chata –, tomou dez segundos de multa, precisou abrir essa vantagem para o ferrarista nas últimas voltas, fê-lo porque qui-lo e porque lutou até o fim, e acabou recebendo a bandeirada em terceiro, pódio herdado após a quebra do companheiro de Mercedes.

Foi a melhor atuação da corrida, embora o amigo internauta tenha escolhido Verstappinho como “Piloto do Dia”. Não entendi direito o amigo internauta. Além de Rosberg, Ricciardo teve desempenho melhor. Afinal, ganhou a corrida, e com uma parada a menos que o jovem holandês. Até Alonso mereceria uma canja. Mas o povo gosta do Max.

Com razão, inclusive. O menino correu para ganhar, apesar de quase ter sido vítima de Vettel, a quem chamou de “ridículo”, na largada. O alemão encontrou uma brecha por dentro na primeira curva, mas mergulhou meio na loucura, batendo em Rosberg e quebrando a suspensão. Verstappen conseguiu evitar a batida. Menos mal que o único que abandonou foi ele, Sebastian — é duro quando o culpado sai ileso. A manobra foi infantil. De longe, este é o pior ano de Tião Italiano na F-1. Foi punido e perderá três posições no grid em Suzuka.

Teve safety-car virtual na hora, para retirar a Ferrari do alemão da pista. Alguns pilotos se aproveitaram bem da confusão, como o novato Ocon, que passou em décimo. Alonso, que largara em último, veio na cola. A retomada da prova aconteceu na terceira volta, até Grosjean perder o freio e rodar, para mais um safety-car virtual. Não reclamo dessas intervenções. Quando tem carro quebrado na pista, ou em área de escape, é melhor todo mundo tirar o pé para que o pessoal de serviço possa trabalhar com alguma segurança.

[bannergoogle]Nessa hora, volta 9, Verstappen deu o que poderia ser o pulo do gato. Foi aos boxes, espetou pneus macios e não perdeu muito, caindo de terceiro para quarto, já com uma parada no bolso. Hamilton, o líder, só faria seu pit stop na volta 21, junto com Raikkonen. Ricciardo, na volta seguinte. E, aí, Max virou líder, com 8s de vantagem para o inglês. Todos com um pit stop feito.

Os pneus macios do holandês, no entanto, começaram a dar sinais de fadiga. Hamilton começou a se aproximar e na volta 27 Verstappen fez a segunda parada, colocou pneus duros e voltou em terceiro, 16s7 atrás de Lewis. Se ele mantivesse essa distância, poderia até ganhar a corrida, desde que as estratégias daqueles que estavam à sua frente fossem iguais à dele — no caso, três pit stops.

Mas era preciso combinar com os russos. Primeiro, Ricciardo. Este não faria três paradas, e portanto teria de ser superado na pista. Quanto a Hamilton, a hora era de acelerar para abrir pelo menos 20s do holandês e voltar ou à frente dele depois da segunda parada, ou muito perto — com um carro melhor, ultrapassar não seria um problema. Também ele, Hamilton, estava para dois pit stops.

A diferença foi aumentando. E Ricardão ajudou. Na volta 36, Hamilton tinha 19s8 para Verstappen. Quando o holandês chegou no australiano, não teve moleza. Daniel segurou o segundo lugar com maestria, ambos perderam tempo na disputa, e Hamilton, na volta 40, já tinha confortáveis 23s5 para Verstappen. Poderia parar tranquilo e controlar o final de prova. Foi quando a fumaça apareceu na traseira, depois uma labareda, e a quebra na volta 41.

Na hora os dois Red Bull foram para os boxes, aproveitando mais um safety-car virtual. Max teria mesmo de fazer uma terceira parada, os pneus não aguentariam. Ricciardo fez sua segunda troca, depois de administrar bem o desgaste nos dois primeiros stints. Ambos colocaram pneus macios. A disputa pela vitória, estava claro, seria interna na Red Bull, com Hamilton quebrado e Rosberg bem para trás, tendo de se preocupar muito mais em abrir seus 10s de Raikkonen do que em se aproximar dos ponteiros, mais de meio minuto na frente. Conseguiu, inclusive.

Max andou muito perto de Ricciardo nas voltas finais, com a diferença oscilando entre 1s5 e 2s. Mas o sorridente australiano guiava com segurança e sangue frio, e o holandês não tentou a ultrapassagem nenhuma vez. Cruzaram a linha de chegada com festa e festejaram uma dobradinha que a equipe não conseguia desde o GP do Brasil de 2013, com Vettel e Webber. No podio, teve champanhe na sapatilha e muita alegria. Bem que Ricardão tinha dito que venceria uma corrida em 2016. Cumpriu a promessa.

Rosberguinho, também feliz da vida, ficou em terceiro. Sua vantagem de oito pontos para Hamilton antes do GP subiu para 23 — 288 x 265. Faltam cinco corridas para o fim do campeonato, e a situação de Hamilton se complicou bem. Agora, Nico-Nico tem a faca e o queijo na mão para administrar o que conseguiu recuperar, depois de um início de Mundial arrasador e de uma queda brusca na metade da temporada. Hamilton está nas cordas.

Raikkonen terminou em quarto, seguido por Bottas (ótima prova, uma única parada, melhor atuação dele no ano), Pérez, Alonso (corridaça, também, depois de largar em último, parar três vezes, pau puro o tempo todo), Hülkenberg, Button e Palmer (que marcou seu primeiro ponto na categoria). Massa foi o 13º, depois de largar dos boxes (o acelerador deixou de funcionar no grid) e de ter um pneu furado. Nasr abandonou com problemas nos freios. A Force segue em quarto lugar entre as equipes, com 124 pontos — três à frente da Williams.

Semana que vem tem Suzuka. Até lá, vamos ver como a Mercedes vai gerir um início de crise motivada por declarações duras de Hamilton, na linha “alguém não quer que eu ganhe o campeonato”. “Isso é ridículo”, rebateu Niki Lauda. Mas, de imediato tentou colocar panos quentes e consolar o inglês. “Temos de nos desculpar com ele porque temos a obrigação de entregar um motor que não quebre”. Lewis, mais calmo, também tratou de jogar água fria na fervura e falou que vai “lutar até o fim”.

Num cenário como esse, se Rosberg não ganhar o título agora, não ganha nunca mais.