Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM À TARDE

SÃO PAULO (agora, pausa) – Embora não tenha tido efeito, no final, a tática de Hamilton ontem concentrou as discussões pós-GP de Abu Dhabi. O que ele fez foi legal? Limpo? Honesto? Se você fosse Rosberg, acharia o companheiro um pulha? Se fosse Lewis, faria a mesma coisa? Minha opinião: achei meio sujo. Sim, entendo […]

abudom20

SÃO PAULO (agora, pausa) – Embora não tenha tido efeito, no final, a tática de Hamilton ontem concentrou as discussões pós-GP de Abu Dhabi. O que ele fez foi legal? Limpo? Honesto? Se você fosse Rosberg, acharia o companheiro um pulha? Se fosse Lewis, faria a mesma coisa?

Minha opinião: achei meio sujo. Sim, entendo que não é contra o regulamento, que ele não jogou o carro em ninguém, que estava na dele. Mas eu não faria. Não faria isso com alguém que estava honestamente fazendo seu trabalho. O que ele fez pode não contrariar regra nenhuma, mas prejudicou um companheiro de equipe e colocou em risco sua posição de forma artificial e deliberada.

“Ah, mas a F-1 é competitiva, os grandes vencedores são assim”, li por aí nas famosas e quase insuportáveis redes sociais, onde todo mundo tem opinião sobre tudo, ou acha que tem. É isso que está acabando com o mundo: o espírito competitivo acima de qualquer outra coisa. Em nome da competição e do triunfo pessoal, tudo é permitido.

[bannergoogle]Não, não é. Não deveria ser. Espírito esportivo, isso sim é legal no esporte. Hamilton, ontem, podia ter sumido na frente para vencer o GP — em última análise, a meta de qualquer piloto. Sem pensar em atrapalhar o colega. Era uma estratégia possível? Sim, era. Mas era, também, egoísta. E desrespeitosa, já que o ritmo mais lento tinha como único objetivo atrair outros carros para brigarem com o companheiro de equipe. Não com ele, obviamente.

Enfim, cada um pensa o que quer. Verstappen, por exemplo, disse que faria o mesmo. Nosso Victor Martins defendeu a estratégia antes mesmo da corrida, batizando-a de “tática Villeneuve” — lembrando o que Jacques fizera no GP do Japão de 1997. Vettel achou que o inglês “jogou sujo”. Na Mercedes, Toto Wolff não sabia bem o que pensar. Um dia depois da corrida, continua sem saber.

Para Hamilton, previsivelmente, o que fez não teve “nada de perigoso ou injusto”. Rosberg, absolutamente gentil e elegante, disse que compreendeu o que o parceiro fez: “Ele tinha de tentar alguma coisa, compreendo isso, e não acho que devemos discutir mais o assunto. O melhor é deixar para trás”. E ainda elogiou o inglês, dizendo que “bater um dos maiores da história é algo fenomenal“.

A isso se chama “saber ganhar”. O que Hamilton fez se chama “não saber perder”.

Polêmica à parte, agora, alguns pitaquinhos:

– Keke Rosberg disse que ninguém é campeão com azar. Que se é verdade que seu filho Nico se beneficiou da quebra de Lewis na Malásia, não é menos verdade que em 2014 e 2015 ele também teve problemas mecânicos que facilitaram a vida do inglês.

– Aliás, coincidências envolvendo títulos de pais e filhos. Graham Hill foi campeão pela primeira vez em 1962 (chegaria ao bi em 1968) e Damon (aí no lado, na foto, cabeleira cada vez mais branca) repetiria a conquista 34 anos depois. No caso de Keke e Nico, os anos são 1982 e 2016 — também 34 de diferença. E são anos que terminam com 2 e 6 em ambos os casos. Isso é coisa dos Illuminati, sem dúvida.

– Mesmo campeão, Rosberguinho não deve usar o número 1 no ano que vem. Ele adora o #6. “Dá muita sorte”, falou. Era o número de Keke em 1982, também. Foi por isso que ele o escolheu em 2014, quando a numeração passou a ser fixa na F-1.

– A Haas encerrou bem sua temporada de estreia na F-1, com 29 pontos e o oitavo lugar no Mundial. Mas a equipe pode reclamar do “quase”. Foram oito vezes em 11º — ontem, com Grosjean.

– As despedidas de Felipe Massa e Jenson Button foram emocionantes, cada uma do seu jeito. O brasileiro encerra sua trajetória na categoria com 250 GPs, 11 vitórias, 41 pódios, 16 poles e 937 voltas na liderança. Seu melhor ano foi 2008, de longe: vice-campeão, tendo perdido o título na última curva da última volta da última corrida do ano para Hamilton. Já Button fecha a caixinha (ele não vai voltar) com 305 corridas disputadas, 15 vitórias, 50 pódios, oito poles, 761 voltas na liderança e um título, em 2009 pela Brawn — equipe que sucedeu a Honda e, no fim daquele ano, foi vendida para a Mercedes e virou o que virou.

– Jenson, inclusive, correu com um capacete amarelo marca-texto como o da Brawn de sete anos atrás — foto à esquerda. Bela lembrança.

– A F-1 volta à atividade, agora, com duas sessões de testes de pré-temporada em Barcelona: de 27 de fevereiro a 2 de março e de 7 a 10 de março. O Mundial de 2017 começa na Austrália no dia 26 do mesmo mês.