Blog do Flavio Gomes
F-1

O MUNDO SEM BERNIE

SÃO PAULO (e por hoje deu) – Acabou a era Bernie Ecclestone na F-1. Provavelmente amanhã, terça, os novos donos do negócio vão oficializar a saída do dirigente do comando da categoria. Compraram, agora querem levar. Faz todo sentido. Bernie não é eterno. Aos 86 anos, estava mesmo perto do fim. Foram quase quatro décadas […]

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SÃO PAULO (e por hoje deu) – Acabou a era Bernie Ecclestone na F-1. Provavelmente amanhã, terça, os novos donos do negócio vão oficializar a saída do dirigente do comando da categoria. Compraram, agora querem levar. Faz todo sentido.

Bernie não é eterno. Aos 86 anos, estava mesmo perto do fim. Foram quase quatro décadas à frente de um campeonato que é o que é hoje, em termos financeiros, graças a ele.

Tino comercial, poder de convencimento, mão forte nos negócios, tudo isso pode ser dito para descrever as qualidades de Ecclestone como chefão da F-1. Ex-piloto e ex-dono de equipe, pegou o touro a unha em 1978 e transformou uma competição basicamente europeia num gigante global que invadiu mercados improváveis atrás de dinheiro, muito dinheiro.

[bannergoogle]Malásia, Bahrein, China, Turquia, Índia, Coreia do Sul, Azerbaijão, Abu Dhabi, Cingapura e Rússia — se esqueci de algum, me lembrem — entraram na sua roda-viva sem ter nenhuma tradição no automobilismo. Mas muita grana em caixa, e gente disposta a gastar com carrinhos de corrida. Alguns desses países já saíram do calendário, é verdade. O que nunca incomodou o dirigente. Se França, Alemanha, Portugal, Holanda, África do Sul e outros sítios históricos já foram riscados do mapa, que falta fazem os desistentes? Nenhuma. Sai um, chega outro. México e EUA, por exemplo, voltaram com força. E assim caminha a humanidade.

Bernie fará falta pela personalidade única. Autoritário, quase ditatorial, entendia do assunto. E era — é — um sujeito sedutor. Por isso quase tudo que fez deu certo. É verdade que se enrolou em várias negociações, brigou com gente grande, foi acusado de falcatruas de vários matizes, mas nada aconteceu na F-1 nos últimos 38 anos sem passar por ele. E graças a esse poder exercido em sua plenitude, enriqueceu e fez ricos muitos de seus pares.

O baixinho fará falta. Sempre gostei dele, apesar de tudo. E creio que a maioria na F-1, também.

E o que será da F-1 sem Bernie? É difícil acertar na mosca, mas pode-se imaginar que a categoria será menos fechada e exclusivista. O Liberty Media Group é gigantesco, sabe fazer dinheiro e tem um inegável olho no entretenimento nos moldes norte-americanos. A palavra de ordem é o show em primeiro lugar, sem grandes discussões técnicas e retóricas. Mais gente nos autódromos, mais gente vendo pela TV, mais penetração popular pelas novas plataformas de divulgação, proximidade maior com o público.

[bannergoogle]Como isso vai ser feito, sinceramente não sei. Já escrevi uma vez que a F-1 deveria olhar um pouco para o passado para dele extrair o que fez dela, nos anos 70, 80 e 90, um fenômeno de popularidade. Isso se perdeu com o tempo, por conta da concorrência de outros esportes e atividades, e da gradual demonização do automóvel no mundo — os jovens não têm mais a relação com carros que gerações anteriores tinham. É um desafio buscar lá atrás o que mais atraía as pessoas e, ao mesmo tempo, olhar para a frente e tentar adivinhar o que elas vão querer de uma competição motorizada.

É fato que a idade média do público que acompanha F-1 aumentou. O fã histórico envelheceu e não foi substituído pelo torcedor mais novo — aquele que está entrando no mercado de trabalho, começando a ganhar dinheiro, buscando formas de gastar o seu com diversão e entretenimento. Os jovens não ficam mais duas horas diante da TV para ver quase nada. Mergulham em seus celulares e neles passam horas e horas. Como tirá-los desse mundinho particular?

Saberemos nos próximos anos.

Ou não.