Blog do Flavio Gomes
F-1

MCLAREN MCL32

SÃO PAULO (bem, é depois do almoço… Na verdade, antes, porque ainda não almocei!) – Vocês não imaginam o caos na cidade. Chove pacas, ruas alagadas, semáforos sem funcionar, nada de CET nas ruas, nem o prefeito se vestiu de marronzinho para ajudar. Ingrato. Por isso, fiquei três horas no trânsito e só agora vai […]

SÃO PAULO (bem, é depois do almoço… Na verdade, antes, porque ainda não almocei!) – Vocês não imaginam o caos na cidade. Chove pacas, ruas alagadas, semáforos sem funcionar, nada de CET nas ruas, nem o prefeito se vestiu de marronzinho para ajudar. Ingrato.

Por isso, fiquei três horas no trânsito e só agora vai dar para falar do lançamento do novo McLaren. Peço escusas aos leitores.

Junte-se a isso a dificuldade para encontrar a pessoa da equipe com quem eu queria falar, e o resultado é que este post chega com muito, muito atraso. Mas terá valido a pena, porque minha fonte no time falou coisas muito interessantes, que Vossas Senhorias saberão adiante.

Mas agora, à apresentação oficial. E não é que veio o laranja? Que bom, que coisa linda! Mas precisava de tanto preto? Por que não laranja e ponto? Muita gente me escreveu dizendo que parece a Manor sem o vermelho. Outros lembraram da Arrows e da Spyker. Justas lembranças. Mas façamos um desconto. Todos queríamos a McLaren laranja de novo. A maioria de nós nem viu esses carros com essa cor — fazia 41 anos que ela tinha saído de cena. E os novos comandantes ouviram o clamor popular. Ponto para eles.

Aliás, falando na cor, Vitor Fazio conta no GRANDE PREMIUM um pouco dessa história que remonta ao final dos anos 60. Vale a leitura.

[bannergoogle]”Laranja Mecânica” será um apelido óbvio e simpático para o MCL32, já que se refere a um dos grandes filmes já produzidos pela humanidade — vou poupar os mais jovens do Google e já dou o link com breves explicações.

A nova sigla para os carros da McLaren já foi esclarecida aqui. Com o afastamento compulsório de Ron Dennis, chutado do time no ano passado, a cúpula que assumiu resolveu riscar o dirigente inglês da história e substituir o tradicional MP4 seguido do número do modelo (“M” de McLaren, “P4” de Project Four, a antiga equipe de Dennis antes de transformá-la na potência que é hoje) para simplesmente abreviar o nome da companhia como “MCL”, acrescentando a numeração que dá sequência à trajetória iniciada nos anos 80.

Isso esclarecido, vamos ao carro.

Chamou muito a atenção o requinte da asa dianteira e as estruturas laterais que a sustentam em forma de guelras. Guelra é uma palavra difícil e rara que eu não usava desde os tempos em que me ensinaram que os peixes respiram através de fendas na barriga e não usam o nariz. Foi um choque saber disso na época, e confesso pública e tardiamente ter sido o motivo pelo qual desisti de ser biólogo e de viajar com a família Schurmann — o que acabou sendo ótimo, porque não existe nada mais chato no mundo que a família Schurmann e seus sorrisos oceânicos.

A McLaren não ganha uma corrida desde 2012, e nos últimos dois anos tem comido o pão que o diabo amassou depois de reatar com a Honda. Esperava-se dos japoneses uma chegada arrasadora, já que a memória afetiva dos fãs da equipe se encontrava no final dos anos 80 e início dos 90.

Não foi o que aconteceu. A primeira temporada foi um desastre completo. A segunda, menos. Evolução houve. Mas nada que lembrasse remotamente a era Senna/Prost. Isso apesar de Alonso, que voltou à equipe depois de sair brigado no fim de 2007 e, é forçoso reconhecer, tem lutado feito um maluco para obter resultados à altura de seu talento.

Alonso completou dez anos sem um título, mas dá a impressão de que está guiando como nunca. E se é verdade que a impossibilidade de brigar na frente incomoda, é visível que o espanhol está em paz consigo mesmo. Justamente porque sabe que sua pilotagem tem sido impecável. Fora isso, tem sido leal a um projeto. Falou que foi sondado pela Mercedes para o lugar de Rosberg. Preferiu ficar, e ainda alfinetou o desafeto que o fez deixar o time em sua primeira passagem por lá.

No ano passado, Fernandinho pontuou em nove corridas e quebrou pouco — foram quatro abandonos, contra oito em 2015. Fez 54 pontos e terminou o Mundial em décimo — à frente, por exemplo, de Felipe Massa, que tinha um carro bem melhor. Em 2015, não havia passado do 17º lugar e marcara ridículos 14 pontinhos. Também frequentou o Q3 com mais assiduidade. Em 2015, se classificou entre os dez primeiros do grid apenas uma vez. Em 2016, foram oito.

[bannergoogle]É de se imaginar que a McLaren fará mais do que isso neste ano. Mas se for só um pouco mais, ninguém vai ficar feliz da vida. É preciso dar um salto de qualidade significativo. O nono lugar de 2015 foi uma calamidade. O sexto de 2016, quase aceitável. Mas a distância para a Williams, que terminou em quinto, foi de 62 pontos. Não houve briga. Essa pode ser uma meta realista: lutar pelo quinto lugar no campeonato. Mais do que isso será motivo para festa.

Muito vai depender daquilo que a Honda conseguir entregar. Sem a política dos tokens, as fábricas poderão desenvolver mais suas unidades motrizes. Só que de nada adiantará se começar a quebrar. São quatro motores por temporada, só. Os componentes elétricos da Honda quebram muito. Foram comuns as punições de Alonso e Button com perda de 50 ou 70 posições no grid por necessidade de troca de alguma coisa. Pifava tudo: fusível, relê, chicote, uma tragédia.

Stoffel Vandoorne será o companheiro de El Fodón. É um jovem muito talentoso que aproveitou bem a chance que teve no Bahrein, ano passado, ao substituir o asturiano — que tinha capotado na Austrália e ficou fora da corrida seguinte por determinação médica. Terminou em décimo, beliscou um pontinho e entrou nas estatísticas da categoria.

Apesar da sacanagem que fizeram com Ron Dennis, torço pela McLaren. Não é legal ver uma gigante se arrastando e colhendo migalhas. A equipe tem uma história gloriosa que precisa ser retomada. Que seja agora, pintada de laranja.

Ops, escrevi muito. Ao carro:

É bonito, não? Tem cara de carro de corrida. “Sexy”, disseram os dirigentes da McLaren na apresentação. “Vai ser sexy se for rápido”, ponderou Alonso, com razão.

Passei o dia atrás de alguém em Woking para conversar sobre o MCL32. Fui atrás de uma antiga fonte importante, com quem mantive um relacionamento dos mais cordiais desde o fim dos anos 80, quando comecei a cobrir essa bagaça.

Por motivos óbvios, não posso dizer seu nome. Mas tenho certeza que este é apenas um detalhe irrelevante diante das revelações que me fez. Segue a íntegra da conversa, já traduzida.

Flavio Gomes (FG) – Boa noite, como passou o Natal e o Ano Novo?
FCdaMCL (Fonte Chutada da McLaren) – Como você acha? Reunido com os cornos dos meus advogados.

FG – Ah, larga a mão, desapega.
FCdaMCL – Desapega o caralho.

FG – Bom, vamos falar de 2017. Cor nova, sigla diferente, início de uma nova era, não?
FCdaMCL – Nova era seu cu.

FG – Mas não ficou legal o laranja?
FCdaMCL – Enfia a laranja no rabo.

FG – As pessoas gostaram, os fãs adoraram.
FCdaMCL – Quero que os fãs se fodam.

FG – Me parece que os novos dirigentes estavam bem otimistas.
FCdaMCL – Eles que vão para a puta que os pariu.

FG – O senhor conversou com o Alonso sobre o novo carro, a nova fase?
FCdaMCL – Ele me excluiu do grupo do WhatsApp, aquele merda.

FG – Mas o Vandoorne, esse parece bem promissor.
FCdaMCL – Um fedelho que nem deve ter pelo no saco.

FG – A Honda prometeu um motor mais potente, você acredita que vai conseguir?
FCdaMCL – Aquela porra não serve nem pra colocar num Fit.

FG – Entendo… Me parece então que o senhor não está muito otimista com este renascimento.
FCdaMCL – Renascimento de cu é rola.

FG – Bem, muito obrigado pela entrevista.
FCdaMCL – Vai cagar você também.

Depois da despedida, fiquei alguns minutos refletindo sobre as voltas que o mundo dá.