SÃO PAULO (não quer colocar mais alguma coisinha no nome?) – Ora, ora, ora… Quer dizer que só W08 era pouco e os marqueteiros de Stuttgart decidiram bagunçar tudo?
Então comecemos do começo, explicando essa sopa de letras que resultou no nome do novo carro da Mercedes para o Mundial de F-1: W08 EQ Power+.
[bannergoogle]Segundo a fábrica alemã, tudo que for lançado no mercado a partir de agora pela Mercedes-AMG (a divisão esportiva) e pela Mercedes-Benz (a matriz) com motor elétrico vai levar “EQ” no nome. Como se sabe, os motores da F-1 são híbridos, a combustão e elétricos. Ainda de acordo com os caras, “EQ” significa “Electric Intelligence” e deriva do slogan “Emoção e Inteligência”. Então não deveria ser “EI”, perguntará alguém? Pois é, deveria — mais abaixo, graças a uma entrevista exclusiva que consegui com um funcionário muito graduado, isso também será explicado.
A nova geração do S-Class híbrido, por exemplo, vai levar na carroceria a estampa “EQ Power”. O carro de F-1 tem um “+” porque será assim com todos os modelos esportivos da AMG daqui em diante. A Mercedes explicou também que na pintura do novo carro foi usado um “visual azul elétrico” que “representa os fluxos de ar através do carro a partir da asa dianteira passando pelos sidepods”.
Tem gente que ganha salário para bolar e escrever essas coisas.
Muito bem. Ao que interessa, agora. A Mercedes apresentou seu carro novo hoje em Silverstone antes pelas redes sociais do que para a imprensa, adotando o lema “os fãs primeiro”. Que seja. Na sequência, Hamilton e Bottas deram umas voltas num dos traçados curtos da pista inglesa — todas as equipes têm direito a uma andada de 100 km para filmagens antes do início dos testes de pré-temporada, segunda que vem em Barcelona.
É elegante, não se pode negar. O prateado junto com o, vá lá, azul elétrico resulta numa combinação de bom gosto em termos cromáticos. Em outras palavras, é bonito e não ficou cafona. O carro não apresenta nenhuma aberração estética, nem mesmo as horríveis barbatanas que estão sendo usadas por outras equipes. Parece mesmo, como descreveu o Grande Prêmio, “basicão”.
[bannergoogle]A equipe informou que o W08 etc. tem apenas 17% de componentes usados no modelo do ano passado. Isso acontece porque o regulamento mudou bastante e, entre outras coisas, o conjunto de motores faz parte da estrutura do carro — mais rígida e robusta, já que haverá um aumento significativo de pressão aerodinâmica com as novas asas e pneus. Segundo a Mercedes, os F-1 de 2017 serão os mais rápidos da história. Essa era a intenção da FIA. O que não significa que as corridas serão melhores. Mais rápidas, certamente, em tempo de duração. Mas com menos ultrapassagens, também, já que as velocidades em curvas serão muito altas e a dependência da aerodinâmica, muito grande. Ficar colado em outro carro não será um bom negócio, em geral.
A demanda física, essa sim será enorme para os pilotos. Eles andam treinando bem seus pescoços. Bottas falou que está se preparando para isso há um bom tempo. Hamilton nem deve saber do que se trata. Conseguirá o finlandês fazer cócegas no inglês?
Eu, sinceramente, duvido. Não acho Valtteri nada demais. Mas bem que poderia queimar a língua, porque ver Hamilton irritado é divertido.
Agora vejam o bichão na pista:
Foi difícil encontrar alguém na Mercedes do alto escalão para contar alguns segredos desse carro, detalhes de sua concepção, histórias internas que pudessem comprometer alguém. Mas, depois de muito insistir, encontrei um velho amigo — a quem chamarei apenas de “Fritz” para que possa se manter no anonimato. Conversamos em alemão, e só agora terminei de traduzir.
Flavio Gomes (FG) – Porra, porque não atende o telefone?
Fonte da Mercedes (Fritz) – É que o meu ainda é Blackberry.FG – Aquele que parece uma calculadora científica HP?
Fritz – O meu é mais antigo ainda, lembra uma Dismac. Mas disseram que vão trocar.FG – Por um iPhone?
Fritz – Não, o meu vai ser um StarTAC.FG – Puta merda.
Fritz – Não reclamo. Não reclamo de nada aqui. Gosto dos meus chefes. O que quer saber?FG – Bom, primeiro, esse merda de nome. Por que não ficaram só com W08?
Fritz – Você sabe o que é esse “W”?FG – Wagen.
Fritz – Então. Nosso Departamento de Pesquisas concluiu que “wagen” lembra muito Fusca.FG – E levaram oito anos para descobrir isso?
Fritz – Nove. Começaram a pesquisa antes de a gente estrear.FG – Bom, OK, e o resto, esse monte de letras e de sinais?
Fritz – Prince usou um sinal como nome durante um tempo.FG – Sim, e ninguém conseguia dizer o nome dele. Você acha que alguém vai mesmo falar W08 EQ Power Mais?
Fritz – Plus.FG – Bom, foda-se, “mais”, “plus”, ficou uma merda isso. O que é “EQ”?
Fritz – Electric Intelligence.FG – Então tinha de ser “EI”.
Fritz – Mas não é.FG – Então explica.
Fritz – Estado Islâmico. Eles registraram.FG – Ah, entendi.
Fritz – Que bom.FG – Que merda é “azul elétrico”?
Fritz – É uma cor.FG – Isso não é nome de cor. Nome de cor é Azul Tramandaí, Azul Genebra, Azul Regata, Azul Imperial, Azul Riviera, Azul Estelar, Azul Danúbio. Azul elétrico não existe.
Fritz – A gente criou.FG – Pra quê?
Fritz – Para mostrar como funcionam os fluxos de ar em torno do carro quando eles passam pela asa dianteira e resvalam nos sidepods, lambendo as laterais, pairando placidamente sobre o assoalho e dirigindo-se à traseira com harmonia e graça.FG – Puta viadagem, isso.
Fritz – Foi o Rosberg que sugeriu.
Nessa hora me despedi, ainda encafifado com esse tal de azul elétrico, que não aparece na tabela de cores da Ford, nem da VW, nem da GM. Vou ver a da Fiat.