Blog do Flavio Gomes
F-1

XI, CHINA (3)

SÃO PAULO (mais animadinho…) – O precoce “temos um campeonato!!!!”, com milhares de exclamações e carinhas sorrindo das redes sociais depois da Austrália, sumiram. E bem agora que temos um campeonato? Será que está todo mundo dormindo? Gente esquisita… Sim, acho que temos um campeonato. Hamilton deu o troco e entendeu os pneus, como prometera […]

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Hamilton: 54 vitórias na carreira, quinta na China

SÃO PAULO (mais animadinho…) – O precoce “temos um campeonato!!!!”, com milhares de exclamações e carinhas sorrindo das redes sociais depois da Austrália, sumiram.

E bem agora que temos um campeonato?

Será que está todo mundo dormindo? Gente esquisita…

Sim, acho que temos um campeonato. Hamilton deu o troco e entendeu os pneus, como prometera depois de Melbourne. Venceu o GP da China de ponta a ponta e recebeu a bandeirada com folgados 6s250 sobre Vettel.

Só que poderia ter sido bem mais apertado, e é por isso que dá para dizer agora, com mais convicção do que depois de Albert Park, que temos um campeonato.

A bobeira que a Mercedes deu lá, de parar muito cedo, a Ferrari deu em Xangai. Vettel foi um dos que pararam no safety-car virtual do breve período de caos — aquele que Alonso queria — no início da corrida. A turma da frente achou prudente esperar um pouco e acabou dando sorte logo depois. Com isso, ele caiu de segundo para sexto e, aí, não teve a chance de atacar Lewis. Precisou remar bastante para recuperar o segundo lugar. E quando recuperou, era tarde.

[bannergoogle]Mesmo assim, sem uma disputa real pela vitória, foi bem bom o GP chinês. Se é verdade que a chuva não veio com o vigor que muita gente esperava, ela foi suficiente para deixar o asfalto tinhoso nas primeiras voltas. Estava molhado, não muito, mas molhado. E escorregadio. E frio, 13 graus. E, por isso, todos largaram — sem safety-car, alvíssaras! — com pneus intermediários. Todos, menos um: Carlos Sainz Jr. arriscou sair de supermacios, sofreu um pouco no início, escorregou pra cá, rodou pra lá, mas a aposta acabou sendo recompensada no final, com um belo sétimo lugar.

Sainz Idade não foi o único a sair dos boxes com borracha lisa. Até os pilotos da Mercedes fizeram isso para se dirigir ao grid, mas desistiram de largar com os “slicks” assim que estacionaram na reta principal. Hamilton chegou a escapar da pista nessa volta de instalação. Estava perigoso. Para quem largava na frente, um risco desnecessário.

A largada foi relativamente tranquila, chamando a atenção apenas a maneira como Vettel, segundo no grid, posicionou seu carro fora dos colchetes pintados no chão que indicam onde o sujeito tem de parar. Tião Italiano deixou o carro mais para o meio da pista, a direção de prova informou que iria investigar a aparente irregularidade, e depois ninguém mais tocou no assunto.

Mas logo de cara Strollvenga se atrapalhou com Pérez, rodou e atolou na brita. Safety-car virtual acionado, correu um monte de gente para os boxes para colocar pneus para pista seca — Vettel entre eles. Mas nem todos se apressaram. Hamilton, Bottas, Ricciardo, Raikkonen e Verstappen apareceram nas cinco primeiras posições, todos com os mesmos intermediários com que largaram. Sebastian caiu para sexto.

Verstappinho: de 16º no grid para terceiro no final, o grande nome da prova

Você falou Verstappen?

Sim, falei.

Mas ele não largou lá no cu do grid?

Sim, em 16º.

E como foi parar em quinto?

Bem, o próprio responde: “Acho que passei uns nove carros na largada. Parecia que estava jogando videogame”.

Se vocês estão pensando em Interlagos/2016, acertaram. No Brasil, com chuva, Max passou quase todo mundo de todas as maneiras possíveis. Repetiu a atuação em Xangai. Na entrevista do pódio, Hamilton, espantado, elogiou: “Esse menino parece achar fácil fazer ultrapassagens no molhado. Vou ter de assistir aos vídeos para ver direito como ele faz isso”.

Não foi um afago da boca para fora. Todos, de fato, ficaram bestas de ver como Max resolveu seu maior problema na corrida — a péssima posição no grid — rapidinho, para se colocar na luta por algo maior do que uma medíocre zona de pontos, ou algo do gênero. Não, o moleque queria bem mais. Um pódio, se possível.

Estavam todos ainda tateando a situação quando apagou a luz do safety-car virtual, mas nem deu tempo de acelerar direito. Giovinazzi deu uma rabeada na reta dos boxes e se enfiou no muro, motivando um safety-car de verdade para aumentar ainda mais o caos. Alonso estava adorando.

Como a Sauber do italiano ficou espatifada no meio da reta, a direção de prova solicitou que todos passassem por dentro dos boxes. Aí, quem não tinha colocado pneus “slicks” o fez. Hamilton foi um deles, claro. Ricciardo demorou um pouco mais, na segunda passagem pelo pit-lane, enquanto removiam os restos mortais do carro de Giovinazzi para limpar a pista. E Vettel, que poderia se dar bem por já ter feito a troca, acabou tendo de passar pelos boxes junto com todo mundo. Se a pista estivesse liberada, talvez pudesse até assumir a liderança. Deu azar.

[bannergoogle]Antes mesmo da relargada, na volta 7, Bottas rodou e foi lá para trás. Assim, noves fora e pneus lisos para todos, os seis primeiros eram Hamilton, Ricciardo, Raikkonen, Verstappen, Vettel e Alonso. Alonso!

Bem, teríamos uma corrida, então.

E tivemos. Verstappinho levou uma volta apenas para preparar o bote e atropelar Kimi, que reclamou de algo pelo rádio para não ficar feio — tipo centroavante que perde gol feito e olha para a chuteira e para o gramado para culpar ambos inapelavelmente pela própria grossura. Na volta 11, Max partiu para cima do companheiro de equipe e engoliu o australiano sem dó, nem piedade. Assumiu o segundo lugar e saiu à caça de Lewis.

A diferença entre ambos foi de mísero 1s3 na volta 14, mas Max tinha um probleminha que iria cobrar seu preço algumas voltas depois: estava com pneus supermacios, contra os macios (e mais resistentes) de Comandante Amilton. Um pouco mais para trás, quem começava a pagar o preço pelo pit stop na hora errada era Vettel. Estava atrás de Raikkonen, que por sua vez estava atrás de Ricciardo, e as duas Ferrari empacaram atrás da Red Bull do sorridente australiano por um tempão, e foi só na 20ª volta que o alemão conseguiu passar o finlandês numa manobra linda. Detalhe: pelo menos aparentemente, não houve ordens de equipe. Mesmo com Kimi atrapalhando Vettel, ninguém falou nada no rádio. Se falou, a transmissão da TV não mostrou.

E como pediram bis, duas voltas depois Sebastian foi para cima de Ricciardo, tocaram rodas, brigaram divinamente, até que a Ferrari emergiu na frente, agora em terceiro, 9s8 atrás do líder Hamilton. Vettel estava num dia inspirado. Socou o pé direito no acelerador e partiu para cima do jovem Max, que começou a ficar sem pneu. Na volta 29, o holandês errou uma freada e perdeu a posição para Tião Italiano. Ricciardo apareceu fungando na sua nuca, e antes que fosse ultrapassado na pista Verstappen parou para trocar seus pneus estropiados.

A partir daí, as coisas se acalmaram um pouco. Havia apenas uma dúvida no ar: será que quem está de pneu macio vai ter de parar de novo? Hamilton dizia pelo rádio que, se precisasse, iria até o fim. Ricardão nem falou nada, e trocou de novo — mas estava de supermacios. Quando Vettel foi para os boxes na volta 35, trocando seus macios por outro jogo igual, ficou evidente que todos fariam o mesmo. Parênteses: uma volta antes Alonso, que resistia estoicamente no sétimo lugar, abandonou com um problemas de transmissão. Uma pena, de partir o coração.

Hamilton fez sua segunda parada na volta 37, então, e não perdeu a ponta por um segundo sequer. Raikkonen era o segundo, mas ainda tinha um pit stop para fazer. Foi na volta 40 que parou, caindo para sexto. E as posições se acomodaram, com Lewis mantendo uma distância segura oscilando na casa de 8s para Vettel. Verstappinho, que recuperara o terceiro lugar com a parada de seu parceiro, foi vê-lo de perto de novo, com pneus melhores, nas últimas seis voltas. Mas não rolou. Ricciardo até esboçou um ataque, tentou no giro derradeiro, mas Max não iria entregar aquele troféu suado de graça.

Vettel cumprimenta o vencedor: na classificação, ambos tê 43 pontos

Hamilton venceu pela 54ª vez na carreira e quinta na China. Com seus cabelos desgrenhados e sorriso escancarado, foi para o pódio ao lado de Vettel — em quem deu um afetuoso abraço ainda no Parque Fechado — e de Verstappen, ambos felizes da vida. Todos sabiam que tinham oferecido um bom espetáculo. E todos estavam satisfeitos com o desfecho do domingo. Fecharam os pontos Ricciardo, Raikkonen, Bottas, Sainz Jr., Magnussen, Péres e Ocon. Só os oito primeiros terminaram a prova na mesma volta.

A turma que veio depois de Sapattos também tinha razões para se orgulhar, especialmente o dinamarquês da Haas, que fez uma corrida bonita e combativa para chegar nos pontos com justiça. Daí para trás, só tristeza. Grojã não conseguiu se recuperar do fundo do grid, Hulkenberg não fez valer a boa posição no grid para chegar pelo menos nos pontos e o mesmo aconteceu com Massa, 14º no final — um desastre para quem largara em sexto.

Duas corridas, o placar aponta 43 x 43 entre Vettel e Hamilton, uma vitória e um segundo lugar para cada. Raikkonen e Bottas, mui precocemente, já entenderam que serão coadjuvantes e que é melhor não atrapalharem os colegas. Mal vai dar tempo de respirar. Semana que vem tem Bahrein.

Sim, acho que temos um campeonato.