Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE ONTEM DE MANHÃ

SÃO PAULO (ainda) – Eu ia começar este “Sobre ontem…” com uma carta aberta ao meu amigo Galvão Bueno. Pediria a ele para olhar para os pequeninos. Para não ficar amaldiçoando a transmissão internacional da FOM porque ela não coloca no ar o rádio de quem ele quer ouvir na hora que lhe apetecer, ou […]

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Wehrlein, P8: corrida maravilhosa, abraço caloroso

SÃO PAULO (ainda) – Eu ia começar este “Sobre ontem…” com uma carta aberta ao meu amigo Galvão Bueno. Pediria a ele para olhar para os pequeninos. Para não ficar amaldiçoando a transmissão internacional da FOM porque ela não coloca no ar o rádio de quem ele quer ouvir na hora que lhe apetecer, ou de quem ele acha que é importante. Eu queria ouvir o pessoal da Force India, Galvão, depois do quarto e do quinto lugares de Pérez e Ocon. Era importante. A Force India é uma das coisas boas deste ano. Sabia, Galvão, que é a única equipe a pontuar em todas as corridas com os dois carros nesta temporada? Pois é. Há mais coisas importantes na F-1, Galvão, do que o vencedor e os brasileiros — no caso deste ano, “o” brasileiro. Imagine, amigo Galvão, se fosse Massa em quarto ontem. E entrasse o rádio da Williams antes do da Mercedes de Hamilton, que você queria ouvir e julgava mais importante que o da Force India. Você diria, Galvão, que “ninguém quer ouvir esse Massa aí”? Você, Galvão, queria na verdade chamar o comercial para voltar com as imagens do pódio. Mas a F-1 não se importa com os comerciais da Globo, Galvão. Está cagando para o “Esporte Espetacular” e para a grade da sua emissora. A F-1 é mais que o vencedor. É mais que o Brasil. A F-1 ontem era a Force India, também. E era o Wehrlein. Esse aí da foto que escolhi para abrir nosso pós-corrida. Galvão, você não citou o Wehrlein na transmissão! Ele chegou a ficar em quinto, salvo engano. Esteve quase a corrida toda em sétimo. Fez uma parada só, espertíssima, durante o safety-car virtual. Segurou a Toro Rosso a prova toda, com um carro que no ano passado era pilotado por um brasileiro, Felipe Nasr, que terminou a corrida de Interlagos em nono e, felizmente, pudemos ouvi-lo pelo rádio. E não me lembro de você ter praguejado contra a FOM por ter colocado o rádio da Sauber, em vez do da Mercedes — já que Hamilton tinha vencido. Foi excelente o rádio do Nasr ano passado em Interlagos. Emocionante, sincero, tocante. Wehrlein terminou em sétimo ontem, na pista. Mas foi punido, e você nem falou dessa punição, nem contou que por conta dela o jovem Pascal cairia para oitavo. Você podia ter contado, rapidamente, que Wehrlein é piloto da base da Mercedes, foi o mais jovem campeão da história do DTM, que ficou fora das primeiras provas do ano porque bateu na Corrida dos Campeões numa disputa com Massa na Flórida no fim do ano, que quase ficou aleijado, que é muito talentoso e por isso o amigo em casa deveria prestar atenção nele, que a Sauber conseguiu já na quinta etapa do campeonato mais do que fizera no ano passado inteiro, que isso pode salvar as finanças do time, e que graças a Wehrlein nove equipes já pontuaram neste ano, e a única exceção é a McLaren que já foi do seu amigo Ayrton Senna — olha aí, teria até um gancho para falar do nosso Ayrton. Por isso, Galvão, eu queria ouvir o rádio da Force India e queria ouvir também alguma coisa sobre o Wehrlein, porque esse negócio de só falar de brasileiro por décadas e de esquecer tudo que não seja o cara que vence, o segundo e o terceiro colocados ajudou a formar um público acrítico, desinformado, desinteressado, que não enxerga nada além do que mostram as imagens da TV, e que não se emociona e/ou se importa com nada que fuja desse roteiro pisado, repisado, rançoso e superficial que você e sua emissora julgam que ele, público, se interessa por.

[bannergoogle]Fale dos pequeninos, Galvão, olhe para o resto, isso ajuda as pessoas a gostarem da coisa. O GP da Espanha, ontem, foi muito mais do que a bela disputa entre Hamilton e Vettel. Foi, também, um domingo de espanto pelo desempenho ruim da Red Bull e pela performance abaixo da crítica da Williams. Foi, também, um domingo de ótimo trabalho dos pilotos da Toro Rosso. Foi, também, mais uma demonstração de renascimento da Renault, com o sexto lugar de Hülkenberg. Foi, também, um domingo em que oito das dez equipes chegaram na zona de pontos.

Não é legal isso, Galvão?

Bom, eu ia escrever uma carta aberta para ele, mas melhor não, as pessoas hoje ficam muito melindradas com qualquer coisa, e eu adoro o Galvão e não quero que ele fique melindrado comigo. Só queria que ele olhasse com mais carinho para tudo, até porque detesto ver as pessoas ofendendo meu amigo, dizendo que ele não entende nada, que não conhece corrida, que não percebe o que está acontecendo na pista. E isso é o que mais fazem nos comentários das redes sociais, com uma virulência inaceitável. Se o Galvão começar a olhar com mais atenção para algumas coisas que acontecem num GP de F-1, vai ajudar quem está assistindo a entender melhor o que se passa diante de seus olhos, e quem sabe até essas pessoas comecem a gostar do assunto. Já pensou se você ignorasse a pequena Toleman lá em 1984, Galvão? Ou a jovem Jordan em 1993? Ou a discreta Sauber em 2002?

Bom, vou ficar quieto para ele não brigar comigo. Tomara que nem leia isso aqui.

Hora do nosso tradicionalíssimo rescaldo pós-GP. Começamos com…

O NÚMERO ESPANHOL

A Mercedes fez ontem a melhor volta de uma corrida pela 50ª vez — Hamilton registrou 1min23s593 no finalzinho da prova, na volta 64. É um número redondo, mas não muito impressionante. Nesse ranking, a liderança é da Ferrari, com 239. Ainda aparecem na frente da Mercedes a McLaren (153), a Williams (133), a Lotus (76) e a Red Bull.

Falei pouco ontem da batida na largada, que tirou Raikkonen e Verstappen da corrida. Ambos culparam Bottas. Bottas disse que não fez nada de propósito, é bonzinho e jamais prejudicaria alguém. Tendo a concordar com ele — e creio que os comissários também concordaram, porque ele não foi punido. Acidente na largada é a coisa mais normal do mundo. Porque piloto é meio burro, às vezes. Acha que dá para fazer tomada e tangência. Não dá. E não gosta de frear para evitar batidas. No caso de ontem, Kimi achou que dava para fazer tangência e Bottas não quis enfiar o pé no freio. No fim das contas, o menos culpado e maior vítima do episódio foi Verstappinho.

Vettel x Massa: de novo?

Outra treta notada e olimpicamente desprezada por mim no texto de ontem foi a de Vettel com Massa, de novo, no fim da corrida. Não falei nada porque achei que não aconteceu nada. OK, Sebastian perdeu tempo, mas perde-se tempo com retardatários quase sempre. Quando chega no cara num lugar difícil de passar, mais ainda. Aconteceu com Felipe de novo, coincidência infeliz, apenas. E não mudou a história da corrida. Próximo assunto, pois.

Sainz versus Magnussen na saída dos boxes merece algumas palavras? Sim, pela decisão da direção de prova de não punir ninguém. Adoro essa tolerância recém-instalada na F-1. God save Liberty! E falando nela, veja aqui como o estímulo ao uso das redes sociais tem dado resultado desde o início do ano, com uma nova narrativa das corridas tendo nascido imediatamente a partir da visão de cada evento por parte de equipes, pilotos e, claro, torcedores.

Por outro lado, os comissários foram intolerantes — e com razão — com a Force India, única equipe que não respeitou a determinação de identificar direito seus pilotos com números grandes e as primeiras letras de seus nomes. Meteram uma multa de 85,5 mil têmeres golpistas. Mas até nisso estão sendo bonzinhos: a multa não precisará ser paga se a equipe ajeitar as coisas. De fato, não dá para ver os números dos carros de Ocon e Pérez. Coisa fácil de resolver.

Ocon ou Pérez? Não dá para ver o número, mas ambos arrebentaram a boca do balão em Barcelona

Mas dá para ver bem os números de desempenho da equipe, que completou mais uma prova nos pontos — são 17 seguidas, e 15 para “Checo” Pérez. Neste ano, a Force India é a única que pontuou com seus dois carros em todas as provas — acho que já falei isso. Ocon tem impressionado pela maturidade. Pérez, pela regularidade. Quarto e quinto não é pouca coisa, não. Claro que os abandonos de Kimi, Bottas e Verstappen ajudaram. Mas é bom olhar com afeto para esses carros cor-de-rosa. São bem melhores que os da Williams. E, na classificação, a Force India está em quarto, apenas 19 pontos atrás da Red Bull.

[bannergoogle]Falando nos pontos, acho que também já mencionei que a McLaren é a única equipe zerada no ano, e achei que daria alguma coisa ontem. Mas o choque de Alonso com Massa na largada estragou a corrida de ambos. Fernandinho foi até o fim bravamente, se disse feliz por ter terminado a corrida — foi a primeira vez que viu a quadriculada no ano — e se mandou para os EUA. Hoje já anda em Indianápolis. “Descanso no avião”, falou, correndo para o aeroporto. Sobre o ex-companheiro, a propósito, Hamilton disse que morre de pena: “Você pode ser o melhor de todos e não ter nada, na F-1”. Tem toda razão.

Em Barcelona, aliás, o Grande Prêmio ouviu bastante gente sobre a aventura do espanhol na Indy. A maioria curtiu demais a ideia. Fernandinho está, como se dizia antigamente, na crista da onda. Só se fala nele, inclusive na Mercedes. Toto Wolff, por exemplo, acha que não pensar no asturiano para o futuro é uma burrice. Olho nesse namoro, então.

Button, interessadíssimo (mode ironia: on), vai hoje a Woking andar no simulador para se preparar minimamente para o GP de Mônaco. No fundo, está odiando interromper as férias.

Ainda na McLaren, faltou dizer que o pobre Vandoorne, punido com dez posições no grid sábado por trocar o motor, recebeu outra punição por bater em Massa ontem e vai perder posições no grid de Mônaco. Oh, céus, oh, vida.

Mas, meu caro Gomes, não vai falar nada do Hamilton, que ganhou a corrida, a 55ª da carreira, se recuperando da Rússia e o escambau de Madureira? Ele mesmo fala:

Lewis: admiração por Vettel

A FRASE DE BARCELONA

“Perdi dois quilos nessa corrida. Estava suando bicas para manter Seb atrás de mim. É um privilégio correr contra alguém tão bom como ele.”

Quanto amor… Ah, esse “suando bicas” é uma licença sudorípara deste que vos bloga. Achei que cabia a expressão.

E faltou dizer algo?

Faltou.

Faltou falar mais do garotinho que derreteu os corações embrutecidos do povo do automobilismo, que arrancou um sorriso de Raikkonen, que fez todo mundo lembrar de como é gostoso ser criança e puro. Ele, Thomas, vai para nossa premiadíssima seção “Gostamos & Não gostamos”. E gostamos, claro! Adoramos!

Renault tirou casquinha

GOSTAMOS…

…não só do que a a F-1 e a Ferrari fizeram ao levar o menininho para o motorhome, como também de como ele foi paparicado por todo mundo no paddock, dando entrevistas, tirando fotos e conversando com outros pilotos, como Hülkenberg >>>. A Renault meteu um bonezinho nele! Aliás, gostamos também do sexto lugar de Nico, que fez ótima corrida.

Pneu furou, Williams zerou

NÃO GOSTAMOS…

…nada, nada, nada da <<< Williams, que zerou e caiu para sexto entre as equipes, sendo superada pela Toro Rosso na tabela (21 x 18). E a Renault, com 14, está na cola. Para quem tinha saído cheio de otimismo da pré-temporada, péssima notícia. Massa atribuiu sua desgraça pessoal ao pneu furado na largada.

Para fechar, o cartum da corrida do nosso genial Maurício Falleiros (cada vez mais genial) e uma informação interessante: nos três dias de GP, 177.984 pessoas passaram pelas catracas de Montmeló. É um público considerável.

Agora vamos virar nossa própria chavinha para ver como vai se sair El Fodón de Las Américas em Indianápolis. Hasta!

Falle1ros