Blog do Flavio Gomes
Automobilismo internacional

LE MANS, SEMPRE

RIO (ufa) – Não foi um sumiço programado. Ainda mais em final de semana de Le Mans. Mas tive de restaurar meu computador por um bug qualquer na manhã de sábado, e quem já passou por tal desespero sabe como é. Felizmente está tudo recuperado. E vamos à luta. Como fez o Porsche #2 desde […]

lemans171

RIO (ufa) – Não foi um sumiço programado. Ainda mais em final de semana de Le Mans. Mas tive de restaurar meu computador por um bug qualquer na manhã de sábado, e quem já passou por tal desespero sabe como é.

Felizmente está tudo recuperado. E vamos à luta.

Como fez o Porsche #2 desde a noite de ontem, para vencer em Sarthe depois de cair para a 57ª posição — penúltima entre os 58 que estavam na pista, quanto teve um problema sério no eixo dianteiro após a terceira hora da corrida. Até então, andava sossegado em quarto e acompanhava de perto os dois carros da Toyota que puxavam a fila, com mais um Porsche, o #1, à frente.

[bannergoogle]O tempo perdido nos boxes deixou o #2 nada menos do que 18 voltas atrás do líder, o Corollão #7. De todos os carros de fábrica da LMP1, era aquele que parecia ter ficado fora de combate mais cedo. Para ter alguma chance de vitória, teria: 1) de torcer por quebras de três Toyotas e de um Porsche; e 2) ele mesmo chegar ao fim sem mais problemas.

Os três Toyotas quebraram — verdade que um deles acabaria voltando à pista, mas atrasado demais. O outro Porsche, também, a pouco menos de quatro horas do final, quando sua vitória parecia certa. O #2, não. E por conta da debacle dos favoritos, pela primeira vez na história de Le Mans com o regulamento atual um carro da LMP2 liderou a prova na classificação geral — o Oreca #38 da equipe do ator Jackie Chan na altura da 21ª hora da corrida –, e com chances reais de vencer. Afinal, estava quebrando todo mundo.

Fui dar uma olhada no hora a hora da corrida para entender a evolução do #2, pilotado pelo trio Bernhard/Bamber/Hartley a partir do momento em que despencou para a rabeira do pelotão. Coloquei entre parênteses a posição do Oreca #38 de Jackie Chan, que poderia vencer protagonizando uma zebra monumental se o #2 não acelerasse feito um maluco. Vejam como foi a 19ª vitória da Porsche em Le Mans:

Hora 5 – 55º lugar, 65 voltas. Líder: Toyota #7, 83 voltas (Oreca #38: 78 voltas)
Hora 6 – 54º lugar, 18 voltas atrás do Toyota #7 (12 atrás do Oreca #38)
Hora 7 – 50º lugar, 18 voltas atrás do Toyota #7 (12 atrás do Oreca #38)
Hora 8 – 36º lugar, 18 voltas atrás do Toyota #7 (11 atrás do Oreca #38)
Hora 9 – 32º lugar, 19 voltas atrás do Toyota #7 (11 atrás do Oreca #38)
Hora 10 – 21º lugar, 18 voltas atrás do novo líder Porsche #1 (10 atrás do Oreca #38)
Hora 11 – 16º lugar, 18 voltas atrás do Porsche #1 (9 atrás do Oreca #38)
Hora 12 – 16º lugar, 18 voltas atrás do Porsche #1 (9 atrás do Oreca #38)
Hora 13 – 14º lugar, 17 voltas atrás do Porsche #1 (7 atrás do Oreca #38)
Hora 14 – 13º lugar, 17 voltas atrás do Porsche #1 (7 atrás do Oreca #38)
Hora 15 – 10º lugar, 17 voltas atrás do Porsche #1 (7 atrás do Oreca #38)
Hora 16 – 10º lugar, 17 voltas atrás do Porsche #1 (6 atrás do Oreca #38)
Hora 17 – 10º lugar, 17 voltas atrás do Porsche #1 (6 atrás do Oreca #38)
Hora 18 – 10º lugar, 17 voltas atrás do Porsche #1 (5 atrás do Oreca #38)
Hora 19 – 8º lugar, 17 voltas atrás do Porsche #1 (4 atrás do Oreca #38)
Hora 20 – 6º lugar, 16 voltas atrás do Porsche #1 (3 atrás do Oreca #38)
Hora 21 – 2º lugar, 1 volta atrás do novo líder Oreca #38
Hora 22 – 2º lugar, 2min45s504 atrás do Oreca #38
Hora 23 – 1º lugar, 1min33s056 à frente do Oreca #38
Hora 24 – 1º lugar, 1 volta à frente do Oreca #38

Os carros da P1 eram cerca de 10s mais rápidos por volta que os da P2 (arredondando, 3min20s para 3min30s na pista de mais de 13 km de extensão). Foram 17 horas de maratona para descontar as 13 voltas de atraso em relação ao surpreendente carro pilotado por Tung/Laurent/Jarvis, que manteve um ritmo fortíssimo durante toda a corrida e terminou em segundo na geral. Uma façanha, assim como foi uma proeza o terceiro na geral do trio Piquet/Heinemeier-Hänsson/Beche, da Vaillante Rebellion.

Nelsinho recebeu a quadriculada com duas voltas de atraso em relação ao Oreca #38, que completou 366 voltas ao final de 24 horas. O Porsche #2 dos vencedores completou 367. Um grande segundo lugar para o brasileiro em sua classe, portanto. Ainda na P2, o terceiro colocado também foi um carro de Jackie Chan, que fechou o fim de semana com uma atuação memorável.

Era importante para a Toyota chegar com algum carro na P1, porque a pontuação em Le Mans é dobrada para a classificação do WEC. O #8 voltou à pista terminou a corrida 9 voltas atrás dos vencedores. Um prêmio de consolação para uma marca que não sei o que acontece nessa corrida — ano passado perdeu na última volta, lembram? Os japoneses eram francos favoritos, vieram com três carros, contra dois dos alemães. O #9 deu apenas 160 voltas e o #7, 154. Quebraram os dois praticamente ao mesmo tempo. Um desastre.

Na P2, Barrichello disputou as 24 Horas pela primeira vez e terminou em 12º com um Dallara da Racing Team Nederland. André Negrão foi o quarto no trio da Alpine e quinto na geral, um resultado excepcional. Bruno Senna, da Rebellion, ficou em 15º. Todos esses carros usam motores Gibson, padronizados pela FIA. São portentosos V8 de 4,2 litros que também equipam os protótipos da European Le Mans Series. Bill Gibson, dono da empresa, foi o criador da Zytek, que começou nessa brincadeira nos anos 80, produzindo sistemas de gerenciamento eletrônico para várias marcas. O motor Hart da Toleman de Senna, em 1984, tinha o dedo dele. A Zytek foi durante anos fornecedora de motores da F-3.000, da A1GP e da World Series by Renault e, depois, Nissan. Quebram pouco. Dos 25 que largaram na P2, só quatro não terminaram.

A briga mais espetacular, em que pese a beleza da escalada do Porsche #2, aquele em quem ninguém apostaria um marco alemão, aconteceu na GT Pro. O Aston Martin #97 de Turner/Adam/Serra conquistou a liderança na penúltima volta ao passar o Corvette #63 de Magnussen/Garcia/Taylor, que acabou furando um pneu e terminou em terceiro, sendo ultrapassado ainda pelo Ford GT #67 de Priaulx/Tincknell/Derani, segundo colocado.

Sim, dois brasileiros nesse pódio, e um deles, Daniel Serra, ganhando logo na primeira participação. Sensacional. Pipo Derani, apesar de jovem, já tinha corrido antes em Le Mans. Mas foi sua primeira de GT, e primeira com a equipe oficial da Ford. Ambos de parabéns. Dos oito brasileiros que largaram, três no pódio — os meninos da GT Pro, mais Nelsinho na P2. Faltou falar de Tony Kanaan, sexto na GT Pro também com Ford, e de Fernando Rees, que correu de Corvette na GT Am e ficou em 15º na sua categoria.

Dos 60 carros que largaram, apenas 11 não chegaram ao final. Assim, pode-se dizer que tivemos 49 vencedores neste que é o mais longo dos dias, um dia de loucura e mágica, como escreve Rodrigo Mattar em seu blog — nosso maior especialista no assunto.

Porque terminar as 24 Horas é sempre uma vitória, para qualquer um.