Blog do Flavio Gomes
F-1

DDR NA F-1

RIO (que história!) – Graças ao Renato Breder, que postou um comentário no texto sobre minha passagem por Eisenach, fiquei sabendo que a EMW teve uma breve passagem pela F-1, no GP da Alemanha de 1953. E que a gloriosa DDR, de alguma forma, esteve na categoria representada pelo piloto Edgard Barth — que depois […]

barthedgar

RIO (que história!) – Graças ao Renato Breder, que postou um comentário no texto sobre minha passagem por Eisenach, fiquei sabendo que a EMW teve uma breve passagem pela F-1, no GP da Alemanha de 1953. E que a gloriosa DDR, de alguma forma, esteve na categoria representada pelo piloto Edgard Barth — que depois emigraria para a Alemanha Ocidental.

A história é muito boa, então vamos contar com aquilo que pude pesquisar rapidamente.

Barth nasceu em Herold-Erzegeberge (pequeno distrito de Thum, na Saxônia) em 1917 e na juventude foi piloto de motos da DKW, cuja fábrica ficava ali perto. Depois, migrou para os carros e passou a correr de BMW. Quando a fábrica de Eisenach foi nacionalizada e virou EMW (para entender, vejam o relato neste post), ele começou a correr pela marca.

[bannergoogle]A Alemanha Oriental foi fundada só em 1949, e Edgar, então, passou a ser cidadão da DDR. Mas as restrições para sair do país, antes de ser levantado o Muro, em 1961, não eram tão rígidas. Como era bom piloto, vivia correndo do lado ocidental. A Porsche, inclusive, o convidou para ser piloto oficial. Ele foi, mas sempre que tinha de disputar alguma prova fora do país sua mulher e seu filho tinham os passaportes apreendidos para não fugirem, obrigando o cara a voltar.

Um dia, em 1957, Barth venceu uma prova em Nürburgring e, diz a lenda, na cerimônia de pódio tocaram o hino da Alemanha Ocidental, em vez do belíssimo tema da Alemanha Oriental. Aparentemente ele não deu muita bola. Os agentes do governo que o acompanhavam, claro, relataram o episódio às autoridades e a vida começaria a ficar complicada para ele.

No fim daquele ano, então, a esposa e o filho de 10 anos, Jürgen, pegaram um trem até Berlim e, aproveitando certo relaxamento na fronteira num feriado, se pirulitaram para a Alemanha Ocidental e nunca mais voltaram.

Edgar tinha disputado já o GP da Alemanha em 1953 pela EMW, que inscreveu uma linda baratinha R2 com motor BMW 2.0 na corrida com o numeral #35 — tem miniatura, aceitamos. Largou em 24º e abandonou com problemas no escapamento. Foi a única presença de piloto e carro alemães orientais na categoria. Depois, ele voltaria a correr três GPs pela Porsche e um pela Cooper, já emigrado.

O curioso é que o filhote Jürgen se envolveria com automobilismo, também, como mecânico e, depois, engenheiro da Porsche. Para a marca de Stuttgart, foi navegador e piloto de rali no fim dos anos 60 e, em 1977, venceu nada menos do que as 24 Horas de Le Mans ao lado de Jacky Ickx e Hurley Haywood.

Edgar morreu cedo, aos 48 anos, de câncer. Não viu Jürgen correr, mas deixou nele a herança de grande piloto.

E nos anais de Eisenach está lá: um carro feito na cidade disputou um GP de F-1. Fiquei sabendo hoje. Meus blogueiros sempre ensinando alguma coisa…