Blog do Flavio Gomes
F-1

SPANADAS (3)

SÃO PAULO (com fome) – Bom, coloquem aí na lista dos GPs da Bélgica que não serão lembrados para toda a eternidade o de hoje. Quando um piloto como Hamilton vive uma fase muito boa, tem um carro excepcional e vai para uma prova num circuito que casa com o equipamento que tem, a chance […]

beldom171

SÃO PAULO (com fome) – Bom, coloquem aí na lista dos GPs da Bélgica que não serão lembrados para toda a eternidade o de hoje.

Quando um piloto como Hamilton vive uma fase muito boa, tem um carro excepcional e vai para uma prova num circuito que casa com o equipamento que tem, a chance de alguma surpresa reside apenas em fatores que não lhe digam respeito — como um retardatário retardado, um maluco que invade a pista, uma chuva repentina, ou dois companheiros de equipe débeis mentais que decidem resolver no braço suas diferenças.

[bannergoogle]Foi o que quase aconteceu, graças aos amalucados Sergio Pérez e Esteban Ocon. A dupla da Force India, que ainda vai se matar numa curva qualquer por aí, voltou a aprontar. De um jeito perigoso. E coloque-se na conta do mexicano a insanidade. Foi na volta 30, na descida da Eau Rouge. Ocon tinha saído melhor da Source. Colocou o carro por dentro, entre o muro e o de Pérez, e faria a ultrapassagem, provavelmente. Valia o décimo lugar.

A Eau Rouge, como se sabe, é esquerda-direita. Pérez teria a primeira perna para seu lado, mas a segunda seria de Ocon. O francês começaria a subida da Raidillon na frente, mas Checo poderia tentar dar o troco pegando o vácuo na retona Kemmel para arriscar algo na freada para a Les Combes. É o que qualquer ser civilizado faria.

Mas Pérez resolveu espremer Ocon no muro a 300 km/h. Ocon resolveu não tirar o pé. Os dois se tocaram e milagrosamente sobreviveram. Não rodaram, não voaram, não bateram. Flertaram com a morte. O saldo foi um pneu furado no carro do mexicano, que abandonaria a prova no final. Esteban ainda pontuou. Detalhe: na primeira volta eles também tinham se tocado na mesma descida.

Esses meninos deveriam estudar um pouco, procurar saber o que aconteceu entre Bellof e Ickx em 1985 no Mundial de Marcas, lá mesmo em Spa. Os dois corriam pela Porsche. Bellof morreu.

Essa luta insana motivou a entrada do safety-car numa prova que vinha sendo disputada burocraticamente por quase todo mundo, dando a chance de uma relargada que poderia mudar um quadro imutável desde a primeira volta. Como ficaram pedaços de carro da Force India pela pista, os comissários tiveram de limpar a área e, com isso, todos foram aos boxes para um segundo pit stop — a primeira janela de paradas tinha começado na altura da volta 12.

[bannergoogle]Hamilton, que liderava com segurança — sempre mantendo uma diferença entre 1s5 e 2s para Vettel –, colocou pneus macios. O alemão ferrarista espetou ultramacios. Teríamos ainda 14 voltas com os dois grandes duelistas da temporada usando pneus bem diferentes. Uma briga que poderia animar o dia.

Mas ela se resumiu mesmo à relargada. Como dito ontem, é a chance de passar em Spa: embutir no adversário na Eau Rouge e tentar o vácuo lá em cima. Sebastian teve essa chance duas vezes: na primeira volta, e na 34ª, quando foi autorizado o tenso reinício do GP da Bélgica. Mas Lewis se defendeu muito bem em ambas. E quando contornou a Les Combes na frente, já se sabia que só perderia a posição se cometesse algum erro, ainda que, na parte final da corrida, tivesse pneus mais duros que os do rival.

Mas no caso da Mercedes, os ultramacios não eram a melhor escolha, mesmo. Mais rápida no início de sua vida útil, logo a borracha gosmenta começava a dar sinais de fadiga. Foi assim nas primeiras voltas, quando Hamilton teve alguma dificuldade para desgarrar da Ferrari de Tião Italiano.

Tendo evitado a ultrapassagem na largada e na relargada, o resultado só poderia ser o que acabou sendo: mais uma vitória para Comandante Amilton, a quinta no ano, 58ª na carreira, e mais alguns pontinhos descontados na luta pelo título. Tudo isso no dia de seu 200º GP.

Vettel segue líder, agora sete pontos à frente. Chegou a Spa com 14 de vantagem, mas não tinha do que reclamar. A Mercedes foi, mesmo, mais rápida durante todo o fim de semana. O pódio foi completado por Ricciardo, que fez uma bela corrida. Contou com algumas intempéries de quem poderia chegar à sua frente, verdade, mas mereceu.

Verstappinho, por exemplo, quebrou de novo. Estava em quinto quando perdeu potência do motor e abandonou pela sexta vez no ano, ficando irritadíssimo. Raikkonen, que era o quarto no começo da corrida, foi punido com um stop & go porque justamente na hora em que Max estacionava o carro quebrado havia uma bandeira amarela e ele não tirou o pé.

Bottas, tranquilo em terceiro até o safety-car, é que acabou sendo inapelavelmente ultrapassado pelo australiano da Red Bull, na relargada. Por ele e por Kimi, também, que graças ao safety-car se recuperou bem, depois de cair para oitavo, e voltou ao quarto lugar. Linda manobra, inclusive. De ambos. Valtteri ficou no meio da pista e tomou de Ricciardo pela esquerda e de Raikkonen pela direita — lembram de Hakkinen x Schumacher com Zonta no meio em 2000?

O finlandês acabou em quinto, depois de uma atuação muito apagada, se distanciando de vez de qualquer possibilidade de lutar pelo título, algo que eu nunca acreditei que iria acontecer, de qualquer forma. O finlandês está com 179 pontos, 41 atrás de Vettel e a 34 de Hamilton. Não faria nenhum sentido, agora, incomodar o britânico. Será que aquela gentileza da Hungria vai custar caro? Seja como for, acho que fizeram o certo, lá. Todos: Hamilton, Mercedes, Bottas. Se o preço for perder o título por três pontos, paciência.

Depois de Sapattos, fecharam a zona de pontos Hülkenberg (tem feito uma grande temporada), Grosjean, Massa (sua melhor corrida no ano, saindo de 16º para oitavo no final), Ocon e Sainz Jr.

E nada mais a relatar. De Mick Schumacher e Sérgio Sette Câmara, falamos em outros posts. Sobre a comédia Alonso e suas lamúrias pelo rádio, amanhã. Agora vamos aproveitar o domingo de sol, inclusive porque a Lusa ganhou mais uma.