Blog do Flavio Gomes
F-1

MONZÍSTICAS (3)

RIO (de volta) – Bom, o Mundial tem um novo líder. E o novo líder arrancou a liderança de um piloto da Ferrari na casa da Ferrari. E olha que a Ferrari não chegava a Monza com um piloto na liderança desde 2012. Para agravar ainda mais o quadro, o novo líder, no dia anterior, […]

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RIO (de volta) – Bom, o Mundial tem um novo líder. E o novo líder arrancou a liderança de um piloto da Ferrari na casa da Ferrari. E olha que a Ferrari não chegava a Monza com um piloto na liderança desde 2012. Para agravar ainda mais o quadro, o novo líder, no dia anterior, já havia derrubado um recorde absoluto, o de poles, que pertencia ao maior ídolo da Ferrari.

Demais, não? Que fim de semana espetacular. Nossa, quanta emoção. Puxa, que coisa sensacional, a torcida da Ferrari deve estar louca da vida, quebrou tudo, vai pichar os muros de Maranello.

Sei.

O GP da Itália foi é muito sonolento, isso sim. Desculpem, mas sem chuva a gente consegue adivinhar o que vai acontecer nessa corrida sem grande esforço. Hamilton na pole, Vettel em sexto no grid, alguns menos votados entre eles, como Bottas, com sol e céu azul dá no quê? Vitória de Hamilton, Bottas em segundo e Vettel em terceiro.

O que deu? Isso aí.

Tem um único piloto que pode se gabar de ter feito um corridão. E nem foi ao pódio. Trata-se de Ricciardo, 16º no grid e quarto no final. Ele tinha o terceiro tempo na classificação, mas foi punido como quase todo mundo por trocar alguma coisa indevida no carro, e teve de largar atrás. Aliás, Hamilton foi o único — repito, o único — piloto no grid que largou na real posição que conquistou na classificação de ontem — essa sim divertida, debaixo d’água e interminável.

[bannergoogle]É resultado dessa regra estapafúrdia que pune pilotos o tempo todo por troca de componentes que quebram o tempo inteiro, ou que chegam ao fim de sua vida útil, e antes que quebrem, melhor trocar. É resultado da opção feita por esses motores híbridos que sempre me pareceram igualmente estapafúrdios, com seus acumuladores de volts e regeneradores de fumaça quente. Mas isso é coisa para a Liberty resolver a partir do ano que vem.

A prova começou como se imaginava. Lewis largou bem e Stroll, segundo colocado, não quis dar uma de herói e perdeu a posição já na primeira chicane para Ocon, o terceiro. Raikkonen passou Bottas e no fim da primeira volta o mercêdico recuperou-se sobre o conterrâneo por fora na Parabólica, na solitária manobra verdadeiramente bonita das 53 voltas do GP.

Enquanto estavam todos mais ou menos próximos, o que em Monza só acontece no início, uma ou outra treta foi registrada pelas autoridades de plantão. Verstappinho, por exemplo, tentou passar Massa na primeira chicane e eles se tocaram. O pneu dianteiro direito do holandês furou e ele ficou resmungando pelo rádio. Caiu para último. Foi na terceira volta. A direção de prova considerou o toque normal e não puniu ninguém, felizmente. Até porque foi normal, mesmo.

Vettel, que já tinha passado Raikkonen e Stroll sem muita dificuldade, assumiu o terceiro lugar na oitava volta. E, daí em diante, nada de muito notável se viu em Monza. Porque Bottas já tinha se estabilizado em segundo e, na volta 13, Tião Italiano estava 8s3 atrás do líder, que tinha um ritmo bem melhor. Não haveria muito o que fazer com uma diferença que aumentava a cada passagem pela linha de chegada.

[bannergoogle]Raikkonen abriu os trabalhos de box na volta 16. Ele vinha brigando com Ocon e Stroll, e nesse trio aí quem acabou caindo na troca de pneus foi o jovem canadense, superado pelo ferrarista graças a uma parada mais rápida. O desfile seguiu sem novidades até a volta 32, quando Vettel parou. Até ali, os cinco primeiros eram os únicos que ainda não tinham feito o pit stop único previsto para a prova: Hamilton, Bottas, Vettel, Ricciardo — que largou com pneus médios, para adiar ao máximo a troca — e Pérez.

Sebastian foi para os boxes na 32ª volta, e depois vieram Hamilton e Bottas. As posições, já que nenhum mecânico esqueceu o pneu na garagem e todas as pistolas de apertar a rosca funcionaram perfeitamente, se mantiveram, com o inglês tranquilo na frente. Ele vinha mantendo seu companheiro a uma distância nunca inferior a 4s e o alemão da Ferrari se encontrava longe pacas, mais de 22s atrás.

Quando Ricciardo parou, na volta 38, deu alguma esperança de disputa para a reta final da corrida. Isso porque caiu de terceiro para quinto, só que agora com pneus supermacios, bem mais velozes, e chances de chegar nos que estavam à sua frente.

O australiano se esforçou, é preciso reconhecer, para emprestar alguma emoção ao povo que lotou as arquibancadas do autódromo. Passou por Raikkonen na volta 41 e partiu para cima de Vettel, um pouco mais distante. A diferença, de 11s nessa volta, foi caindo rapidamente até chegar a 4s8 na volta 50. Mas Sebastian tinha a situação totalmente sob controle e não chegou a ser ameaçado de verdade. Nem o Galvão se empolgou demais.

A dobradinha da Mercedes levou Hamilton a 238 pontos na tabela, contra 235 de Vettel. Estava sete pontos atrás, saiu de Monza três à frente, encerrando a fase europeia do campeonato em viés de alta, como se diz. Demorou 13 corridas para assumir a ponta, e terá sete para mantê-la. Será fácil? Não. Algumas pistas que vêm pela frente, como as de Cingapura e Abu Dhabi, são francamente favoráveis à Ferrari. OK, talvez “francamente” seja um exagero, mas são circuitos onde não há um favoritismo claro da Mercedes, como em Spa e Monza — onde Lewis deitou e rolou. Por isso, o caldo vermelho ainda não azedou de vez. Calma, Vettel, calma.

Ricardão, Raikkonen, Ocon, Stroll, Massa, Pérez e Verstappen fecharam a zona de pontos, que teve, na última volta, uma briga rápida pelo oitavo lugar entre Pérez e Massa. O brasileiro ficou boa parte da corrida atrás de seu companheiro de Williams, mas não tentou ultrapassá-lo em momento algum — na última volta, ao colocar de lado, apenas avisou que se ele não se apressasse, Pérez passaria os dois. Um misto de conformismo com falta de vontade de criar confusão, assim interpretei. E, sendo bem sensato, não faria mesmo muito sentido, do ponto de vista da equipe, uma briga que pudesse ameaçar as posições de ambos — o time colocou os dois nos pontos, já estava de bom tamanho.

E o domingo terminou com as lindas imagens de sempre em Monza, com a torcida invadindo a pista e fazendo festa para pilotos e equipes.

A corrida, porém, não merecia tanta gratidão.