Blog do Flavio Gomes
Tecnologia

WILLIAMS ELÉTRICA

RIO (morreremos antes?) – Uma coisa é certa. Por bem ou por mal, equipes de F-1 que se transformaram em empresas de tecnologia vão acabar surfando na onda da eletricidade. Ao menos por um tempo, até as grandes montadoras engolirem todo mundo depois de concluídas as fusões inevitáveis dos maiores grupos, que formarão no futuro […]

FW-EVX_01

RIO (morreremos antes?) – Uma coisa é certa. Por bem ou por mal, equipes de F-1 que se transformaram em empresas de tecnologia vão acabar surfando na onda da eletricidade. Ao menos por um tempo, até as grandes montadoras engolirem todo mundo depois de concluídas as fusões inevitáveis dos maiores grupos, que formarão no futuro a Grande Fábrica Universal de Automóveis — que vai dominar o planeta e fazer todos os carros que dirigiremos (ou nos quais seremos levados por aplicativos) na Terra até o fim dos tempos.

É o caso específico de Williams e McLaren, cujos negócios, hoje, extrapolam bastante o mundinho do automobilismo. Talvez por isso, inclusive, vivam momentos tão opacos nas pistas.

Talvez as prioridades sejam outras.

Como se sabe, as duas estão com um pé na Fórmula E, por exemplo, desenvolvendo e fornecendo sistemas de armazenamento de energia, gestão eletrônica e baterias para os carros da categoria. Ambas têm departamentos de engenharia e tecnologia que possuem vasta clientela em campos muito diversos.

[bannergoogle]A Williams Advanced Engineering — que motiva este post –, hoje, atua no automobilismo, claro, mas também na indústria automobilística e em setores tão distintos quanto defesa militar, náutica e saúde, prestando serviços de desenvolvimento de sistemas de energia mais eficientes, uso de novos materiais, tecnologia esportiva, termodinâmica e o escambau de Madureira. Até um equipamento para reduzir o consumo de energia de refrigeradores em supermercados e lojas de conveniência está sendo desenvolvido em Grove.

(Daí, talvez, a aerodinâmica de geladeira dos carros da equipe — comentário meu, maldoso e desnecessário, porque é isso que falam do meu Lada, que tem aerodinâmica de geladeira, ou de máquina de lavar roupa.)

O mesmo se passa na sede futurista da McLaren em Woking, que hoje se chama McLaren Technology Group, e não McLaren Motorsport, ou McLaren Formula One, ou coisa que o valha. O grupo engloba outras divisões, inclusive a de corrida — essa, sim, McLaren Racing –, e empresta seu nome e capacidade técnica à indústria farmacêutica, ao setor energético, ao de transportes e ao de engenharia médica.

Feita a longa introdução, chegamos ao ponto. A Williams Advanced Engineering apresentou hoje a plataforma FW-EVX para carros elétricos, pensando na transição que a indústria de automóveis viverá nos próximos anos de forma acelerada e irreversível. A ideia da “ex-equipe-atual-empresa-de-tecnologia”, claramente, é fornecer tal plataforma — ultraleve, eficiente, ecológica, segura, linda etc. e tal — para montadoras, pelo que entendi.

O “chassi-conceito”, se assim podemos chamar essa trapizonga aí em cima, inclui obviamente as baterias e os sistemas de refrigeração que a Williams vem desenvolvendo também na Fórmula E. E ainda avança na aplicação de componentes de fibra de carbono para as suspensões, bem mais leves e resistentes do que as peças em alumínio que são usadas normalmente.

Resumo da ópera, a F-1 é um detalhe, atualmente, para essa turma que nasceu nas garagens inglesas e hoje cisca em outras searas. Aos poucos, as corridas estão se transformando numa exentricidade para essas empresas que, também aos poucos, vão acabar mudando de mãos. Ninguém deve se iludir com o caráter familiar da Williams, cuja ponta mais visível tem papai Frank e filhota Claire nas telas da TV a cada GP. Da McLaren, Ron Dennis já espirrou.

Não há mais espaço para velhos garagistas, em lugar nenhum. O que é triste.