Blog do Flavio Gomes
F-1

O FIM, ENFIM

RIO (finais & finais) – Não lembro exatamente o que escrevi ano passado quando Felipe Massa anunciou sua aposentadoria, mas creio que deve ter sido o mesmo que vou escrever agora. Que teve uma carreira bonita, digna, que dá para ser feliz fora da F-1 e das pistas, que a decisão de parar é difícil, […]

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RIO (finais & finais) – Não lembro exatamente o que escrevi ano passado quando Felipe Massa anunciou sua aposentadoria, mas creio que deve ter sido o mesmo que vou escrever agora. Que teve uma carreira bonita, digna, que dá para ser feliz fora da F-1 e das pistas, que a decisão de parar é difícil, claro, mas sempre pessoal — e não merece contestação –, e possivelmente lhe desejei uma boa vida.

A única, e grande, diferença entre o que aconteceu em 2016 e o que está acontecendo agora é que desta vez não foi ele quem resolveu colocar um ponto final nessa história, e sim a Williams. Massa voltou a pedido da equipe, que perdeu Bottas de repente, e queria continuar. Estou me fiando em suas últimas entrevistas, todas elas demonstrando o desejo de seguir.

Ocorre que a equipe, em nenhum momento, considerou sua permanência. Não sei, talvez nunca saibamos, em que termos as conversas internas ocorreram. Nem se ocorreram. Será que a Williams falou com Felipe quando saiu caçando piloto para um vestibular? Conhecendo a Fórmula 1 e sua gente como conheço, pode ser que não. O que, em certa medida, mostraria algum desrespeito aos quatro anos do brasileiro na casa.

[bannergoogle]Mas pode ser que sim, também, e que Massa tenha sido alertado da decisão do time de colocá-lo, no máximo, numa lista — o que, sem precisar de tradução, significaria claramente que não tinha interesse em mais um ano. Fala-se muita coisa indiretamente na F-1, é tudo uma questão de compreender o significado de palavras, comunicados e decisões. Talvez o piloto devesse entender o recado imediatamente. Talvez alimentasse alguma esperança. Sei lá. Mas, para mim, no exato instante em que a Williams falou em Kubica e Di Resta ficaram evidentes suas intenções — aliás, Kubica vem sendo apontado como favorito à vaga, que ganhou mais dois pretendentes nos últimos dias, Wehrlein e Kvyat.

De qualquer forma, a novela durou pouco e, aparentemente, Felipe chegou à conclusão, depois de alguns dias de reflexão e conversas com os mais próximos, que a fila andou e ele já não faz mais parte dela. “Respeito” foi palavra que o brasileiro usou em muitas de suas recentes declarações, dando a entender que a situação era bem incômoda — Victor Martins fala sobre isso no seu blog, em texto brilhante. Mas não vou aqui demonizar a Williams porque, de novo, sei como as coisas funcionam na F-1. As frituras são lentas e, na medida em que o óleo vai esquentando, as relações vão-se deteriorando e o ambiente começa a se tornar esquisito.

Massa é um jovem de 36 anos que, se quiser, ainda pode continuar correndo. Agora é a hora de pensar no futuro, e se ele se imagina por mais algum tempo em carros de corrida, terá de considerar as poucas opções que se lhe apresentam.

Uma seria a Fórmula E. Uso o condicional porque para a quarta temporada, já era. Restava uma vaga na Andretti, que foi fechada nesta semana. E o campeonato está para começar, daqui a um mês. O WEC vive um momento de indefinições e incerteza. Um piloto de seu calibre seria interessante para equipes de fábrica, mas só vai sobrar a Toyota. Os EUA podem ser um destino, assim como mergulhar de cabeça na Stock, como fez Barrichello com muito sucesso.

Não vejo, porém, o mesmo perfil em Felipe. Rubinho é um tarado por corridas e às vezes dá a impressão de só não estar correndo de alguma coisa quando se deita para dormir. É preciso cuidado nessa hora. Corre-se o risco de virar um Villeneuve, por exemplo, vagando por categorias aqui e ali sem muito critério, como se fosse um fantasma, até ninguém mais se interessar por ele. Outros, como Webber, optaram por um fim de carreira sólido e quando perceberam que já não havia mais nada, pararam de vez — o australiano se mandou quando soube que a Porsche faria o mesmo. Há também o exemplo recente de Rosberg, que saiu por cima, campeão, e foi cuidar da vida e nem cogita seguir correndo.

O mais importante é ter certeza daquilo que se quer fazer e perceber que as coisas chegam ao fim, para todo mundo. Por mais que seja doloroso e, num primeiro momento, tire o chão de seus pés.

Foi, não será de novo, lembre. Frase que adoro e uso sempre. A F-1 acabou para Massa, mas a vida obviamente, não. Ele saberá lidar com isso. Que tenha duas ótimas corridas finais em Interlagos e Abu Dhabi, e siga em frente.

E sobre o fato de o Brasil ficar sem um piloto no grid pela primeira vez desde 1970, quando Emerson Fittipaldi estreou, falaremos mais tarde.