

RIO (sem surpresas) – Stoffel Vandoorne ainda nem tinha começado a dar entrevista para falar da sua primeira vitória na Fórmula E — e também a primeira da Mercedes na categoria, de quebra com dobradinha –, e a Venturi já fazia circular, em suas redes sociais e no seu site, o comunicado que informava a saída de Felipe Massa da equipe.
O anúncio foi feito agora há pouco em Berlim, onde em nove dias os elétricos concluíram com seis corridas a temporada 2019/20 — iniciada no fim do ano passado na Arábia Saudita e interrompida depois da quinta etapa, no Marrocos, em 29 de fevereiro. As provas foram todas realizadas no aeroporto de Tempelhof.
Massa disputou duas temporadas na Fórmula E. Foram 13 corridas na primeira e 11 na segunda. Chegou à superpole cinco vezes e pontuou em oito provas. Foi ao pódio apenas uma vez, em Mônaco, com um terceiro lugar em maio de 2019.
A temporada #6, que acabou de terminar na Alemanha, foi muito ruim. O brasileiro marcou míseros 3 pontos e terminou o campeonato em 22º. Seu companheiro, o obscuro Eduardo Mortara, fez 40 e foi o 14º. Massa só não foi pior do que dois pilotos entre aqueles que disputaram todas as corridas da competição — Oliver Turvey, da péssima Nio, e Nico Müller, da horrível Dragon (ambos zeraram).
O fato é que Felipe não gostou da Fórmula E e a Fórmula E não gostou de Felipe. Nada deu certo. Quando ele fechou com a Venturi, havia no ar uma possibilidade de o time monegasco, associado à Mercedes, ser uma ponte para a equipe oficial da marca alemã, que faria sua estréia na temporada seguinte. Não foi. A Mercedes se acertou com Vandoorne e De Vries, e se tinha alguma intenção de recrutar Massa por seu currículo e experiência, abandonou a ideia ao observar seu desempenho nos últimos dois anos.
Felipe diz, no comunicado oficial da equipe, que “em breve falará sobre seus planos para o futuro”. Não sei se há muito futuro no automobilismo internacional para um piloto como ele, que fez 39 anos em abril e, claramente, já viveu o auge da carreira. Correu na F-1, venceu GPs e fez poles com a Ferrari, foi vice-campeão em 2008, teve uma sobrevida digna na Williams, e quando ficou sem cockpit acabou indo parar na Fórmula E — uma categoria em ascensão.
E não é culpa dele, este futuro incerto. Claro que Massa, aos 39 anos, ainda sabe pilotar carros de corrida e poderia esticar a carreira por mais algum tempo. O problema é que falta lugar para um piloto como ele correr. O DTM, que vinha sendo um refúgio interessante para quem saía da F-1 com alguma idade, está definhando. O WEC assistiu, nas últimas temporadas, à fuga de marcas como Audi e Porsche. A Indy nunca esteve em seu radar. Correr no Japão, na Austrália? Não, isso faz sentido para quem está começando a carreira, ou para quem já fez a vida nesses mercados — caso claro de João Paulo de Oliveira no Japão.
Sobra a Stock. Aí, sim, acho que Felipe tem lugar se estiver disposto a recomeçar. Porque se trata de um recomeço, sim, e seu amigo Rubens Barrichello pode lhe explicar bem. E não é só estar disposto a recomeçar nas pistas, não. É estar a fim de mudar de vida, talvez voltar a morar no Brasil depois de anos em Monte Carlo, encarar uma realidade totalmente diferente daquela a que ele e sua família se acostumaram. Além do desafio técnico, claro. E, igualmente, Rubinho pode ser um ótimo conselheiro nessa hora. Barrichello foi para a Indy depois da F-1 e fracassou. Soube pular fora quando percebeu que não era a dele e conseguiu dar a volta por cima na Stock. Mas Rubens é muito apaixonado, viciado, obcecado por corridas. Por isso se deu bem e, aos 48 anos, continua competitivo e lutando por vitórias e títulos no Brasil. Eu diria até que ele ajudou a mudar a Stock por dentro — a categoria, antes dele chegar, era um pega-pra-capar que dava até medo.
Felipe teria paciência e tamanha dedicação para tomar esse caminho? Não sei, sinceramente. Ele ocupa, hoje, um cargo importante na FIA na administração do kart pelo mundo. Há alguns anos, criou com a Fiat duas categorias no Brasil, o Trofeo Linea, com carros de Turismo, e a F-Futuro, com monopostos de base. Perdeu dinheiro com a iniciativa, que não recebeu a devida importância do automobilismo brasileiro, mas aprendeu bastante e mostrou que tem ideias para o esporte. Imaginá-lo como dirigente no futuro não é nenhum absurdo.
Mas acho que, no fim das contas, ele acaba na Stock. Não será nada difícil para ele arrumar bons patrocinadores para disputar o campeonato. E é um ótimo piloto. Seus dois anos de Fórmula E, muito ruins, não são representativos do talento e competitividade que sempre demonstrou. E, acredito, não arranham sua reputação.
Deu errado, apenas. Às vezes acontece.