Blog do Flavio Gomes
F-1

ESTRANHO APAGÃO

RIO (já folguei bastante) – Muito esquisito esse apagão de Lewis Hamilton nas redes sociais. O cara apagou todos os posts no Instagram? Bom, não fui checar, não tenho muita paciência — embora seja seu “seguidor” — e meu celular está carregando em outro cômodo de minha mansão, a uma distância considerável. Mas se o […]

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RIO (já folguei bastante) – Muito esquisito esse apagão de Lewis Hamilton nas redes sociais. O cara apagou todos os posts no Instagram? Bom, não fui checar, não tenho muita paciência — embora seja seu “seguidor” — e meu celular está carregando em outro cômodo de minha mansão, a uma distância considerável. Mas se o pessoal do Grande Prêmio diz que sim, é porque sim. Eles seguem todo mundo e monitoram tudo. Dei uma olhada na sua conta do Twitter, agora, aqui no computador. A primeira postagem visível é de outubro de 2013 e tem essa foto aí no alto que nem sei de onde é. Pelo jeito, ele apagou os rastros dos últimos quatro anos de sua vida nessa outra rede. É realmente insólito.

“Apagou os posts no Tweeter e no Instagram” pode parecer algo frívolo, mas nos tempos em que vivemos, e tratando-se de alguém tão ativo no smartphone quanto Hamilton, não é. É notícia. As celebridades — e os anônimos, entre os quais me incluo — têm usado as redes sociais para se comunicar, dar recados, emitir opiniões, informar. Sobre qualquer assunto: o que comeram, onde passaram a virada de ano, com quem estão namorando, o look para esta noite, tudo, basicamente. Mas fiquem trabquilos. Não vou elaborar nenhum tratado sobre o uso dessas mídias, esqueçam. Elas são o que são, sua utilização é bem disseminada, fazem parte do dia a dia das pessoas e todo mundo sabe exatamente sobre o que estou falando.

Há alguns anos, nem tantos assim, achávamos estranho quando alguém deixava o telefone fora do gancho. Não desejava ser encontrado/a, não queria papo, estava fora do ar. Hoje, sumir das redes sociais é equivalente a tirar o telefone do gancho — expressão que já nasceu velha, pois que se referia aos aparelhos bem antigos, muito antigos mesmo, aqueles que tinham efetivamente um gancho no qual se pendurava o auscultador, também conhecido como “fone”; aliás, há outras expressões ligadas aos velhos telefones, como “discar o número” (havia um disco, vejam na mesma foto aí do lado, e era através dele que se marcava o número do cidadão com quem se queria conversar; é daí que vem “disk-pizza”, por exemplo, com esse “k” ridículo) e “cair a ficha” (nos antigos telefones públicos, conhecidos aqui no Brasil como “orelhões“, usavam-se fichas metálicas, como moedas, para obter uma linha; quando alguém atendia do outro lado, a ficha literalmente caía dentro da caixa metálica do aparelho, escutava-se seu ruído, e então o usuário saía do estado quase catatônico de espera em que se encontrava enquanto ouvia o som da chamada, pensando na vida e no que dizer na hora em que a ficha caísse, e só então despertava para a realidade: opa, caiu a ficha, ele/ela atendeu, não dá mais para adiar nada, tenho de falar, preciso resolver essa parada, é isso que significa “cair a ficha”, de nada pela explicação, se quiserem posso explicar também por que a gente diz “tocar” o telefone).

Por que Hamilton fez isso? Porque escreveu uma bobagem sobre meninos com roupas de meninas no Natal num post sobre seu sobrinho? Pode ser. Ficou chateado com a merda que fez — e percebeu, o que já é louvável — e resolveu dar um tempo. Parece pouco? Ora, como saber? Ele se desculpou, mas talvez não tenha achado que desculpas eram o bastante. Também me arrependo às vezes de algumas coisas que digo ou escrevo. O uso das redes sociais é, acima de tudo, um exercício permanente de auto-vigilância. A gente fala e escreve muita merda na vida, precisa se controlar e, sobretudo, avaliar bem aquilo que pensa e como se expressa. As palavras que ficavam ao vento não ficam mais. É bom isso. E essa preocupação deve ser ainda maior quanto mais pessoas possam ser atingidas por suas próprias sandices.

Esse sumiço do hiperativo e quase hedonista Lewis Hamilton dá margem a especulações, é normal que seja assim. No limite, tem gente achando que ele vai surtar, desaparecer, se enfiar numa cabana no Peru e parar de correr. Seria chocante, mas não exatamente uma surpresa.

Só que eu acho que não vai acontecer nada disso. Daqui a pouco ele ressurge e, se quiser, explica. Se não quiser, não explica nada. Outro efeito colateral das redes é essa percepção equivocada de que todos têm de explicar tudo o tempo todo. Não têm. Para além da internet, muito além, há uma vida real pulsando por aí. E cada um que cuide da sua.

Feliz 2018 para todos.