Blog do Flavio Gomes
F-1

SING A SONG (3)

RIO (não é mole, não) – Bom, acho que acabou, né? A cara do Vettel acima diz tudo sobre este Mundial. Depois da vitória de hoje em Singapura, Hamilton abriu 40 pontos sobre o alemão. No breve momento em que a Ferrari pareceu ter um carro um pouco melhor, acabou levando um toco atrás do […]

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RIO (não é mole, não) – Bom, acho que acabou, né? A cara do Vettel acima diz tudo sobre este Mundial. Depois da vitória de hoje em Singapura, Hamilton abriu 40 pontos sobre o alemão. No breve momento em que a Ferrari pareceu ter um carro um pouco melhor, acabou levando um toco atrás do outro — a exceção foi Spa.

Vamos fazer uma breve análise das últimas cinco provas, a partir da Inglaterra, quando Sebastian ganhou “na casa deles” e ficou oito pontos na frente do inglês. Hamilton ainda vinha de um abandono na Áustria, momento ruim para ele no campeonato. Esses oito pontos após Silverstone não foram a maior vantagem do ferrarista sobre o mercêdico no ano. Depois da segunda etapa, no Bahrein, chegou a 17. Mas era comecinho de temporada, nada que desesperasse demais os prateados. Entre outros motivos, porque foram aquelas corridas que a gente chama de “atípicas”, com resultados determinados mais pelo Sobrenatural de Almeida do que, propriamente, por uma eventual diferença técnica intransponível entre os carros.

Então, voltemos aos últimos cinco GPs. Depois de ganhar na Inglaterra, a sequência era: Alemanha, Hungria, Bélgica, Itália e Singapura. O cenário para a Ferrari e Vettel era animador. Em Hockenheim não havia favoritismo muito claro para ninguém. Em Budapeste, nem a Mercedes esperava grande coisa. Spa e Monza, pistas muito velozes, deixavam os italianos animados. E em Marina Bay, se é verdade que na era híbrida a Mercedes não tem do que reclamar — são quatro vitórias em cinco corridas –, dava para encarar, pelo menos.

E o que aconteceu?

Na Alemanha, Hamilton venceu e Vettel bateu sozinho, zerando. Na Hungria, uma chuva no sábado deu a pole a Hamilton, que aproveitou o ensejo e ganhou de novo, com o alemão em segundo. Na Bélgica, Sebastian deu o troco. Mas se deu mal na Itália por não ter feito a pole, esfregou rodas com Lewis na primeira volta, caiu para último, terminou em quarto e viu o inglês levar mais uma. E hoje, um terceiro lugar discretíssimo graças a um pit stop ruim e na hora errada, que lhe fez perder o que poderia ser um aceitável segundo lugar.

Resultado: em cinco GPs, Hamilton marcou 118 pontos. Vettel, 70. Vamos fazer mais contas, e bem conservadoras. Se Vettel e a Ferrari não tivessem cometido tantos erros, ele poderia ter 25 pontos a mais pela Alemanha (o que faria Lewis ter sete a menos, se chegasse em segundo), pelo menos seis a mais pela Itália (se chegasse em segundo, digamos, em vez de quarto) e três a mais por Singapura (não fosse a parada equivocada, era muito possível). Seriam 34 pontos a mais. E Hamilton teria feito sete a menos. E o placar apontaria, hoje, 275 a 274 para… Vettel.

E teríamos um campeonato.

Mas não temos mais. Está dando tudo muito certo para o britânico, que além de tudo está guiando como nunca, em real estado de graça — estou ficando repetitivo. E na Ferrari, parece que a maionese desandou. Lewis ganhou hoje com 39s9 de vantagem para Vettel, o terceiro. Raikkonen chegou em quinto. Ambos, ontem, levaram uma surra de Hamilton na classificação. A tendência, de agora até o fim da temporada, é ver essa diferença só aumentar. O pentacampeão que será proclamado neste ano é Hamilton, não Vettel. A situação está absolutamente sob controle. E, do lado de lá, o controle já foi perdido.

Para vencer em Singapura, Hamilton teria de largar com segurança e contar com alguma cautela de Verstappen e Vettel. O roteiro sonhado se concretizou, porque Max não partiu bem e teve de se ocupar com o alemão nas primeiras curvas. Isso permitiu que Lewis se colocasse rapidamente à frente, sem ser ameaçado. Vettel foi agressivo e passou o jovem holandês. E logo entrou o safety-car, antes de fechar a primeira volta, depois da primeira presepada de Sergio Pérez no domingo: bateu no companheiro Esteban Ocon e jogou o rapaz no muro.

Na hora, achei que tinha sido um incidente típico de corrida. Mas ao rever a imagem de dentro do cockpit do mexicano, dá para perceber que ele vira sutilmente o volante para a direita, sem a menor necessidade. Ocon preferiu não entrar em polêmica e falou que “todo mundo viu o que aconteceu”. Mais tarde, na volta 34, Pérez atirou seu carro para cima de Sirotkin, impaciente que estava e irritado por não conseguir ultrapassar o pobre soviético da Williams. Uma manobra ridícula, que lhe custou apenas um drive-through. Merecia mais, o nervosinho “Checo”.

A relargada se deu na quinta volta e as posições se mantiveram: Hamilton, Vettel, Verstappen, Bottas, Raikkonen e Ricciardo nas seis primeiras posições. Mais do mesmo. E assim foi até Vettel resolver parar na 15ª volta, para colocar ultramacios. Na volta seguinte, Hamilton fez seu pit stop e colocou macios. E todos os outros fizeram o mesmo. Apenas Sebastian optou por uma borracha que possivelmente o levaria aos boxes mais uma vez.

Quando Verstappen parou, na volta 18, conseguiu voltar na frente de Sebastian, que perdera tempo atrás de Pérez na sua volta à pista. Ali a corrida morreu para ele. No fim das contas, nem precisou parar de novo. Mas seus pneus nitidamente não entregaram o que ele esperava. Ficou correndo sozinho até o final, em terceiro.

Houve um soluço de susto para Hamilton quando chegou nos retardatários na volta 37, permitindo a Verstappen uma aproximação improvável. À frente deles Grosjean e Sirotkin brigavam por posição e atrapalharam todo mundo. Mas assim que Hamilton passou, abriu de novo. E foi embora até receber a bandeirada para vencer pela sétima vez no ano, 69ª na carreira. Max e Vettel fecharam o pódio, o primeiro feliz da vida, o segundo derrotado até a alma. Bottas, Raikkonen, Ricciardo, Alonso, Sainz Jr., Leclerc e Hülkenberg fecharam a zona de pontos. Palmas, aí, para Alonso, para a Renault e para o menino Charles. Os demais foram, para dizer o mínimo, burocráticos.

A chance de uma reversão no quadro que parece irreversível é uma quebra ou alguma grande bobagem de Hamilton nas próximas duas ou três corridas, desde que Vettel converta eventuais intercorrências do rival em vitórias. Mas, sendo bem sincero, não parece muito provável, não. Como disse lá em cima, acho que acabou, mesmo.