Blog do Flavio Gomes
F-1

NA CASA DO DÚ (9)

SÃO PAULO (sol com nuvens, 26°C) – Bom dia, macacada. Aquela promessa descabida de ontem de lembrar todos os 30 GPs que cobri aqui no Brasil tende ao fracasso e ao abandono, já que me empolgo, começo a escrever sem parar e acabam saindo textões enormes, como o de ontem sobre a corrida de 1990. […]

SÃO PAULO (sol com nuvens, 26°C) – Bom dia, macacada.

Aquela promessa descabida de ontem de lembrar todos os 30 GPs que cobri aqui no Brasil tende ao fracasso e ao abandono, já que me empolgo, começo a escrever sem parar e acabam saindo textões enormes, como o de ontem sobre a corrida de 1990.

Mas vou tentar ser bem sucinto, bem mesmo, nas memórias avulsas das provas seguintes. Começando com a histórica de 1991, primeira vitória de Ayrton Senna no Brasil.

Foi a primeira e a mais emocionante, porque teve uma certa carga dramática e tal. Nas últimas sete voltas o brasileiro ficou apenas com uma marcha, mas como tinha uma enorme vantagem para Patrese acabou ganhando. Se a corrida tivesse mais uma volta, o italiano levaria.

Do que lembro? Bom, como era editor de Esportes da “Folha”, aquele era nosso grande evento do ano. Não podíamos perder nada, e a concorrência com os outros grandes jornais brasileiros era forte, quase doentia.

Senna, depois da corrida, foi para sua casa na zona norte, e tivemos problemas para mandar repórter e fotógrafo para lá, o que me deixou pistola da vida. Acho que não saímos na edição de segunda com foto dele em cima do muro acenando para os vizinhos e torcedores que foram até lá.

Lembro também que o Gugelmin, coitado, teve uma queimadura no warm up e não aguentou as dores na prova, tendo de abandonar depois de algumas voltas.

No autódromo, eu fui o “setorista” de Senna — fiquei atrás do cara o tempo todo. O “abre” — texto principal de uma cobertura que contém várias páginas e matérias — ficou a cargo do Mario Andrada e Silva, que já estava morando em Paris e era meu repórter exclusivo de F-1. Ele veio de lá para se juntar à nossa equipe em Interlagos.

Como de costume, Ayrton atribuiu a vitória a Deus. Teve ainda aquela presepada toda de não conseguir levantar o troféu Piazza no pódio. Achei meio forçado. Mas naqueles tempos, qualquer coisa que Senna fizesse dava ibope.

No pódio, Senna levanta o troféu: vitória com uma marcha só

No ano seguinte, ninguém esperava uma repetição a façanha da temporada anterior. A Williams tinha um carro tão espetacular, que qualquer vitória de outra equipe só seria possível em caso de quebras de Mansell e Patrese. Os dois haviam feito dobradinhas, nessa ordem, nas duas primeiras provas do ano, na África do Sul e no México. No Brasil não foi diferente.

Senna quebrou no início e ao final o resultado de Kyalami e do Hermanos Rodríguez se repetiu. Schumacher, o terceiro colocado, tomou uma volta da dupla da Williams. E Patrese chegou meio minuto atrás.

Na minha lembrança, foi um dos GPs do Brasil mais chatos de todos os tempos. Mansell, que não curtia muito correr por aqui, viva reclamando de calor, de ondulações, de quase tudo, acabou dando declarações de amor ao país e festejou sua vitória com uma bandeirinha dupla que fora feita por fiscais da corrida na véspera — já tinham combinado com ele de entregar ao final da prova, já que todo mundo sabia que ele ia ganhar.

Mansell: vitória tranquila em 1992

Legais mesmo foram os dias anteriores, com a chegada da Andrea Moda, a dificuldade para montar um carro, as Kombis das oficinas nas redondezas indo vindo atrás de peças, e Moreno chegando aos boxes com a alavanca de câmbio na mão depois da primeira volta.

O carro não se classificou, claro. Foram apenas quatro voltas e lembro que o melhor tempo foi coisa de 15 ou 20 segundos pior que o último da pré-classificação.

E teve também o caos na McLaren, que trouxe seis carros para Interlagos, três do modelo novo, três do anterior. A equipe vinha levando surras seguidas da Williams “de outro planeta” — definição de Senna, que salvo engano usou a expressão pela primeira vez — e desenvolvia sua própria suspensão ativa, que nunca chegou aos pés do sistema da rival.

Andrea Moda e caos na McLaren, minhas lembranças de 1992. Depois continuamos.