Blog do Flavio Gomes
F-1

AUSSIES (1) – OH, QUE CHOQUE!

RIO (de volta à programação normal) – Bom dia, macacada. Tive de fazer um bate-volta em São Paulo de quinta para sexta que embananou bem meus últimos dias. Por isso necas de comentários sobre os treinos livres de Melbourne ontem. Explicado. Falemos da classificação da madrugada. Hamilton fez a pole, 84ª da carreira e sexta […]

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“Oi, carro bonito. Você vem sempre por aqui?”

RIO (de volta à programação normal) – Bom dia, macacada. Tive de fazer um bate-volta em São Paulo de quinta para sexta que embananou bem meus últimos dias. Por isso necas de comentários sobre os treinos livres de Melbourne ontem. Explicado.

Falemos da classificação da madrugada. Hamilton fez a pole, 84ª da carreira e sexta seguida na Austrália. No total, agora, Lewis tem oito em Melbourne, igualando recordes de Senna (em Imola) e Schumacher (Suzuka) — os pilotos que fizeram mais poles num mesmo circuito na história.

Mais números relevantes, para não deixar escapar nada:

– Hamilton entra na sua 13ª temporada tendo feito poles em todas;

– O inglês ganhou duas vezes na Austrália, em 2008 (pela McLaren) e 2015 (pela Mercedes). Portanto, não tem tido facilidade para converter suas poles em vitórias em Melbourne. É o que anima a Ferrari. Em alguma coisa os italianos têm de se agarrar…

– No ano passado, a maior diferença que a Mercedes impôs num grid à Ferrari foi justamente no circuito australiano, 0s664 de Hamilton sobre Raikkonen. Agora, 0s704 dele mesmo para Vettel. Em 2018, Sebastian venceu no Albert Park. É o que anima a Ferrari. Em alguma coisa os italianos têm de se agarrar…

Essa diferença surpreendeu todo mundo. Inclusive Hamilton. Nas entrevistas depois da classificação, ele se disse “chocado”. “Eles perderam performance”, respondeu quando um repórter fez a prosaica, óbvia e necessária pergunta “o que foi que aconteceu?”. Para o inglês, é a única explicação. “Não fizemos nada no carro desde Barcelona, é basicamente o mesmo acerto, apenas andamos com bem menos combustível. Achamos que eles estavam na frente”, falou. E o resto foi o blablablá de sempre sobre o trabalho da equipe, a incrível Mercedes, os fãs e sua energia positiva.

Foi estranho mesmo. OK, a Mercedes deu aquele salto no último dia da pré-temporada, mas a falta de consistência havia sido tamanha nos outros treinos de Barcelona que enfiar uma luneta dessas em quem saíra da Espanha como favorita não era uma coisa que alguém pudesse esperar. Não tão rápido.

Mas como Melbourne nunca pinta um quadro muito claro do campeonato — fornece pistas, mas é sempre preciso relativizar um pouco –, não vamos dar o título como ganho já. Talvez seja prudente esperar mais umas… 24 horas, no máximo.

Hahaha, que engraçado.

A seguir, pílulas de observação, conhecimento e sabedoria para quem não viu nada de madrugada (e se não viu, corram ao Grande Prêmio que está tudo lá):

– Leclerc, sobre quem recai enorme expectativa, ficou apenas em quinto depois de um desempenho francamente promissor nos treinos livres. Mas não deu muitas desculpas. Admitiu que suas voltas no Q3 foram ruins, mesmo, por conta própria.

Leclerc: sem desculpas, as voltas é que foram ruins mesmo

– Puxa, Verstappen foi o quarto colocado e Gasly ficou em 17º, nem passou do Q1. Como é ruim esse Gasly. Não, coitado. A Red Bull até pediu desculpas. Fez cagada ao estabelecer uma estratégia de apenas uma saída com pneus macios, deu merda nas voltas de aquecimento e carga de bateria para os motores elétricos (que porre, isso), depois jogou o moleque na pista num trânsito digno de hora do rush na Marginal. Enfim, uma sequência de erros que estragou o sábado do francês.

– Falando nela, a Red Bull, dado interessante. Com Verstappinho em quarto, a Honda coloca seu motor numa segunda fila do grid pela primeira vez desde o GP da Áustria de 2016, com Button na McLaren. Mas, como sempre, é preciso ponderar certas estatísticas. Aquela classificação em Zeltweg foi maluca, com chuva, pista secando, pilotos se atrapalhando, punições a granel. No fim, o inglês apareceu na segunda fila sem nem saber direito como. Antes disso, a temporada em que a Honda frequentou com assiduidade as primeiras filas fora a de 2006, com o mesmo Button e Barrichello na equipe que, depois, seria vendida para Ross Brawn e, em 2010, viraria… Mercedes.

– Lando Norris foi o destaque entre os estreantes, levando a McLaren ao oitavo lugar do grid. É o primeiro estreante a passar ao Q3 desde Carlos Sainz Jr., pela Toro Rosso, em 2015. Detalhe: Sainz Jr. é o companheiro de Norris na McLaren e, hoje, ficou no Q1. Mas tem uma boa desculpa — na verdade, explicação. Na sua saída para fazer tempo, pegou Kubica com o pneu furado pela frente e teve de matar a volta. Não teve como se recuperar.

Williams: o pior carro da equipe em todos os tempos

– Já o Kubica, coitado… A Williams ficou com as duas últimas posições no grid e foi a única equipe a fazer tempos piores em 2019 do que em 2018. Andou para trás de uma temporada para a outra, o que é imperdoável na F-1. Seus carros farão papel mais deprimente que Minardi, Hispania, Caterham e Manor em seus piores dias. Uma lástima. Russell, jovenzinho egresso da F-2 que corre o risco de enterrar a carreira disputando o Mundial por um time que já foi grande e virou minúsculo, falou que os engenheiros já descobriram uma falha “fundamental” que explica a bosta do carro. Só que corrigir essa falha “fundamental”, segundo Kubica, é algo que pode levar meses.

– Sei não, mas a Williams não aguenta essa crise por muito tempo. Andar na rabeira do grid sem nenhuma perspectiva de melhora mina os ânimos de todo mundo numa equipe. É um abismo sem fim.

– Raikkonen em nono foi bacana, não? Passou ao Q3 sem maiores dificuldades e arrisco dizer que fará pontos na madrugada de amanhã. Se resolver correr sem arriscar demais, vai que belisca um pódio… Primeira corrida do ano, sabe como é. Sempre acontecem coisas estranhas. Nunca se esqueçam que ele ganhou de Lotus na Austrália.

– Por fim, e a transmissão da Globo? Qual a necessidade de falar tanto de Ayrton Senna? Com tanta coisa para explicar, apresentar, mostrar numa temporada que está começando, ficou o trio global — Galvão praticamente com o monopólio da palavra — babando para o brasileiro que morreu há 25 anos diante de um capacete antigo e uma placa de campeão mundial. Para quê? Cativar as pessoas? Emocionar a súcia na madrugada? Arrancar lágrimas do populacho? Será que alguém na emissora realmente acha que só se segura audiência em TV falando de um “herói”, “das manhãs de domingo”, “da alegria para o povo brasileiro”? Puta merda, que saco absoluto, que babaquice, que coisa mais antiga. Galvão parece incapaz de transmitir qualquer coisa de F-1 sem falar de Senna, sua muleta eterna. E em meio a caras, bocas e suspiros empilha erros factuais que vão sendo corrigidos pelo ponto eletrônico. Se eu fosse seu diretor, proibiria de mencionar o nome Senna numa transmissão. Quem sabe assim ele se preocupasse em passar informações relevantes a quem está assistindo. Ninguém aguenta mais essa choradeira gratuita, sério.