Blog do Flavio Gomes
F-1

STREET ART (5): POBRE CHARLES

RIO (aff…) – O que a Ferrari faz de cagada, desculpem o termo, não está no gibi. (Um pouquinho de cultura para os mais jovens, que provavelmente nunca leram um gibi, mas já devem ter escutado a expressão. “Gibi” era o nome de uma revista em quadrinhos lançada em 1939 por Roberto Marinho, aquele. Ficou […]

mons192
Consolando Leclerc: a lista de barbeiragens da equipe só aumenta

RIO (aff…) – O que a Ferrari faz de cagada, desculpem o termo, não está no gibi.

(Um pouquinho de cultura para os mais jovens, que provavelmente nunca leram um gibi, mas já devem ter escutado a expressão. “Gibi” era o nome de uma revista em quadrinhos lançada em 1939 por Roberto Marinho, aquele. Ficou tão popular que o nome — cuja origem vem de outro significado da palavra “gibi”, usada para se referir a meninos traquinas, espevitados, indomáveis, moleques e até negrinhos, com toda a carga racista da época, não nos esqueçamos de que este é um país absolutamente racista, por mais que o tema encha o saco do presidente da república — virou sinônimo desse tipo de publicação. Gibi, pois, é o mesmo que revista em quadrinhos. E a expressão “não está no gibi” é usada para descrever fatos tão inusitados que parecem mentira, tão mentira que nem nos quadrinhos a gente vê.)

Agora pela manhã em Mônaco conseguiu deixar Leclerc empacado no Q1 ao não liberar o monegasco para uma segunda tentativa de volta rápida na primeira parte da classificação mais importante do ano, considerando que o tempo que ele tinha era suficiente para passar tranquilo. Charlinho tinha uma volta registrada em 1min12s149. Não era grande coisa. O piloto queria voltar à pista, segundo ele mesmo, mas o time achou que estava bom. Pra quê, menino? Fica sossegado, vai na nossa que você passa de ano.

Por 0s052, o ferrarista perdeu a vaga para Nico Hülkenberg, da Renault. Mas nem era com ele que estava disputando nada. Charlinho tinha carro para ir ao Q2 sem sustos, e quem penava mesmo com a corda no pescoço era seu companheiro Vettel, que quando o cronômetro zerou ainda estava na pista com um tempo insuficiente para passar de fase — vinha de uma batida no último treino livre, no qual, vejam vocês, Leclerc havia sido o mais rápido.

Mas Sebastian acabou fazendo o melhor tempo do Q1, mostrando que carro não se configurava exatamente num problema — tudo era questão de acertar uma voltinha decente, algo que Charles já poderia ter feito se a equipe não o segurasse inexplicavelmente no box. Ironia do destino, foi essa volta de Tião Italiano que enxotou da sessão o moço local, nascido e crescido nas comunidades menos abastadas de Monte Carlo, Fontvieille, La Condamine, Roquebrune e da barra-pesada Cap-d’Ail, onde dizem que é uma lenda.

Lec-Lec ficou obviamente puto. Falou que a Ferrari lhe devia explicações, que até o momento em que redigimos este compêndio ainda não foram fornecidas a ninguém. “Eu tinha tempo de sobra para colocar um novo jogo de pneus”, disse o rapaz das bochechas rosadas depois de abortar uma segunda tentativa de volta rápida e se atrapalhar na pesagem — a equipe teve de empurrar o carro de volta para a balança. Ocorre que, pelo rádio, seu engenheiro falou que “achava” que não precisava. Ele até perguntou de novo, mas a resposta foi a mesma: “Tá tudo bem, relaxa!”.

A Leclerc, na roda dos degolados do Q1, juntaram-se Pérez, Stroll, Russell e Kubica. A Force India, ou “seja lá que nome tem isso aí”, como diz Raikkonen, assumiu o posto de decepção do fim de semana, que a Renault vinha tentando conquistar desde quinta.

No Q2, as coisas foram menos anormais. A lista de eliminados teve Hülkenberg, Norris, Grosjean, Raikkonen e Giovinazzi. Surpresa, aí, a queda dupla da Alfa Romeo, que tinha começado bem o fim de semana. Achei que pelo menos um deles passaria ao Q3, mas quem avançou, para espanto geral da nação, foi Ricardão com seu Sandero amarelo. No mais, Sainz Velocidad superou Mini Norris, Magnussen renasceu das cinzas e os dois touros vermelhos dos carros azuis confirmaram a condição de “equipe da hora”, levando Kvyat e Albon para a turma dos dez mais rápidos.

Aí, valeu mais uma vez o talento de Hamilton, que vinha sendo superado por Bottas na maioria dos treinos. “Fiz uma volta linda”, falou. Os tempos aí em cima não me deixam mentir. O inglês até escalou o alambrado no melhor estilo Hélio Castroneves para festejar junto ao público e comemorou com um entusiasmo incomum a 85ª pole de sua carreira. Talvez porque tivesse percebido que estava difícil, mesmo, diante da boa forma do companheiro. Mas Sapattos cometeu “alguns erros”, como disse, na sua segunda tentativa e ficou 0s086 atrás.

No alambrado: Hamilton como Helinho

Os carros da Mercedes, em Mônaco, estão de “boné vermelho” como Lauda, que vem recebendo muitas homenagens desde quinta-feira. O halo foi pintado na cor dos bonezinhos que Niki usou por décadas depois do acidente de 1976 na Alemanha.

Ele venceu duas vezes em Monte Carlo, em 1975 e 1976 — ambas pela Ferrari. Hamilton também, em 2008 com a McLaren e em 2016 com a Mercedes. Se ganhar amanhã, certamente vai dedicar a vitória ao austríaco que, de certa forma, funcionou como seu guru nos últimos anos. “Éramos parceiros no crime”, disse, sem explicar direito o que andava aprontando por aí com Lauda.

E a chance de ganhar mais uma é enorme. Com as contribuições inestimáveis da Ferrari, uma sexta dobradinha seguida da Mercedes nesta temporada é o desfecho mais provável deste domingo.

Sendo assim, torçamos por uma chuva marota para ter alguma graça. Não que os prateados na frente não tenham valor — há beleza no domínio que algumas equipes impõem na história, sempre disse isso. Mas uma dose de imprevisibilidade sempre ajuda em qualquer competição. Algo que está faltando na F-1 faz algum tempo.

Halo vermelho: o “boné” em homenagem a Lauda