Blog do Flavio Gomes
F-1

MONTE REAL (2): TEM JOGO

RIO (já volto) – Vettel foi o Vettel que já está na história por seus quatro títulos mundiais. Fazia tempo que não brilhava. Desde o GP da Alemanha do ano passado não largava na pole. Com uma volta muito próxima da perfeição — ele disse que gostaria de repeti-la, porque foi “muito divertida” –, colocou 0s206 […]

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Vettel na pole: primeira desde o GP da Alemanha do ano passado

RIO (já volto) – Vettel foi o Vettel que já está na história por seus quatro títulos mundiais. Fazia tempo que não brilhava. Desde o GP da Alemanha do ano passado não largava na pole. Com uma volta muito próxima da perfeição — ele disse que gostaria de repeti-la, porque foi “muito divertida” –, colocou 0s206 em Hamilton numa pista curta que, ninguém nega, favorece a Ferrari. Só no último trecho do circuito canadense, justamente aquele que tem uma reta interminável, foi nada mais nada menos que 0s298 mais rápido que o inglês. O motor falou alto.

Mas o piloto também. Apagado desde a debacle da temporada de 2018 que começou exatamente na Alemanha, Tião vinha sofrendo também, neste ano, com a concorrência de seu novo companheiro de equipe. Charlinho Lec-Lec é muito bom e conquistou a simpatia do público em geral com sua grande atuação no Bahrein e depois de receber ordens estúpidas do time que favoreciam o alemão.

Vettel se viu numa situação em que tinha de provar que não precisava de favorecimento nenhum da Ferrari. E hoje conseguiu. Foi uma pole muito bonita e comemorada. Que pode ser revertida numa vitória, por que não? No ano passado, ele ganhou em Montreal. Vai virar o jogo no campeonato se terminar na frente amanhã? Não. O título já é da Mercedes e de Hamilton. A superioridade é muito grande. Mas em uma pista ou outra, dá para encarar. E o circuito Gilles Villeneuve é um desses onde os italianos têm condições de superar um adversário quase imbatível.

Falemos desta classificação. Que teve no Q1 a primeira surpresa: o fiasco da Racing India, que ontem elegi como a “média do fim de semana”. Foi nada. Pérez, 16º, e Stroll, 18º, foram eliminados junto com os vitalícios Kubica e Russell e um terrivelmente lento Raikkonen. Lá na frente, Vettel e Leclerc ficaram em primeiro e segundo.

Verstappen: fora do Q3 depois da batida de Magnussen

No Q2, Mercedes e Ferrari calçaram pneus médios em seus pilotos para garantir seu uso na largada amanhã. Não teriam muitas dificuldades para virar tempos que os colocassem no Q3. Hamilton e Bottas foram os mais rápidos e entre os degolados, nova surpresa: Verstappinho em 11º, caindo junto com Kvyat, Giovinazzi, Albon e Grosjean.

Explicações são necessárias aqui. Com o cronômetro zerado, alguns pilotos ainda estavam nas suas voltas rápidas quando Magnussen estampou o Muro dos Campeões. Ele já tinha o décimo tempo, mas estragou as voltas daqueles que vinham atrás. Max era um deles. “Foi azar”, resumiu o holandês da Red Bull. Três Hondas dançaram com a panca do dinamarquês da Haas. Além de Verstappen, os dois da Toro Rosso.

Ricciardo: felizão no Instagram

O Q3 seria uma disputa de quatro pilotos, os dois da Mercedes e os dois da Ferrari. Hamilton fez 1min10s493 na sua primeira tentativa. Vettel foi razoavelmente bem, 0s188 mais lento. Leclerc, mal: 0s695 atrás. E Bottas, pior ainda: rodou e nem fez tempo. A segunda rodada de voltas rápidas viu Lewis baixar um pouco, para 1min10s446, e a Mercedes já comemorava mais uma pole quando Sebastian apareceu voando para cravar 1min10s240. “Eles estão matando a gente no terceiro setor”, reconheceu o líder do Mundial. Mesmo assim, ficou satisfeito com o segundo lugar. “Vamos fazer uma grande corrida amanhã”.

Leclerc fez a lição de casa e se ajeitou em terceiro. Na quarta posição, a maior novidade do fim de semana: Ricardão, levando a Renault à sua melhor posição de largada desde o distante GP do Japão de 2010, quando Kubica, então na equipe, conseguiu um terceiro no grid. Gasly ficou em quinto com a Red Bull, seguido por um amedrontado Bottas — como rodou na primeira volta, não quis dar uma de herói na segunda –, Hülkenberg, Norris, Sainz Jr. e Magnussen — que, claro, nem fez tempo depois da porrada no Q2.

“A gente estava precisando”, falou o engenheiro de Vettel (pode ser que fosse o Binotto, mas não tenho certeza) pelo rádio, enquanto o piloto cantarolava alguma música infantil e, depois, repetia em seu italiano risotônico “grande squadra, grande Ferrari, grazie”.

Vettel é um cara estranho, para os padrões de 2019: não tem redes sociais, não posta fotos no Instagram, não usa Twitter, não é visto em baladas nem em restaurantes caros. Coleciona motos antigas e vive numa pequena aldeia na Alemanha que ninguém sabe direito onde fica. Um jovem-velho — ou velho-jovem –, para seus detratores e para aqueles que não imaginam que pode haver vida longe da tela de um smartphone.

Um cara normal, para mim. E um piloto de primeira, que ainda tem muito a fazer na F-1. Um cara que, quando tem um carro decente — é o caso da Ferrari no Canadá –, vai para o jogo em condição de vencer.

Sim, vai ter jogo amanhã em Montreal.