Blog do Flavio Gomes
F-1

MONTE REAL (3): NÃO QUEREM JOGO

RIO (falem mal, mas…) – Vou abrir mão do prelúdio. O que querem aqui é minha opinião, não? Então lá vai. Roubaram o Vettel. Sacanearam, prejudicaram, lesaram, ferraram, danaram, escolha o que quiser. Não se pune um piloto por cometer um erro, corrigi-lo, voltar à pista e seguir na corrida. Vettel não mirou sua Ferrari na lateral […]

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Vettel troca as placas: revoltado com a decisão

RIO (falem mal, mas…) – Vou abrir mão do prelúdio. O que querem aqui é minha opinião, não?

Então lá vai.

Roubaram o Vettel. Sacanearam, prejudicaram, lesaram, ferraram, danaram, escolha o que quiser. Não se pune um piloto por cometer um erro, corrigi-lo, voltar à pista e seguir na corrida. Vettel não mirou sua Ferrari na lateral da Mercedes de Hamilton e deu no meio. Não o atirou no muro. Não tocou rodas. Em uma fração de segundo, teve de consertar uma escapada pela grama, devolver seu carro ao asfalto e não bater em nada — havia um muro a centímetros de distância e outro carro muito perto, chegando.

Lewis freou. Evitou a batida. “Manobra evasiva”, alegaram os comissários da FIA. Ora, quantas manobras evasivas ocorrem por volta numa corrida de carros? O tempo todo alguém freia para não bater. Alguém muda a trajetória para se esquivar de alguém que apareceu do nada. Alguém sai pela grama para não dar roda com roda. Qual o problema de um piloto ser levado a uma “manobra evasiva”?

A punição foi injusta. Há quem veja apenas a fria letra dos regulamentos sem levar em consideração dezenas de outros fatores que resultam em determinada situação. Mario Andretti, o velho Mario, campeão mundial de 1978, escreveu no seu Twitter: “Acho que a função dos comissários é punir manobras flagrantemente perigosas, não erros comuns [ele usou a palavra ‘honest’ com esse sentido] que resultem de uma disputa intensa. O que aconteceu no GP do Canadá é inaceitável neste nível de nosso grande esporte”.

Com ele fizeram coro muitos outros pilotos, ex-pilotos, comentaristas, torcedores comuns. Nem vou citar todo mundo para não ficar cansativo. Alguns vieram a público também para defender a decisão dos comissários de Montreal. Mas o argumento dessa gente é quase sempre raso com traços de autoritarismo e arbitrariedade: “Regra é regra e deve ser cumprida”.

A esses, respondo com as palavras de Hamilton, beneficiário da punição a Vettel anunciada na volta 58 da prova do Canadá — o incidente acontecera dez voltas antes. “As regras são mal escritas”, disse o inglês, declarado vencedor da sétima etapa do Mundial. “Não é a maneira que mais gosto de ganhar uma corrida.” Apesar da crítica à tal da letra fria, Lewis avaliou que Vettel voltou à pista de maneira perigosa, mesmo. Mas — e aí é impressão minha — não defendeu os 5s acrescidos ao tempo final do rival com muita convicção. Ele é piloto. Tirou o pé para não bater em Vettel em sua “manobra evasiva” porque previu que ele faria aquilo. E se previu, é porque faria o mesmo.

Pódio sem sorrisos: GP do Canadá entrou para a história, no fim das contas

Vettel recebeu a bandeirada em primeiro. Ficou com o troféu de segundo lugar. “Este não é o esporte pelo qual me apaixonei”, falou, desolado, em uma das inúmeras entrevistas que deu depois de uma cerimônia de pódio que quase não teve sua presença. “Eu fui contra minha vontade.”

Sebastian mostrou sua revolta em vários momentos e de várias maneiras. Pelo rádio, sem meias-palavras: “Estão roubando nossa vitória. Eu não tinha para onde ir!”. Depois, nem levou seu carro ao Parque Fechado debaixo do pódio. Parou na entrada do pit-lane e empurrou a máquina para trás. Largou o carro lá e foi para os escritórios da Ferrari de capacete, ainda. A FIA mandou buscá-lo para receber o troféu. Voltou, passou por dentro dos boxes da Mercedes e quando viu as placas com as três primeiras posições diante de dois carros — o de Hamilton e o de Leclerc, terceiro colocado –, retirou o número 1 da frente da Mercedes e colocou o número 2 em seu lugar. A placa com o 1 ficou à frente do espaço que, segundo ele, deveria ser ocupado pela Ferrari #5. A imagem do ano. Toto Wolff, chefe da Mercedes, compreendeu a fúria. “Se fosse eu, teria jogado a placa em cima do carro”, disse.

Na salinha pré-pódio, pouca conversa. Hamilton perguntou onde ele tinha ido. “Onde você queria que eu fosse?”. Depois, se cumprimentaram. O inglês ainda o puxou para o degrau mais alto, mas Vettel só subiu por educação e voltou rapidinho para seu lugar. Quando vaiaram Hamilton, apressou-se em defender o adversário. “Não sei por que estão fazendo isso, não é ele quem toma as decisões”, falou.

Vettel explicou que a partir de determinado ponto da prova, que liderou desde a largada, estava tentando “sobreviver”. “Ele estava mais rápido e meu carro não estava fácil de guiar. Perdi tempo ao sair na grama e tive sorte de continuar. Não fiz nada de errado. Tive de economizar combustível também. Fizemos uma grande corrida. Estou orgulhoso do que fizemos. É muito estranho não estar aqui com o troféu de vencedor nas mãos.”

A Ferrari apelou da punição. Raramente a FIA volta atrás nessas coisas. Mattia Binotto, chefe do time, procurou usar um discurso conciliador. Disse que Vettel mereceu ganhar, que agora era preciso ficar calmo, e que o mais importante foi a Ferrari ter mostrado sua superioridade em Montreal. “Para nós, ele é o vencedor moral. Provamos que ainda podemos ser competitivos.” Os torcedores italianos esperavam mais. Um prato de espaguete a bolonhesa atirado na cabeça do diretor de prova, por exemplo.

Foi a quinta vitória de Lewis no ano, sétima em Montreal — igualando Schumacher — e 78ª na carreira. Numa corrida bonita, bem disputada, com sol e forte calor — 30 graus na moleira. Que teve Hamilton perseguindo Vettel muito de perto o tempo todo, estratégias parecidas de pneus e bons duelos lá atrás. As diferenças de tempo entre o alemão e o inglês nunca foram maiores do que 2s até o momento da punição. Leclerc, que terminou em terceiro, nem foi avisado da punição a Vettel. Se fosse, talvez conseguisse chegar a menos de 5s do companheiro para fisgar o segundo posto — o que levaria Seb à loucura de vez. Bottas, apagadíssimo, foi o quarto, com Verstappinho em quinto. O holandês largou de pneus duros e foi abrindo caminho até o pit stop mais do que tardio, na volta 49. Salvou alguns pontinhos interessantes depois do azar de ontem, ao não passar para o Q3. A Renault fez sua melhor prova no ano, com Ricardão em sexto e Hulk em sétimo. Gasly, Stroll e Kvyat fecharam os pontos.

O momento do incidente, na volta 48: Vettel tinha coisa diferente a fazer?

Aí em cima, o momento exato em que Vettel volta à pista levando Hamilton a uma “manobra evasiva”. Vocês culpam o alemão? Os carros não ficaram lado a lado. Lewis viu a chance, percebeu que Sebastian iria retomar o traçado e recolheu. Para mim, mais normal que isso, só dois disso. Em Mônaco, 2016, o inglês fez algo parecido com Ricciardo na saída do Túnel a caminho da Tabac. Coisas de corrida. De quem defende e de quem ataca. Enfim… Vocês devem ter sua opinião, também. Então mandem ver nos comentários!

Agora, gostei mesmo da decisão dos comissários anunciada nessa tuitada aí embaixo!

Decisão anunciada: sem sombra de dúvidas!