Blog do Flavio Gomes
F-1

ZÉ TWEG (3): MAX ÉPICO

SÃO PAULO (já voltam0s) – Foi uma das maiores vitórias da história da Fórmula 1. Verstappen ganhou o GP da Áustria mostrando mais uma vez um talento transbordante depois de uma largada ruim, quando caiu da segunda para a sétima colocação. A Honda, agora com a Red Bull, voltou a vencer depois de 13 anos […]

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Max comemora, Leclerc lamenta: corrida histórica do holandês

SÃO PAULO (já voltam0s) – Foi uma das maiores vitórias da história da Fórmula 1. Verstappen ganhou o GP da Áustria mostrando mais uma vez um talento transbordante depois de uma largada ruim, quando caiu da segunda para a sétima colocação. A Honda, agora com a Red Bull, voltou a vencer depois de 13 anos — a última tinha sido com Button na Hungria em 2006. Foi o sexto triunfo da carreira do holandês.

E Leclerc, segundo colocado, pode fazer o bico que quiser e reclamar com o arcebispo de Viena, se achar que deve. Ele perdeu uma corrida ganha. Com a vantagem que tinha desde o início e após a janela de pit stops, não tem cabimento não controlar a diferença para os rivais para ter alguma tranquilidade nas voltas finais.

OK, Max estava voando, mas tem momentos em que é preciso voar também. Nem que seja por três ou quatro voltas. O monegasco não perdeu a prova de Spielberg na ultrapassagem que levou na volta 69, a duas do fim. Perdeu ao não impor um ritmo que lhe permitisse ter segurança na fase derradeira da corrida. E a Ferrari deveria monitorar melhor as coisas. Parece não ter percebido Verstappinho na pista. Teve olhos apenas para a Mercedes. Quando foi ver, era tarde.

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Um bom indicativo de como Charlinho deitou na pole e na liderança, talvez acomodado pelo fato de ter o pacato Bottas atrás e Hamilton fora da briga por conta de um pit stop longuíssimo para trocar o bico, é sua diferença para Vettel, quarto colocado: 16s886 ao final da corrida. Só isso. E Sebastian largou em nono. Além de ter feito duas paradas, contra apenas uma do jovem de bochechas rosadas.

O resultado da corrida só foi oficializado três horas depois da quadriculada num comunicado cuja decisão se resumiu a três palavras: “No further action”. Ainda bem. O bate-rodas de Leclerc e Verstappen foi levado à torre de controle nestes tempos de VAR até para chupar picolé. Charles achou que Max deixou o carro espalhar e o jogou para fora da pista. O holandês, que enlouqueceu as arquibancadas tingidas de laranja por seus torcedores, devolveu: “Se não pudermos fazer isso, que sentido tem estar na F-1?”, perguntou.

Os três que ganharam troféus em Spielberg compuseram o pódio mais jovem da história: Verstappen, Leclerc e Bottas têm em média 24 anos e 156 dias de idade. Os dois primeiros, 21. Max nasceu em 30 de setembro de 1997. Charles veio ao mundo 16 dias depois.

Não foi um pódio exatamente festivo, porque Leclerc estava emburrado até a alma. Como no Bahrein, onde perdeu uma corrida fácil porque seu motor teve problemas. Na Áustria, bobeou — mas vai se queixar até o fim de seus dias da manobra do piloto da Red Bull e da dificuldade que teve com os pneus na escaldante Spielberg, 35 graus e um sol de ferver o leite na teta da vaca.

A prova foi muito boa desde o início. Verstappen deixou entrar o ponto morto na largada e caiu de segundo para sétimo. Hamilton, Norris e Raikkonen se esfregaram num ritmo alucinante e Vettel saltou de nono para sexto na primeira volta, entrando na brincadeira. Na sétima volta, estava em quarto. Verstappinho se recuperou como deu e se estabilizou em quinto até começarem os pit stops.

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Com pneus macios, Vettel parou na volta 22 e o pit stop foi um desastre — os mecânicos não tinham preparado os pneus quando ele chegou aos boxes. A opção foi pelos duros, como todo mundo. Leclerc veio na volta seguinte e Hamilton assumiu a ponta porque Bottas também já tinha parado. Quando fez seu pit stop, Lewis teve de trocar o bico do carro, danificado numa zebra na volta 27. Verstappen veio duas voltas depois — tinha largado de médios, como os prateados. Ele e Vettel ganharam a posição do inglês e depois da janela de paradas a ordem era Leclerc, Bottas, Vettel, Verstappen e Hamilton.

Charlinho mantinha-se seguro oscilando sua diferença para Bottas entre 4 e 6s. Com os pneus duros, Max, em quinto, começou a descontar o tempo para Vettel, que não conseguia um bom ritmo com essa borracha. Na volta 50, chegou e passou. O alemão foi imediatamente para os boxes e espetou pneus macios para a fase final da prova, caindo para quinto. A torcida delirou.

Mar laranja: a torcida de Verstappen comemorou cada ultrapassagem como se fosse um gol

Na volta 56, Verstappen chegou em Bottas e passou por ele com uma facilidade inacreditável. O piloto da Mercedes contou depois que tinha problemas de superaquecimento do motor, como Hamilton. “Não conseguimos correr hoje”, disse o chefe do time alemão Toto Wolff. “Expusemos nosso calcanhar de Aquiles. Apenas tentamos nos manter vivos resfriando o motor.”

A 15 voltas do fim, Leclerc tinha 5s1 de vantagem para Max. Vettel, um pouco mais atrás, vinha voando para cima de Hamilton com o carro muito mais rápido. Verstappen virava tempos 1s melhores que o monegasco na caça à Ferrari. Na volta 66, chegou. À frente de Leclerc estava a outra Red Bull, de Gasly, que saiu do caminho para não permitir que o ferrarista abrisse a asa. Max, a menos de 1s, abria a sua para tentar o bote.

Foram voltas eletrizantes. Na 68ª, Verstappen tentou e Leclerc se defendeu lindamente. O autódromo estava de pé. Na volta seguinte, foi para cima decidido, viu o espaço deixado pelo rival, mergulhou na freada da curva 3, se tocaram, e levou. Na mesma hora, Vettel passou Hamilton e reassumiu o quarto lugar. O autódromo veio abaixo.

O momento decisivo: Verstappen “espalha” e assume a liderança para desespero de Leclerc

“Eu achei depois da largada que já era”, falou Verstappinho com um sorriso de orelha a orelha. “Mas após a parada nosso ritmo era muito bom e consegui atacar todo mundo. Estou muito feliz pela equipe e pela Honda”, concluiu. Todos ficaram felizes — exceto, claro, a turma da Ferrari. Ainda que a decisão dos comissários tenha demorado uma eternidade, fez justiça a um piloto que lutou até o fim. E que não fez nada de errado. Leclerc foi juvenil quando abriu para fazer a tomada da curva 3 deixando um buraco enorme para Max se atirar. A “espalhada” na saída da curva foi normal e todo piloto faz isso. Não é proibido.

Depois de um GP modorrento na França, domingo passado, a Áustria ofereceu um espetáculo de encher os olhos. Mas não se deve tomar essa corrida como padrão. Exceção define melhor a prova do que redenção. Tipo de pista, calor, posições de largada da Mercedes, problemas de Hamilton com o bico e a temperatura do motor, Vettel em nono no grid, tudo isso contribuiu para montar um roteiro inesquecível. Que teve, ainda, atuações ótimas da McLaren (Norris em sexto e Sainz Jr. em oitavo, este depois de largar em 19º), da Alfa Romeo (com os dois nos pontos, Raikkonen em nono e Giovinazzi pontuando pela primeira vez em décimo) e do próprio Vettel, incansável na luta por um pódio que não veio por meros 0s650.

A vitória de Verstappen interrompeu a série de dez triunfos seguidos da Mercedes (oito neste ano) e levou o holandês para o terceiro lugar no Mundial, com 126 pontos — ele ainda fez o ponto extra da melhor volta. Hamilton segue firme na liderança com 197, 31 à frente de Bottas. É provável que as coisas voltem ao normal em Silverstone. Mas que deu gosto de ver essa corrida, deu. E é com ela na retina que ficaremos nas próximas semanas, até chegar o GP da Inglaterra.

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