Blog do Flavio Gomes
F-1

GRANDE BRETANHA (3): DEU 01

RIO (Silverstone, sua linda!) – Pista velha é que faz corrida boa, diz aquela canção. Silverstone é dessas, é das minhas. Fiquem com suas áreas de escape asfaltadas, boxes com ar condicionado, camarotes VIP e curvinhas de esquina. Eu sou mais as antigas. É nelas que o pau come. Vimos hoje mais uma prova redentora […]

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Sexta vitória de Hamilton na Inglaterra: “Te amo, Silverstone!”

RIO (Silverstone, sua linda!) – Pista velha é que faz corrida boa, diz aquela canção. Silverstone é dessas, é das minhas. Fiquem com suas áreas de escape asfaltadas, boxes com ar condicionado, camarotes VIP e curvinhas de esquina. Eu sou mais as antigas. É nelas que o pau come.

Vimos hoje mais uma prova redentora de uma Fórmula 1 que, apesar de previsível nos resultados, consegue a façanha de oferecer dois GPs seguidos que entram para a categoria de inesquecíveis — a outra foi a da Áustria, para quem não se lembra.

A vitória de Hamilton não surpreendeu — foi a sétima no ano, em dez corridas. A dobradinha da Mercedes, muito menos — também sete nesta temporada de absoluto domínio prateado. Mas o que vale é o caminho, não o destino. E o caminho das 52 voltas do GP da Inglaterra foi repleto de aventuras para os protagonistas contarem aos seus netos, ainda que o resultado tenha sido o esperado.

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Hamilton teve sua cota de sorte numa prova que começou com um Bottas incrivelmente veloz e combativo a partir da pole. Ele pulou na frente na largada e resistiu aos ataques do companheiro com valentia e talento. O ponto alto da briga se deu na quarta volta, quando Lewis chegou a passar, mas tomou o troco numa pista de velocidades alucinantes.

Valtteri não conseguia desgarrar do inglês e as diferenças quase nunca passavam de 1s. Enquanto isso, a turma que vinha atrás tratava de dar espetáculo, também. Na 11ª volta, Verstappen, em quarto, partiu para cima de Leclerc e trouxe junto Vettel e Gasly. A luta foi tão bela quanto intensa, mas quem conseguiu passar foi o francês da Red Bull, seguindo imediatamente para o box para abrir a primeira janela de pit stops.

Três voltas depois, Leclerc e Max pararam juntos e o holandês saiu na frente por centímetros graças ao trabalho mais rápido dos mecânicos da Red Bull. Mas cometeu um pequeno erro logo que voltou à pista e acabou perdendo a posição de novo para o monegasco. A partir daí, a reedição do que acontecera na Áustria passou a ser a grande atração da corrida, uma disputa excepcional com Charlinho decidido a não permitir que seu novo/velho rival levasse a melhor de novo.

Bottas: não é fácil, a vida

Na volta 17, Bottas parou. Colocou médios, indicando que seria necessário um segundo pit stop. Lewis assumiu a ponta e esticou um pouco seu primeiro stint para tentar ganhar a posição do companheiro nos boxes. Foi quando a sorte sorriu para o inglês, na 20ª volta. Lá atrás, Giovinazzi rodou sozinho e atolou na brita. O safety-car entrou e Hamilton aproveitou: correu para os boxes, colocou pneus duros para ir até o fim e não perdeu a ponta. Bottas, dentro do capacete, lamentou: oh, céus, oh, dia, oh, vida!

Não foi só Hamilton que aproveitou o safety-car para trocar pneus. Vettel entrou e colocou duros. Verstappen, que já tinha repetido os médios na primeira parada, também foi para os compostos mais resistentes. Mas Leclerc, não.

A Ferrari bobeou e só chamou o jovem de bochechas rosadas na volta seguinte. Ele acabou perdendo tempo e três posições, caindo para sexto. A ordem, quando o safety-car deixou a pista na volta 24, era Hamilton, Bottas, Vettel, Gasly, Verstappen e Leclerc nas seis primeiras colocações.

Na relargada, Charlinho partiu para cima de Max de novo e mais uma vez a disputa encheu os olhos. O rubro-taurino se segurou e pouco depois passou Gasly sem que o francês oferecesse resistência.

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Hamilton, nessa hora, passou a controlar a corrida como queria. Sabia que Bottas teria de parar de novo e não seria uma ameaça. Mesmo que tivesse de fazer um segundo pit stop, estava na frente, com alguma margem de segurança. Leclerc demorou para passar Gasly, só conseguindo a quinta posição na volta 36, e se distanciou um pouco da briga pelo pódio. E Max, claro, foi para cima de Vettel para buscar o terceiro lugar. Na 37ª volta, passou. O alemão tentou dar o troco, mas errou o cálculo na freada e encheu a traseira da Red Bull. Foi o momento mais dramático da corrida.

Vettel acerta Verstappen: errou feio, admitiu e foi pedir desculpas

Vettel teve de trocar o bico, caiu para a última posição, assumiu o erro e se desculpou depois da corrida assim que saiu do carro. Max ainda estava dentro do cockpit quando o alemão foi até ele para pedir perdão. Aceitou. O holandês conseguiu voltar à pista, apesar da pancada. Mas acabou perdendo duas posições, para Leclerc e Gasly, ficou muito longe do francês e terminou a prova em quinto.

Daí para a frente, as coisas se acalmaram um pouco para os primeiros colocados. Bottas parou na volta 46, colocou pneus macios para tentar a volta mais rápida, mas nem isso conseguiu. Com pneus duros velhos, Hamilton ganhou o ponto extra na última volta, com requintes de crueldade, como se diz. Restou para o público apreciar a batalha ferrenha entre Sainz Jr. e Ricciardo pelo sétimo lugar, com o espanhol resistindo bravamente e se tornando o “primeiro dos outros”, com uma atuação excepcional — largara em 13º. Raikkonen, Kvyat (que largou de 17º) e Hülkenberg fecharam os pontos.

Hamilton fez muita festa diante de seu público e se tornou o maior vencedor da história dos GPs da Inglaterra, com seis triunfos. “Eu amo Silverstone!”, comemorou. Chegou a 80 vitórias na carreira e ampliou sua vantagem no Mundial para 39 pontos sobre Bottas, 223 x 184. Não perde o título, são favas contadas. Mas mesmo que ganhe todas as corridas até o fim do ano, não tem importância. Se os espetáculos forem bonitos como o de hoje, está de bom tamanho.

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