Blog do Flavio Gomes
F-1

SPA EM CHAMAS (4): SEM FESTA

POÇOS DE CALDAS (todos sentem) – Charles Leclerc venceu sua primeira corrida na Fórmula 1, num domingo pouco festivo em Spa-Francorchamps. Ninguém conseguiu sorrir demais um dia depois da morte de um dos seus, Anthoine Hubert, na corrida de ontem da Fórmula 2. Todos estavam de luto e o padrão foi o silêncio respeitoso. Na […]

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POÇOS DE CALDAS (todos sentem) – Charles Leclerc venceu sua primeira corrida na Fórmula 1, num domingo pouco festivo em Spa-Francorchamps. Ninguém conseguiu sorrir demais um dia depois da morte de um dos seus, Anthoine Hubert, na corrida de ontem da Fórmula 2. Todos estavam de luto e o padrão foi o silêncio respeitoso. Na 19ª volta da corrida, número usado pelo jovem francês na Arden, o público se levantou e aplaudiu.

O domingo amanheceu com chuva nas Ardenas, mas depois o tempo firmou e a corrida foi disputada com temperatura baixa, 17°C, e muitas nuvens. O sol apareceu aqui e ali apenas para avisar que não teríamos água como quase sempre nos GPs da Bélgica.

Na largada, Vettel deu uma vacilada e perdeu a posição para Hamilton. Mas se recuperou rápido e passou o inglês para partir na escolta de Leclerc. A presepada dos primeiros metros ficou por conta de Verstappen. Foi por dentro na Source, mas não se deu conta de que havia um carro ali, o de Raikkonen, fazendo a curva à sua frente. O toque quebrou a suspensão dianteira esquerda de seu touro veloz. Ele ainda tentou continuar, mas na subida da Eau Rouge bateu. O safety-car foi acionado imediatamente para a retirada do carro do holandês. A frustração no autódromo foi enorme, com a fanática torcida laranja dando adeus a qualquer possibilidade de comemoração no país vizinho.

Max chegou à garagem da Red Bull cabisbaixo e falou que Kimi não o viu. “Mas isso não tem nenhuma importância, não é a pior coisa que pode acontecer numa corrida, como vimos ontem”, disse, muito abatido com a morte do colega na véspera.

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Quem se deu bem com as confusões da primeira volta foi Norris, que ganhou seis posições e apareceu em quinto, seguido de Grosjean e Magnussen. A relargada aconteceu na quarta volta sem maiores problemas. Charlinho se mandou, deixando para Vettel a preocupação de segurar Lewis. O que também não foi tão complicado, dada a velocidade de reta da Ferrari.

As voltas seguintes, até a abertura da janela de pit stops, foram despidas de grandes emoções. Tirando o ritmo de cágado de Magnussen, que foi ultrapassado por cinco pilotos em sequência, nada aconteceu de muito importante. Na volta 14, Gasly abriu os trabalhos nos boxes e trocou seus pneus. O dinamarquês da Haas seguiu perdendo posições e as paradas começaram. Da turma da ponta, Vettel foi o primeiro a colocar médios, na volta 16 — cedo demais. Caiu para quinto.

A Mercedes mandou o recado para Hamilton mandar o sapato para tentar ganhar a posição de Sebastian nos boxes. Mas o alemão voltou com um bom ritmo com pneus novos e reconstruiu, no cronômetro, a vantagem que tinha até o pit stop. E foi rápido o bastante para, inclusive, assumir a liderança quando Leclerc parasse. O que aconteceu na volta 22. O monegasco voltou atrás de seu companheiro de equipe com pneus seis voltas mais novos. O que, na Bélgica, é bastante: mais de 40 km de uso.

Na 23ª, Lewis parou e Bottas assumiu a liderança. Por pouco tempo, óbvio. Fez seu pit stop na volta seguinte e retornou na quarta posição original. Então as atenções se voltaram para os tempos de Leclerc, com pneus novos, e de Vettel, com os seus já desgastados. Não iria demorar muito para que ele chegasse em Sebastian. Charlinho começou a se aproximar à razão de um segundo por volta. Se não fizesse nenhuma bobagem, era passar e ganhar a corrida. E para evitar maiores problemas, a equipe entrou no rádio e mandou Vettel sair da frente, o que ele fez sem discussão. Assim, Leclerc não perderia muito tempo numa eventual batalha caseira, ainda que breve. Não era mesmo o caso.

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Com os pneus em frangalhos, Vettel passou a ter o segundo lugar ameaçado. Avisou pelo rádio que sua borracha já era. Hamilton chegou e no final da volta 31 fez a primeira tentativa na Bus Stop. Não conseguiu. Na segunda, no fim da reta Kemmel, passou. Mas, aí, Leclerc já tinha mais de 6s de vantagem para o inglês. Sebastian deu u’a mão para o menino das mais valiosas — basta ver a diferença entre ele e Hamilton na bandeirada: 0s981.

Vettel, então, passou a se ocupar de Bottas, que começou a armar o bote para tirar dele o pódio. Mas o piloto da Mercedes nem precisou fazer força. Na volta 34, Tião da Depressão parou de novo e colocou pneus macios. A única coisa que ele conseguiria, com isso, seria fazer o ponto extra da melhor volta da corrida. E chegar em quarto. Um desfecho melancólico para quem sonhava com uma dobradinha ferrarista.

As coisas se acomodaram e sobrou para o distinto público aplaudir algumas boas disputas no meio do pelotão, como Kvyat & Albon x Ricciardo, com o australiano sendo ultrapassado pelos dois em belas manobras. Ricardão, aliás, foi uma espécie de “Magnussen 2 – a missão”, sendo ultrapassado por todo mundo nas últimas voltas.

E nada de mais notável sucedeu lá na frente, num domingo inevitavelmente sombrio em Spa. É verdade que Hamilton esboçou uma aproximação para lutar pela vitória com o menino das bochechas rosadas, reduzindo uma diferença de pouco mais de 6s para 2s a duas voltas do final. Os pneus de Leclerc já não estavam em boa forma. Charlinho abriu a última volta 1s5 à frente do inglês e recebeu a bandeirada com o pentacampeão mundial embutido em sua caixa de câmbio. Mas soube controlar a situação como um veterano. Mais uma volta e ele perderia a corrida. Mas não havia mais uma volta. Os cálculos da Ferrari, desta vez, foram precisos.

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Atrás dessa turma, porém, o fim da corrida foi dos mais animados. Norris, coitado, perdeu o quinto lugar na última volta, com uma cruel quebra da McLaren. Albon, numa prova brilhante a partir do 17º lugar no grid, foi buscar essa posição ultrapassando Pérez em duelo dos mais emocionantes. Uma ótima estreia do tailandês pela Red Bull — parece que, de novo, Helmut Marko acertou na decisão de promover uma troca no time de cima. E teve mais: Giovinazzi, que a duras penas entrou nos pontos, se entusiasmou no fim e acabou batendo forte. Acabou soterrado numa barreira de pneus.

Apesar da primeira vitória, Leclerc conteve a euforia no pódio. Com um leve sorriso, recebeu seu troféu e apontou para o céu. Antes, emocionou-se dentro do carro e chorou quando chegou ao Parque Fechado. Assim que saiu do cockpit, mostrou na carenagem da Ferrari o adesivo “Racing for Anthoine”. Hamilton e Bottas também foram discretos ao receberem seus prêmios. Não houve banho de champanhe.

Vettel terminou em quarto e fez o ponto extra. Albon, Pérez, Kvyat, Hülkenberg, Gasly e Stroll fecharam a zona de pontos. Pela primeira vez o hino do Principado foi executado na F-1, e a Ferrari ganhou a primeira no ano. Uma grande vitória, de um rapaz muito promissor e talentoso que vem se impondo aos poucos a um tetracampeão como Vettel — que, para mim, virou um enigma desde a batida na Alemanha no ano passado.

No campeonato, Hamilton ampliou ainda mais sua liderança e chegou a 268 pontos, contra 203 de seu companheiro finlandês. Verstappinho segue em terceiro com 181. E vamos para a próxima.

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