Blog do Flavio Gomes
F-1

MAD MEX (3): AULA

RIO (entrega a taça) – Como já são 83 vitórias, e jamais vou conseguir lembrar de uma por uma, talvez seja exagerado dizer que a de agora há pouco no México tenha sido uma das mais impressionantes de Lewis Hamilton. Afinal, não precisou passar ninguém, não fez aquilo que se chama de corrida de recuperação […]

Mesmo sem o melhor carro e após toque na largada, nova vitória: uma aula de pilotagem

RIO (entrega a taça) – Como já são 83 vitórias, e jamais vou conseguir lembrar de uma por uma, talvez seja exagerado dizer que a de agora há pouco no México tenha sido uma das mais impressionantes de Lewis Hamilton. Afinal, não precisou passar ninguém, não fez aquilo que se chama de corrida de recuperação (argh) largando dos boxes, não teve de parar cinco vezes para trocar pneus e perseguir loucamente seus adversários, não enfrentou nenhuma tempestade.

Nem na pole largou, o que indica que não dominou o fim de semana no altiplano asteca.

Mas foi daquelas vitórias que só pilotos de um certo naipe conseguem. Contra carros melhores, os da Ferrari e da Red Bull. Com o seu próprio carro avariado desde a primeira volta, após uma refrega com Max Verstappen. E com uma estratégia duvidosa, que fez com que tivesse de percorrer 47 voltas com o mesmo jogo de pneus — ele próprio não acreditava que iria chegar ao fim sem um segundo pit stop e falou várias vezes no rádio que tinha parado cedo demais. Foi uma aula de pilotagem.

[bannergoogle]

De fato, se a ideia inicial era fazer a prova com apenas uma parada, Lewis trocou um pouco antes do que seria mais prudente, na 24ª volta de uma corrida prevista para 71. Seu companheiro Bottas, com a mesma estratégia, só foi aos boxes na volta 37. Vettel, que também fez o mesmo (contrariando a Ferrari, que o chamou na volta 27 e ele simplesmente disse que não ia parar), trocou seus pneus na 38ª.

Essa diferença no número de voltas entre os jogos de pneus dos primeiros colocados fazia prever que em algum momento a borracha de Lewis iria abrir o bico. Outro que podia brigar com ele, Leclerc, acabou adotando uma tática diferente, com duas paradas, e saiu da briga pela vitória assim que fez o segundo pit stop. A parada foi demorada, houve um problema na roda traseira direita, e o monegasco voltou à pista na volta 44 sem condições objetivas de atacar Bottas, Vettel e Hamilton.

O primeiro pit stop de Charlinho acontecera na volta 16. “O segundo stint dele não foi bom”, falou o chefe Mattia Binotto. “Nossa estratégia foi ruim. Preciso aprender a entrar no rádio, discutir com a equipe, como Seb fez. Mas isso virá com o tempo”, respondeu o piloto, dando a entender que, por ele, faria a corrida inteira com uma parada apenas. Como largou na pole e chegou em quarto, não dá para dizer que o resultado tenha sido satisfatório.

[bannergoogle]

Alegria, mesmo, só de Hamilton. O resultado deixou o inglês com a mão na taça. Ele precisa de meros quatro pontos em Austin para ser campeão domingo que vem pela sexta vez. Um oitavo lugar, independentemente do que fizer Bottas, o vice-líder do Mundial. O placar aponta 363 x 289 para o britânico a três provas do encerramento do campeonato. Se Valtteri ganhar todas e ainda fizer a melhor volta nas três, chega a um máximo de 367 pontos com seis vitórias. Lewis já tem dez triunfos, primeiro critério para um eventual desempate. Enfim, é bobagem fazer contas. Hamilton já levou.

A corrida mexicana poderá ser colocada na gaveta das “interessantes” desta temporada, por conta da tensão gerada com a dúvida que pairou durante boa parte do tempo sobre a estratégia de Hamilton. As últimas 25 voltas foram tecnicamente muito boas, com Lewis, Vettel, Bottas e Leclerc separados por diferenças pequenas e não podendo cometer um errinho sequer — com a dificuldade extra de negociar ultrapassagens sobre os retardatários.

Hamilton no estádio: após corrida impecável, inglês precisa de 4 pontos para ser campeão

O único que bobeou foi o monegasco, que na volta 59 perdeu uma freada e se descolou do finlandês. Mas não houve nenhum ataque muito sério entre os que permaneceram próximos, porque Vettel não conseguia chegar em Hamilton e Bottas, ainda que pudesse abrir a asa algumas vezes, não era páreo para a velocidade de reta da Ferrari.

Depois das duplas de Mercedes e Ferrari, chegaram os dois pilotos da Red Bull, com Albon em quinto e Verstappinho em sexto. Max fez um corridão, embora tenha desperdiçado a chance de vencer ontem, ao ser punido com a perda de três posições no grid depois de fazer a pole.

Em quarto na largada, o holandês foi afoito e acabou batendo em Hamilton, caindo para oitavo. Começou a se recuperar, mas na quinta volta partiu para cima de Bottas como uma vaca louca no estádio, os dois se tocaram e seu pneu furou. Caiu para último, fez a troca, e veio jantando quem via pela frente até terminar em sexto. Completou 66 voltas com o mesmo jogo de pneus duros, uma façanha. Mas foi pouco para quem tinha enorme possibilidade de ganhar se largasse na primeira fila.

Médios e duros foram os pneus usados na corrida do México, disputada numa tarde nublada com temperatura de 22°C. A borracha enfeitada com as letras brancas acabou surpreendendo por sua durabilidade. Ricciardo, que largou com eles, só foi fazer sua parada única na volta 51. Terminou em oitavo, depois de largar em 13º. Pérez foi o melhor da “F-1 B”, com a sétima colocação. Fecharam os pontos Gasly e Hülkenberg (Kvyat recebeu a bandeirada em nono, mas foi punido por um toque no alemão da Renault e ficou fora da zona de pontuação).

O pódio diferente no Hermanos Rodriguez: fumaça, carro na plataforma, telão no fundo

A cerimônia de premiação foi diferente. Os mexicanos colocaram o carro do vencedor sobre uma plataforma que se ergueu junto com o piloto à altura do pódio, onde já estavam os outros dois. Teve fumaça e papel picado. Eu particularmente não curto essa coisa meio circense, gosto de uma solenidade mais… solene! Mas também não vamos brigar por isso. É questão de gosto. A presença do automóvel junto às estrelas do espetáculo me pareceu justa. Então, tá valendo.

[bannergoogle]