Blog do Flavio Gomes
F-1

INTERLEWIS (3): O QUE VAI PEGAR

SÃO PAULO (garoando, 17°C) – Talvez pouca gente tenha percebido que a F-1 deu nesta semana o golpe de misericórdia na alucinação de se fazer uma corrida no Rio de Janeiro onde andam dizendo que será construído um autódromo — a Floresta de Camboatá. E o fez sem citar a cidade, Deodoro, minas & granadas, […]

Camboatá: F-1 não vai querer se associar a destruidores do meio-ambiente

SÃO PAULO (garoando, 17°C) – Talvez pouca gente tenha percebido que a F-1 deu nesta semana o golpe de misericórdia na alucinação de se fazer uma corrida no Rio de Janeiro onde andam dizendo que será construído um autódromo — a Floresta de Camboatá. E o fez sem citar a cidade, Deodoro, minas & granadas, consórcio não sei das quantas, JR ou o Bozo do Planalto.

No início da semana, a categoria apresentou um ambicioso plano de alinhamento às demandas ambientais (daqueles que acreditam que a Terra é redonda, claro) estabelecendo metas bem claras sobre adoção de biocombustível ou combustíveis sintéticos, redução das emissões de CO2 até chegar a zero em 2030, eliminação de determinados materiais na construção dos carros, conversão dos GPs em eventos 100% sustentáveis e introdução de parâmetros de funcionamento das fábricas, também visando objetivos ligados à preservação do planeta como um todo.

É claro que não serão 25 corridas por ano — esse é o plano da Liberty para os próximos campeonatos — queimando gasolina, óleo e borracha que vão levar o planeta à bancarrota. Estudos demonstraram que as atividades de pista em si representam um percentual ínfimo daquilo que a F-1, digamos, produz em termos de poluição ambiental. Nessa conta têm de entrar o transporte de equipamentos pelo mundo — via aérea, terrestre ou marítima –, a produção de resíduos não-recicláveis por parte de milhões de torcedores nos autódromos, a operação das fábricas e muito mais.

Mas é preciso dar exemplo, e é isso que a categoria pretende fazer nos próximos anos de uma forma radical. Sendo assim, alguém realmente acredita que a F-1 vai chancelar a construção de um autódromo que para sair do papel demandará a derrubada de pelo menos 200 mil árvores e a destruição completa de um ecossistema de imenso valor ambiental como é a Floresta de Camboatá?

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A área de quase dois milhões de metros quadrados em Deodoro é Mata Atlântica pura, contendo espécies raras ou em extinção de centenas de plantas e animais. Qualquer obra ali, por mais que o capitão esbraveje e o dono do consórcio com sua fala mansa garanta que não tem problema algum, precisa de ser aprovada por instituições que zelam pelo meio-ambiente no Rio de Janeiro, e elas existem e estão atentas.

São necessárias licenças ambientais, estudos de impacto, aprovação dos órgãos competentes no Executivo e Legislativo, e mesmo que isso tudo aconteça — é Brasil, afinal — há o obstáculo de uma Fórmula 1 engajada e militante, que vai se afastar de qualquer iniciativa antiecológica como o diabo da cruz.

Nesse sentido, as declarações de Hamilton anteontem — criticando a ideia de se fazer um autódromo na floresta — vêm ao encontro da imagem que os donos da categoria querem difundir globalmente de seu produto. Seus dirigentes não vão querer se associar a destruidores do meio-ambiente que, nos últimos meses, tornaram-se conhecidos internacionalmente pelo patrocínio das queimadas na Amazônia e no Pantanal, além de uma atuação desastrosa na identificação e contenção de um vazamento de óleo que contaminou as praias e a fauna de boa parte do litoral do Nordeste — apesar da inteligência dos peixes.

Deodoro, para além de ser uma mentira, é uma bomba-relógio ambiental. A F-1 não vai colar seu nome a isso.

Isso para não falar nas questões óbvias como a desconhecida fonte de financiamento, os buracos no edital de licitação, a estranheza sobre o risível capital social do tal consórcio e as espantosas garantias bancárias oferecidas por um portentoso banco com sede num sobradinho de Bauru — não autorizado pelo Banco Central a realizar tal operação, diga-se.

Agora, isso garante a continuidade do GP em Interlagos? Não. A verdadeira questão hoje é saber se a F-1 segue no Brasil — e não se vai para o delirante autódromo que não existe em Camboatá. A negociação é dura, as taxas são altas e o país corre, sim, o risco de deixar o calendário em 2021. Mas, por outro lado, o Liberty sabe que o mercado brasileiro de TV e internet tem enorme representatividade — em números absolutos, as audiências das corridas no Brasil são as maiores da temporada, pelo fato de o país ter uma população muito grande.

No momento, em resumo, o que os promotores do GP do Brasil têm como preocupação é buscar formas de realizar a engenharia financeira necessária para manter a corrida no calendário. E não dispender energia num embate frívolo com a insensatez verde-oliva trombeteada pelas milícias cariocas.

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