Blog do Flavio Gomes
F-1

INTERLEWIS (6): SUPERMAX

SÃO PAULO (sol, 20°C) – Foi só a segunda pole da carreira de Max Verstappen, mas quem rasgou o sorriso hoje em Interlagos foi o pessoal da Honda. Os japoneses conseguiram o primeiro lugar no grid numa pista que pede muito motor, o que em tese não faria da Red Bull favorita absoluta à posição […]

Verstappinho: segunda pole na carreira

SÃO PAULO (sol, 20°C) – Foi só a segunda pole da carreira de Max Verstappen, mas quem rasgou o sorriso hoje em Interlagos foi o pessoal da Honda. Os japoneses conseguiram o primeiro lugar no grid numa pista que pede muito motor, o que em tese não faria da Red Bull favorita absoluta à posição de honra do GP do Brasil.

Mas a equipe era candidata, sim, porque o circuito paulistano também exige um chassi muito equilibrado no trecho sinuoso do miolo, e isso o time dos energéticos tem. Assim como tem também um pilotaço, o jovem Max, que já vinha andando bem desde ontem. E é aqui que a Honda tem seus méritos.

Interlagos tem uma característica interessante. Para fazer uma grande volta de classificação, é preciso “abri-la” algumas curvas antes da linha onde ficam os sensores que disparam o cronômetro. Mais precisamente a partir da Junção, que leva a uma pirambeira para a esquerda que também atende pelo nome de Subida do Café.

(Os nomes das curvas de Interlagos são muito legais e desconheço a origem de apenas duas, o antigo Sargento e o Café. Todas as demais têm uma explicação, e considero particularmente bela e poética a Curva do Sol, assim chamada porque nas provas de longa duração de antigamente os pilotos contornavam-na com o sol ofuscando seus olhos nos finais de tarde. Acho encantador.)

Aquele início do Café é essencial para buscar tempo na volta seguinte. É necessário ser muito preciso na Junção para começar a subir a ladeira com a maior potência possível. Assim, consegue-se “carregar velocidade”, como dizem os pilotos, até a freada para o S do Senna. Daí em diante, é com o cara que está ao volante: se não errar nada, inclusive a Subida do Café de novo, faz um tempo bom.

Para isso, um motorzão é obrigatório. E a unidade motriz da Honda não decepcionou. A ponto de Vettel, segundo no grid, brincar com Verstappen na entrevista coletiva dos três primeiros após a definição do grid para a penúltima etapa do Mundial. “Fiquei surpreso com a velocidade deles na reta. Achei até um pouco suspeito”, disse, voltando-se rindo para Max.

Festa da Honda nos boxes da Red Bull: japoneses não faziam pole no Brasil desde 1991

Há alguns dias, o holandês disse que a Ferrari andava trapaceando, por usar um sistema irregular de controle do fluxo de combustível para o motor — o que explicaria a sequência de seis poles do time italiano entre os GPs da Bélgica e do México. Quando a falcatrua foi descoberta, insinuou o piloto da Red Bull, a fonte secou e a Mercedes voltou a fazer uma pole, nos EUA.

Como a FIA não puniu ninguém, assuma-se que a Ferrari não estava fazendo nada de errado. Por isso Sebastian tirou uma lasquinha de Verstappen, que já tinha largado na frente neste ano, na Hungria. No México, fez o melhor tempo na classificação. Mas foi punido por desrespeitar uma bandeira amarela em sua volta rápida e caiu da pole para o quarto lugar. Por conta disso, corrigiu o entrevistador dizendo que era sua terceira pole na carreira, não segunda. Detalhe irrelevante. E oficialmente falando, foi a segunda, mesmo.

Um motor Honda não aparecia na pole em Interlagos desde 1991, com a McLaren de Ayrton Senna. De lá para cá, foram dez poles de motores Mercedes, nove da Renault, seis da Ferrari, uma da BMW e uma da finada Cosworth.

Verstappinho fez a pole com 1min07s508 na sua segunda tentativa no Q3, e nem foi sua melhor volta do dia. No Q2, fora 0s005 mais rápido. Vettel ficou pouco mais de 0s1 atrás e garantiu a primeira fila. Depois deles vieram Hamilton e Leclerc. O monegasco, único da turma da frente que vai largar de pneus médios, já sabia que perderia dez posições no grid por troca de motor e partirá da 14ª posição. Quem herdou seu lugar foi Bottas. Na sequência vieram Albon, Gasly, Grosjean, Raikkonen e Magnussen. A Haas foi uma das surpresas do dia, colocando seus dois carros entre os dez primeiros. A outra foi Gasly, o “primeiro dos outros”, em sexto com a Toro Rosso.

No outro extremo, a decepção foi a McLaren. Sainz Jr. teve problemas de motor e nem participou da classificação. Norris não conseguiu passar ao Q3. Outro time que fracassou no sábado ameno de Interlagos, que depois do dia chuvoso e frio de ontem teve um solzinho tímido aparecendo entre nuvens, foi a Renault, empacando com Ricciardo e Hülkenberg no Q2. No mais, tudo normal.

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O tempo cronometrado por Verstappen hoje é cerca de dez segundos mais baixo que a primeira pole registrada no encurtado traçado de Interlagos, que caiu de seus quase 8 km para os atuais 4,309 km com a reforma de 1990 — a medição na época apontava 4.325 m, depois corrigida para a extensão oficial utilizada hoje. No GP do Brasil de 1990, Senna fez a pole com o tempo de 1min17s277.

Para se ter uma ideia de como a F-1 evoluiu nestas três décadas, o tempo do último colocado no grid para a corrida de amanhã, Robert Kubica, seria suficiente para que ele largasse na pole em quase todos os GPs do Brasil disputados desde então — as exceções seriam as corridas deste ano e as de 2014, 2017 e 2018. O polonês da hoje risível Williams fez sua melhor volta em 1min10s614. Foi mais rápido que Rosberg em 2015 e Hamilton em 2016, por exemplo.

Claro que nesse vasto período a F-1 mudou de regulamento várias vezes, as condições de pista de ano para ano nunca são idênticas, e comparar tempos de classificação ao longo do tempo não leva a conclusões muito relevantes. É apenas uma curiosidade. A pole de Verstappen, a propósito, nem é a mais rápida da história de Interlagos. Ano passado, Hamilton virou 1min07s281 na sua volta mais rápida. Mas fica o registro.

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E o que esperar de um GP amistoso amanhã, uma vez que os títulos de Pilotos e Construtores estão decididos?

Com Max na pole, acho que será divertido. Ano passado o holandês desperdiçou a possibilidade de vitória num enrosco infantil com Ocon, e tem a chance de se redimir agora. Vettel e Hamilton não têm nada a perder, e ainda teremos Leclerc vindo lá de trás jantando uma dezena de carros mais lentos para previsível gáudio de quem for narrar a prova pela TV.

Interlagos quase sempre faz corrida boa. Vamos ver se isso se repete amanhã.

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