Blog do Flavio Gomes
F-1

SOBRE DOMINGO À TARDE

RIO (valeu muito) – Foi difícil escolher a melhor foto do domingo, mas fiquei com o abraço de Verstappen e Gasly porque ele representa a vitória de um projeto da Red Bull que merece todos os aplausos. Sob a batuta de Helmut Marko, a fábrica de energéticos tem descoberto talentos indiscutíveis e, em Interlagos, levou […]

Molecada da Red Bull: vitória de um projeto que revela enormes talentos

RIO (valeu muito) – Foi difícil escolher a melhor foto do domingo, mas fiquei com o abraço de Verstappen e Gasly porque ele representa a vitória de um projeto da Red Bull que merece todos os aplausos. Sob a batuta de Helmut Marko, a fábrica de energéticos tem descoberto talentos indiscutíveis e, em Interlagos, levou três de suas crias ao pódio. Todos começaram na Toro Rosso. Sainz Jr., que não aparece na foto porque só soube que tinha conquistado o terceiro lugar uma hora depois, hoje defende a McLaren. Mas saiu da mesma horta.

A lista de pilotos que a Red Bull carregou no colo desde a tenra idade é de respeito. Sem forçar muito a memória, posso citar Vettel, Buemi, Vergne, Félix da Costa e Ricciardo — sem falar de caras como Márquez no motociclismo e Loeb e Ogier no rali. Alguns acabaram não vingando, o que é normal. Marko é exigente e implacável. “Um moedor de carne”, diz-se da Red Bull quando ela frita algum moleque — eu mesmo já devo ter escrito isso algumas vezes. Não reconhecer o sucesso de seu programa de desenvolvimento, no entanto, é negar a realidade.

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Os três meninos que levaram troféus em Interlagos também formaram o pódio mais jovem da história, com média de 23 anos, 8 meses e 13 dias. Superaram a marca de Vettel-Kovalainen-Kubica no GP da Itália de 2008 (23 anos, 11 meses e 20 dias).

Hannah Schmitz: decisão corajosa valeu a vitória

Eu também poderia ter escolhido como imagem do GP a dessa moça aí do lado, a engenheira Hannah Schmitz, que responde pelas estratégias de corrida da Red Bull. Ela mal trabalhou no ano passado, já que estava de licença maternidade. Voltou em 2019. Foi ela quem tomou a decisão de chamar Verstappen para um terceiro pit stop no fim da corrida, durante o safety-car causado pelo abandono de Bottas.

Parar ali significaria perder a liderança para Hamilton, mas Hannah fez as contas e concluiu que com um jogo de pneus macios novos nas últimas voltas Max seria capaz de superar Lewis, que tinha médios usados. O holandês confiou cegamente na determinação da estrategista.

Nem preciso dizer que ela acertou na mosca.

Os pit stops da Red Bull, além de certeiros, foram também incrivelmente rápidos. Tão rápidos que a equipe estabeleceu um novo recorde domingo. Na primeira parada, os mecânicos rubro-taurinos trocaram os quatro pneus de Verstappen em menos de dois segundos — precisamente 1s82.

Agora precisamos falar da Ferrari.

A leitura da crise ferrarista que fez nosso cartunista oficial Marcelo Masili pode parecer um pouco extremada num primeiro momento. Afinal, enjaular Vettel e Leclerc talvez seja um exagero.

Ou não…

O que fazer quando pilotos da mesma equipe se acertam na pista e causam um abandono duplo? Não foi a primeira vez, claro. De supetão, lembro de contendas entre Vettel e Webber, Verstappen e Ricciardo, Zonta e Villeneuve, Hamilton e Rosberg.

Alguns meses atrás, escrevi, ou falei num vídeo, que a maior atração da segunda metade do campeonato seria o embate Vettel x Leclerc. Um conflito de gerações. As posições de cada um são muito claras. Sebastian é o veterano com quatro títulos mundiais que não precisa provar mais nada para ninguém. Charlinho é o novato talentoso que procura conquistar seu espaço nem sempre de uma maneira muito gentil.

Vettel já foi assim quando começou. Se impor, numa categoria competitiva como a F-1, é quase sempre uma necessidade. Lembremo-nos da explosiva dupla Hamilton-Alonso em 2007. O espanhol não aguentou o tranco e preferiu não entrar naquela dividida porque sabia que tinha chances de perder.

Cada um escolhe seu caminho. Leclerc é duro na pista e pouco leal em alguns momentos, pensando muito nele e pouco no time — como em Monza, quando não deu o vácuo para Vettel na classificação, como haviam combinado. O alemão, que anda meio ranzinza e mal-humorado, usa sua condição de tetracampeão e um currículo que o coloca entre os melhores de todos os tempos para se contrapor ao ímpeto do monegasco. Não tem sido o suficiente e a fama de reclamão só aumenta. Está, evidentemente, incomodado. E atrás na classificação do campeonato.

Vettel não está sabendo lidar com a novidade de ter um companheiro duro na queda

No episódio específico da batida em Interlagos, a culpa pode ser dividida entre os dois. Vettel foi muito limpo quando levou um drible espetacular de Leclerc no S do Senna. Não estava esperando um ataque àquela altura da prova, a seis voltas do final. Tirou o pé para evitar um choque quando Charlinho mergulhou por dentro. Mas, experiente, preparou o troco saindo melhor da segunda perna da curva, embutiu no companheiro na entrada da reta, abriu a asa e a ultrapassagem era inevitável.

Leclerc percebeu que iria ser ultrapassado. Vai alegar até o fim da vida que deixou um espaço à direita, e é verdade. Só que se colocou no meio da pista e nem se preocupou em posicionar o carro para fazer a curva do Lago. De novo, deu uma de joão-sem-braço. Desconfio até que os dois passariam reto se não fosse o leve esbarrão que furou o pneu de um e quebrou a suspensão de outro.

As imagens mostram que o toque foi causado por Sebastian com uma ligeira mudança de direção para a esquerda, cujo objetivo era afastar o adversário para fazer a tomada da curva seguinte. Uma disputa assim é normal entre pilotos de time diferentes. Se bater, paciência. Quando se trata de companheiros de equipe em litígio permanente, porém, alguém precisa ceder. Vettel testou Leclerc. Leclerc não cedeu. O resultado é uma crise danada. Mattia Binotto terá trabalho no ano que vem para domar as feras.

E nós adoramos essas coisas!

Vale destacar que nas declarações pós-corrida os dois pilotos foram econômicos nas palavras e evitaram espancar verbalmente um ao outro. O chefe da Ferrari disse que eles deviam desculpas ao time. A equipe interrompeu uma sequência de 46 provas marcando pontos. Agora, a Red Bull, com 37, detém a maior série.

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O NÚMERO DE INTERLAGOS

…pilotos diferentes já venceram o GP do Brasil na configuração atual de Interlagos. Foram 30 corridas disputadas na pista curta desde 1990. A lista: Schumacher (4 vezes); Vettel (3); Senna, Hakkinen, Montoya, Massa, Webber, Rosberg e Hamilton (2); Prost, Mansell, Hill, Villeneuve, Coulthard, Fisichella, Raikkonen, Button e Verstappen (1).

Tá grande isso aqui já, né? Vamos a alguns tópicos que escaparam ontem.

Sainz e a McLaren fizeram festa e foram atrás da taça
Gasly: nasceu para defender o time de Faenza

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A FRASE DO BRASIL

Gasly: pódio inesquecível

“É o melhor dia da minha vida.”

Pierre Gasly, que disputou as 12 primeiras corridas pela Red Bull, foi rebaixado para a Toro Rosso depois da Hungria e terminou a prova em segundo lugar 

E terminamos com nosso tradicional “Gostamos & Não gostamos”, já antecipando que, numa corrida tão legal como essa, foi bem difícil encontrar algo que não tivesse sido do agrado geral da nação.

Kimi e Giovinazzi: 22 pontos

GOSTAMOSDo resultado da Alfa Romeo >>>, que ficou em quarto com Raikkonen e quinto com Giovinazzi. A equipe somou 22 pontos e, no Brasil, só ficou atrás da Red Bull, que fez 25 com Verstappen. O pódio bateu na trave. Kimi tentou tudo sobre Sainz Jr., mas o espanhol resistiu bravamente.

Lewis se desculpa: erro assumido

NÃO GOSTAMOSDo toque de <<< Hamilton em Albon, tirando do tailandês a chance de chegar ao pódio pela primeira vez na carreira. Lewis desculpou-se ainda no Parque Fechado com o jovem Alex, foi ao pódio meio sem jeito e nem se defendeu da punição que o atirou para o sétimo lugar na corrida.

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