Blog do Flavio Gomes
F-1

CREPÚSCULO (2): VIVA AS MINA!

RIO (e já estamos ansiosos) – Vou começar pelo fim. Tem enorme significado o que fez Hamilton antes de receber seu 11º troféu de vencedor nesta temporada. Correu aos escritórios da Mercedes para buscar Britta Seeger, diretora de marketing e vendas da marca alemã. Fez questão de levar uma garota ao pódio para receber a […]

Hamilton leva Britta Seeger ao pódio: mais uma do campeão, num país que despreza mulheres

RIO (e já estamos ansiosos) – Vou começar pelo fim. Tem enorme significado o que fez Hamilton antes de receber seu 11º troféu de vencedor nesta temporada. Correu aos escritórios da Mercedes para buscar Britta Seeger, diretora de marketing e vendas da marca alemã. Fez questão de levar uma garota ao pódio para receber a taça de um xeique qualquer num país que, embora finja ser todo moderninho, relega as mulheres ao segundo plano em sua sociedade.

O cara, em resumo, tem sido um campeão em tudo. Na pista, nos gestos, nas palavras, na militância, no engajamento.

Hamilton venceu o GP de Abu Dhabi de ponta a ponta depois de fazer a pole e ainda cravar a melhor volta com pneus duros bem usados no crepúsculo da corrida — foi na 53ª das 55 voltas da última etapa do campeonato. Isso aí chama Grand Chelem, e é a sexta vez que ele consegue o feito — só Jim Clark, oito vezes, fez mais.

Fecha o ano com 11 vitórias e cinco poles, pontos em todas as 21 etapas e dizendo que se sente “um garoto de 22 anos”. Desde o início da era híbrida da F-1, em 2014, o inglês ganhou 62 de 121 GPs disputados — mais da metade. Foram 11 em 2014 (de 19 corridas), 10 em 2015 (de 19), 10 em 2016 (de 21, quando perdeu o título para Rosberguinho), 9 em 2017 (de 20) e 11 no ano passado (de 21).

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A vitória de hoje foi a 84ª de sua carreira, o que o deixa a sete de empatar com Michael Schumacher, o maior vencedor de todos os tempos. Pela média dos últimos anos, imagina-se que vai superar o alemão em 2020, último ano do atual regulamento da categoria. Em 2021 os carros serão bem diferentes, haverá teto de gastos e é possível que a relação de forças que se vê desde 2014 sofra um ou outro abalo. Mas também é possível que a Mercedes siga na frente. E como Hamilton diz que se sente um jovenzinho cheio de vontade, é legítimo acreditar que as marcas que irá estabelecer serão muito difíceis de superar por muito tempo.

Hamilton: 11 vitórias no ano, 84 na carreira e contando

Não há muito o que contar sobre o GP que fechou a temporada, o que não chega a ser uma novidade. As corridas no circuito de Yas Marina não são grande coisa desde sempre. O cenário é belo e impressionante, mas a pista é chata e artificial. Em 11 das edições realizadas, seis foram vencidas por quem largou na pole. Outras quatro, por quem largou em segundo. A única surpresa foi a prova de 2012, vencida por Raikkonen, de Lotus, a partir do quarto lugar no grid — o melhor GP de todos na pista árabe.

Assim, completamente relaxado, Hamilton não teve dificuldade nenhuma para levar seu carro até a bandeirada sem ser ameaçado por ninguém. Alguma ação se viu um pouco atrás dele no início e no meio da corrida. Verstappen, com quem Lewis dividia a primeira fila, perdeu a posição para Leclerc logo de cara e só foi recuperá-la no meio da corrida para terminar onde largara.

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A Ferrari, mais uma vez, se atrapalhou toda na estratégia e, ao contrário de quase todo mundo, foi para duas paradas. Leclerc largou de médios, trocou para duros e terminou de macios. Em terceiro, 43s atrás de Hamilton. Vettel partiu de macios, mudou para duros e acabou com médios. Em quinto, 1min04s atrás do vencedor.

“Não foi um bom ano”, admitiu Vettel. “A equipe precisa melhorar sua performance e eu também. Sei que posso ser melhor”, reconheceu o tetracampeão, que fechou o campeonato em quinto com 240 pontos, 24 atrás de Leclerc. Perdeu de 12 a 9 para o monegasco em posições de largada e terminou 12 corridas à frente do jovem companheiro. Mas ganhou só uma prova, diante de duas de Charlinho — que acabou sendo o maior “poleman” de 2019, com sete largadas na posição de honra.

Entre os dois carros da Ferrari em Abu Dhabi chegou Bottas, que largou em último e foi escalando o pelotão até a quarta colocação, com uma exibição bem convincente. Mais ainda porque nas primeiras 20 voltas, por conta de problemas nos sensores de pista, o uso da asa móvel foi bloqueado pela direção de prova.

Norris: oitavo com a McLaren e zoando a equipe no rádio

É verdade que alguns pilotos conseguiram driblar as limitações do traçado para buscar resultados que valessem alguma coisa. Pérez, por exemplo, lutou muito pelo sétimo lugar, o chamado “primeiro dos outros”, atrás das duplas de Mercedes, Ferrari e Red Bull (Albon foi o sexto). Chegou pela sexta vez seguida nos pontos, fazendo muito mais que seu time pode oferecer.

Norris, em oitavo, fechou bem sua temporada de estreia, Kvyat foi guerreiro para buscar o nono lugar e Sainz Jr., na última volta, ganhou o décimo lugar de Hülkenberg e somou o ponto que precisava para terminar o Mundial na sexta posição, com 96 pontos — uma à frente de Gasly.

Hulk se despediu da Renault e da F-1, e ganhou um agrado do amigo internauta, sendo eleito o “Piloto do dia” pela votação no site da categoria. Fechou seu último campeonato com a 14ª posição. Só um piloto, entre os 20 que participaram de todas as provas, não pontuou: Russell, da Williams.

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E acabou. Foi um campeonato de desfecho previsível, mas com ótimas corridas. A sequência depois do péssimo GP da França foi muito boa. Vencedores se alternaram, Verstappen teve atuações brilhantes, as tretas internas da Ferrari entretiveram o distinto público, a nova geração de Albon, Norris, Leclerc, Gasly, Sainz Jr. e o próprio Max, uma espécie de “jovem veterano”, não se intimidou com figurões como Hamilton, Vettel, Ricciardo e Raikkonen, a Honda ressuscitou com a Red Bull e a Mercedes mostrou, mais uma vez, sua competência irritante.

O ano, porém, não foi só de alegrias. A F-1 em 2019 chorou as mortes de Charlie Whiting e Niki Lauda, além do acidente fatal da F-2 em Spa, que tirou a vida de Anthoine Hubert no fim de semana do GP da Bélgica.

No meio desta semana, as equipes voltam à pista em Abu Dhabi para o último teste do ano, já pensando em 2020. Ano que vem serão 22 corridas, com as entradas de Holanda e Vietnã no calendário e a saída da Alemanha.

E ao contrário do que se possa imaginar, ninguém vai descansar, claro.