Blog do Flavio Gomes
#69

ANATOMIA DE UMA BATIDA

RIO (ô dificuldade que é editar vídeo!) – Muito bem. Faltou um relato sobre o fim de semana em Interlagos, a reestreia do Meianov agora pela Super Liga Desportiva de Velocidade na categoria Hot Classics. Antes de mais nada, um elogio aos organizadores e participantes. Reencontrei, depois de anos, um ambiente de enorme camaradagem, alegria […]

RIO (ô dificuldade que é editar vídeo!) – Muito bem. Faltou um relato sobre o fim de semana em Interlagos, a reestreia do Meianov agora pela Super Liga Desportiva de Velocidade na categoria Hot Classics.

Antes de mais nada, um elogio aos organizadores e participantes. Reencontrei, depois de anos, um ambiente de enorme camaradagem, alegria e entusiasmo. De todos. Ganhei uma família, e garanto que já não esperava encontrar isso de novo no automobilismo.

Rapidinho, as regras. Os carros largam todos juntos, mas são divididos em cinco categorias: A, B, C, D e M. Cada uma tem um tempo mínimo de corrida calculado a partir dos tempos mínimos de voltas previamente escolhidos pelos pilotos. Assim, a turma mais rápida (A) tem de calcular seu tempo total de prova com voltas em 2min05s. Como são 30 voltas, multiplique 2min05s por 30 e acrescente 10min do reabastecimento obrigatório para chegar a esse tempo total de corrida. A categoria B prevê voltas em 2min10s, a C em 2min15s, a D em 2min20s e a M (de “modernos”), em 2min15s.

Ninguém é punido se virar voltas abaixo do mínimo de sua categoria. Faz sentido. Se o piloto da categoria de 2min15s faz uma volta ruim em 2min18s, por exemplo, pode recuperar na volta seguinte virando 2min12s. Vale a média. Mas ninguém pode fechar a corrida abaixo do tempo mínimo para cada categoria. Isso acarreta desclassificação.

As 30 voltas da corrida, porém, só serão completadas pela turma da categoria A, de 2min05s. O cálculo para as demais é de 29 (B), 28 (C e M) e 27 (D). E cada uma tem um tempo mínimo de prova para os respectivos números de voltas. Parece complicado, mas não é.

Na classificação para definir o grid, voltas abaixo do tempo mínimo de cada categoria resultam em punição. Foi o que aconteceu com Meianov, que deveria virar o mais perto possível de 2min15s. Acabei fazendo 2min14s533 e depois de três voltas recolhi para os boxes sabendo que seria jogado para o fundo do pelotão. Fiz o 13º tempo na geral (eram 40 carros), mas acabei tendo de largar em 32º por conta da punição.

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Felizmente a classificação e corrida aconteceram no seco. No molhado, sábado no fim da tarde, Meianov deu algumas voltas com o Nenê, meu preparador, e virou 2min38s. Domingo de manhã, na segunda sessão de treinos livres, peguei o carro pela primeira vez. Basicamente, em relação ao Meianov de cinco anos atrás, quando foi aposentado, mudamos: 1) motor (agora um AP 2.0 com duas Weber); 2) pneus (agora Dunlop e aro 15); 3) suspensão (tudo).

Meianov tinha dois problemas crônicos. Falta de potência no motor Lada, por mais que a gente fuçasse, e destracionar demais por conta da bundinha muito mole. Lada tem tração traseira. As mudanças na suspensão socaram a traseira no chão, ele ficou duro que nem um pau, mas uma delícia de dirigir. Só que não em pista escorregadia como domingo de manhã, um sabão. Era despejar potência e a traseira dar uma rabeada. Virei 2min39s e não gostei muito do que vi.

A sorte é que secou, e já na classificação percebi o carro que tinha nas mãos: um canhão de reta e muito bom nas curvas de média, sobretudo. O câmbio ainda é uma dificuldade. Usamos o original soviético, de cinco marchas. Algumas curvas de Interlagos pedem segunda marcha, como o S do Senna, a sequência do S antigo mais o Pinheirinho, o Bico de Pato e a Junção. Mas a segunda do Laika é curta demais e a terceira, longa.

O jeito foi me adaptar e usar segunda só no Bico de Pato, saindo um pouco xoxo em terceira do S e do Pinheirinho, principalmente. Na Junção me virei, freava um pouco antes, não matava a curva, enfiava terceira e começava a encher o motor antes da subida. Deu certo. Fiz a primeira volta em 2min18s. A segunda, em 2min14s. É carro para virar abaixo de 2min10s em Interlagos, mas isso fica para o futuro.

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Fui animado para a largada, e como dá para ver no vídeo ela foi bem boa. Fechei a primeira volta em 13º, passando muita gente e contando com dois ou três abandonos de um acidente feio no Laranjinha.

Meus problemas começaram na segunda volta. Aos 3min21s, dá para ver no fim da Reta Oposta, à direita, a bandeira amarela no posto de sinalização. Isso porque à frente, no Laranjinha, os carros do acidente da primeira volta ainda estavam sendo retirados. No posto seguinte, à direita, já na descida do Lago (aos 3min33s), veem-se mais bandeiras amarelas agitadas por conta do mesmo acidente. Aquele trecho inteiro estava sob bandeira amarela. Mas o Fusca me passou (3min38s), mesmo com mais bandeiras sendo agitadas à esquerda (3min44s).

Eu até gesticulei, mas paciência. Tinha quatro carros à frente que passaria com facilidade: o próprio Fusca, um Chevette, um Karmann-Ghia e um Opala. Não eram da minha categoria e meu carro estava muito rápido. Tinha a corrida toda pela frente para depois pensar no cálculo das voltas.

Só que o Fusca não entendeu assim. Subi o Café com força, fui para o lado de fora da pista na Reta dos Boxes, iniciei a ultrapassagem com bastante segurança, ele deu uma leve jogadinha para a direita (5min09s) e, a partir daí, tudo foi muito rápido.

Dá para perceber pelas minhas mãos no volante que não mudei a direção um milímetro sequer ao emparelhar com o Fusca #19. Aos 5min10s, a ultrapassagem está concluída e vou tratar de frear e reduzir, para então tomar a primeira perna do S do Senna à esquerda. Só que, aos 5min12s, levo uma pancada na lateral. O Fusca, não entendi por quê, se apoiou na minha porta traseira e meu carro, a 165 km/h pelo que indicava o GPS, se desequilibrou totalmente, apontou para dentro e deu no muro. Eu nem tinha começado a fazer a curva.

Na porta traseira, abaixo do logo da Lada, a “prova do crime”: marcas do pneu do Fusca

A pancada foi bem forte. Felizmente minha equipe, a LF, é paranoica com segurança e o carro é um tanque de guerra. Não fiquei nem dolorido. Banco, cinto, HANS, tudo isso é muito importante. A frente do Meianov estragou bem. Não pegou motor, porém. A suspensão também se salvou. Vamos precisar de um Lada doador para arrancar a frente e transplantar para o Meianov, que vai voltar em abril com a carinha um pouco diferente. Os faróis redondos que deixavam ele meio zoiudo (do modelo antigo) serão substituídos pelos quadrados da versão exportada para o Brasil de 1990 a 1995. Capaz que a gente coloque um spoiler invocado, vamos ver… Tudo se resolve.

Quanto ao Fusca, ele perdeu o capô dianteiro quando rodou depois de me tocar, mas seguiu na prova. Algumas voltas depois, bateu de novo, agora num Passat, e o piloto teve de ser levado a um hospital com a bacia lesionada, mas felizmente está bem.

Ah, o áudio do vídeo está horrível. Foi a primeira vez que usei a câmera nova que comprei. Vou tentar acertar isso nas próximas gravações.

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