Blog do Flavio Gomes
F-1

N’INGLATERRA (1)

SÃO PAULO (34°C lá, cês tão zoando?) – A notícia deste fim de semana do GP da Inglaterra, sem dúvida, foi o teste positivo de Sergio Pérez para o novo coronavírus, cujo resultado saiu ontem à tarde. Na maior correria do mundo, a Point Force teve de ir atrás de um piloto. Descartou os reservas […]

SÃO PAULO (34°C lá, cês tão zoando?) – A notícia deste fim de semana do GP da Inglaterra, sem dúvida, foi o teste positivo de Sergio Pérez para o novo coronavírus, cujo resultado saiu ontem à tarde. Na maior correria do mundo, a Point Force teve de ir atrás de um piloto. Descartou os reservas da Mercedes, sua fornecedora de motores, porque um está em Berlim para a Fórmula E, Van Dorme, e o outro é ruim, Guti Erros.

Assim, sobrou para Hülkenberg, chamado às pressas por conhecer o time, que defendeu em 2011 e 2012 e de 2014 a 2016. Quando saiu e a Force India apresentou sua pintura rosa em 2017, Hulk fez piadinha de quinta série no Twitter. Mas é claro que foi só uma piadinha de quinta série, ninguém precisa “cancelar” o cara por isso. Foi uma boa escolha.

Pérez não sabe onde pegou o vírus. Só que depois do GP da Hungria, foi para o México visitar a mãe. E também deu seus pulinhos em restaurantes e lugares badalados na Itália. Disse que tomou todos os cuidados. Mas, como compreendem as pessoas esquisitas que acham que a Terra é redonda, ninguém está livre de contrair a doença mesmo tendo a preocupação permanente com as medidas de prevenção — elas reduzem muito os riscos, mas não os eliminam. E se o cara sai flanando por aí como Pérez, a chance de se contaminar, obviamente, aumenta. Eu, se sou seu chefe, dou-lhe um esporro monumental.

Pelos protocolos da F-1, Pérez foi isolado, assim como toda a cidade de Guadalajara e todos os mariachis em atividade na Europa. Hulk foi encontrado em isolamento social, correu para a Inglaterra, visitou a fábrica (que por sorte fica do outro lado da rua da entrada de Silverstone), passou um tempinho no simulador, experimentou o macacão de Stroll, que é mais ou menos do mesmo tamanho, e foi à luta.

O que aproxima esse episódio de uma daquelas fábulas inacreditáveis do esporte é que Nico-Nico, quase 200 GPs nas costas, nunca fez um pódio na categoria. Com esse carro — ainda rosa, então sem piadinhas, rapaz! –, tem, talvez, a maior chance de sua vida. Claro que vai ser difícil, precisa se adaptar aos botões no painel e ao automóvel em geral, mas ele até que começou bem, andando sempre entre os dez primeiros nos treinos livres britânicos. Na corrida do outro domingo, dia 9, que certamente disputará porque Pérez precisa cumprir quarentena, suas possibilidades são maiores.

E o outro acontecimento digno de nota desta sexta-feira em Silverstone, além da temperatura assustadoramente alta para os padrões ingleses, foi a ausência de Vettel no primeiro treino e suas atitudes esquisitas no segundo. Vocês devem ter visto: depois de algumas voltas ele parou nos boxes, pediu para desmontarem o bico, enfiou ele mesmo a mão nas entranhas do veículo, só faltou pegar umas ferramentas, parece que tinha alguma coisa errada na pedaleira.

Então vamos lá. Para isso serve Gola Profonda, não é mesmo?

Meu dileto informante descobriu na sala de imprensa antiga do autódromo, desativada, um telefone funcionando, com linha liberada. Deve ter sobrado dos tempos em que a British Telecom fornecia aparelhos e serviços aos jornalistas. Inclusive roubei uma aparelho desses anos atrás e está aqui na minha sala. A foto não me deixa mentir. E não me julguem, eles iam jogar tudo fora. E sou louco por aparelhos de telefone.

Gola me ligou, pois, e foi bom porque não precisei gastar interurbano — não me sugiram ligações por WhatsApp, acho sacanagem com as empresas de telefonia e são muito ruins. Gola, disse, seja rápido porque estou ocupado. Farei perguntas diretas e quero respostas objetivas. Pode ser? “OK”, respondeu meu amigo com objetividade. Primeiro, por que o Vettel não andou no primeiro treino? “Não achamos ele.” Como assim, não acharam? “De manhã cedinho as câmeras de segurança flagraram o Seb na porta da fábrica da Racing Point, tocando a campainha.” E aí?, continuei. “Ninguém atendeu e as câmeras de segurança flagraram ele entrando no autódromo.” Então como não acharam? “Ele não veio para nosso box. Então pegamos as câmeras de segurança do hotel desde ontem à tarde. Elas flagraram ele indo a uma loja de fantasias.” Loja de fantasias? “Sim, as câmeras flagraram ele comprando uma roupa da Penélope Charmosa. Rosa.” Não estou entendendo, Gola. “Bom, ele comprou a fantasia. Depois que entrou no autódromo as câmeras de segurança flagraram ele saindo do motorhome dele vestido de Penélope Charmosa. De rosa.” Gola, essa história está longa demais. Onde ele estava, afinal? “Você é ruim de deduzir as coisas, né? Ele se vestiu de rosa e se apresentou no box da Racing Point e disse que era o piloto alemão substituto, e aí foi a maior confusão, porque apareceu o Hülkenberg vestido de Penélope Charmosa também e disse que ele era o alemão substituto, e então saíram no tapa se xingando em alemão, ninguém entendeu nada, e no fim quando a gente o encontrou estava na enfermaria colocando gelo no nariz. E aí não tinha mais tempo pra treinar.”

Acho que entendi.

Mesmo assim, Gola, teve o problema do segundo treino. Que diabos aconteceu no carro dele? “Você quer a real?” Claro, Gola, vai, rápido, estou com pressa. “Ele reclamou da pedaleira.” Isso eu vi, mas o que estava errado na pedaleira? “Os pedais.” Gola, por favor, seja mais específico… “Foi assim. De manhã, como ele não aparecia, o Charlito chamou um mecânico do Vettel que é amigo dele e entregou um pacote.” Um pacote? “Sim. Mandou instalar no carro do Vettel.” Gola, para de enrolar, o que tinha no diabo do pacote? “Dois pedais.” Gola, cacete, todo mundo sabe que são dois pedais num carro de Fórmula 1, qual o problema desses pedais? “Eram dois de freio. E ele percebeu.”

Encerramos nosso papo nesse momento, porque não acreditei nessa história de dois pedais de freio, não. Meu informante não diz coisa com coisa. Talvez tenha de procurar outro.

Fora isso, destaque-se a grande forma da Aston Point, que fechou o dia em primeiro lugar com Lance Stroll. Albon foi o segundo, mas deixou sua marca de instabilidade ao arrebentar seu carro no guard-rail no final da sessão. A Mercedes não brilhou, com Sapattos em terceiro e Comandante Amilton em quinto. O calor explica. Se tem um pontinho fraco nesses carros é seu desempenho com altas temperaturas. E o sol saariano de hoje em Silverstone pegou todo mundo de calças curtas. Quem não estava, colocou.

Coisinhas que devem ser registradas, para encerrar:

  1. Hulk detalhou suas últimas horas a partir do momento em que Pérez foi proibido de correr. Contou que às 16h30 de ontem recebeu um telefonema da Martin Racing e pegou um avião para a Inglaterra (não entendi direito onde ele estava, acho que em Mônaco). A equipe trabalhou até as duas da manhã para fazer seu banco. E às oito da matina ele estava no simulador onde ficou 45 minutos aprendendo para que servia cada botão do volante. Terminou o dia em sétimo.
  2. De 24 a 30 de julho, a F-1 realizou 3.909 testes para Covid-19. Apenas o de Pérez deu positivo. Todo mundo que entra num autódromo está sendo testado a cada cinco dias.
  3. Norris está correndo com um capacete gracinha desenhado por Eva, uma menina de 6 anos que ganhou o concurso que o piloto da McLaren promoveu. O “S” de Norris ficou meio deslocado para baixo na lateral — delicioso improviso de criança. E o pessoal da F-1 entrou na brincadeira na tabela de tempos do primeiro treino livre. Vejam aí embaixo se me fiz explicar bem.