Blog do Flavio Gomes
F-1

N’ARRABBIATA (2)

RIO (já acabou, foi?) – Para uma pista legal, voltas de classificação lindas. Foi belíssima a de Hamilton, que conseguiu hoje a 95ª pole de sua carreira e a sétima em nove corridas deste ano. Honrou Mugello, Lewis. E honrou Mugello, Leclerc. Para mim, o monegasco foi destaque do sábado, classificando a carroça da Ferrari […]

RIO (já acabou, foi?) – Para uma pista legal, voltas de classificação lindas. Foi belíssima a de Hamilton, que conseguiu hoje a 95ª pole de sua carreira e a sétima em nove corridas deste ano. Honrou Mugello, Lewis. E honrou Mugello, Leclerc. Para mim, o monegasco foi destaque do sábado, classificando a carroça da Ferrari em quinto. Para se ter uma ideia do tamanho da façanha, Vettel nem passou do Q2 e larga em 14º. Está muito triste ver Vettel neste ano. Que ele recarregue as baterias para 2021 na Aston Martin.

Mas vamos à classificação, e correndo porque daqui a pouco tenho programa na TV.

Sob o sol da Toscana: autódromo raiz em região linda da Itália

Sol e céu azul na Toscana, 29°C. Não tem um filme que fala algo parecido? “Sob o sol da Toscana”, seria? “Uma primavera na Ligúria”, talvez? Ou “Um outono sombrio na Lombardia”?Não importa. O cenário é lindo demais, seja na Toscana, seja na Ligúria, até na Lombardia. E eu gosto especialmente da Costa Amalfitana, portanto, quando tiver de rodar um filme, será ali, à beira do Mediterrâneo.

Hamilton começou forte no Q1 fazendo logo de cara uma volta em 1min15s778, mas Bottas foi 0s029 mais rápido que ele e deu a impressão de que iria riscar o capacete do companheiro com uma pole no milésimo GP da Ferrari. Vinha sendo, Sapattos, o melhor nos treinos livres, deixando Lewis com a pulga atrás da orelha.

A Mercedes, como tem sido neste ano, está numa liga própria e só faz sentido compará-la com ela mesma. Verstappinho, o terceiro colocado, ficou 0s586 atrás. A Ferrari, por sua vez, seguiu no seu calvário da temporada: na primeira tentativa, Leclerc foi 1s299 pior que Bottas e Sebastian ficou a 1s594. Um horror.

Os últimos minutos do Q1 foram ótimos, com uma porção de pilotos pendurados na degola que não deveriam estar ali, como Gasly, Raikkonen, Norris, Vettel… No fim dançaram Gasly, Giovinazzi, Russell, Latifi e Magnussen. Decepções? Gasly e Magnussen. Afinal, Kvyat passou tranquilo em décimo e Grosjean conseguiu avançar com o outro carro da Haas. E palmas para Kimi, 13º colocado na pista que o mostrou para o mundo 20 anos atrás.

Já Vettel passou por um pentelhésimo. Ufa. O vexame poderia ter sido ainda maior.

Vettel: o melhor dele no fim de semana é a pintura do capacete em “off-white”

Mas no Q2 não teve jeito e Tião ficou. Todos saíram com pneus macios e, pelo menos entre os dez primeiros, ninguém vai arriscar nada diferente na largada amanhã. Hamilton, na segunda parte da classificação, deu um peteleco em Bottas para lembrá-lo de que estava ali, ainda, e ficou à frente do finlandês: 1min15s309 contra 1min15s322, 0s013 mais rápido. Max, em terceiro, até que chegou perto desta vez: 0s162 de diferença. Rodaram, pela ordem, Norris, Kvyat, Raikkonen, Vettel e Grosjean. Nada de muito anormal, exceção feita à proeza de Leclerc, que conseguiu levar a Ferrari #16 ao Q3.

Na definição dos dez primeiros, Hamilton e Bottas brigaram sozinhos pela pole, mas Lewis, como sempre acontece na hora em que está valendo alguma coisa, se superou. Fez uma volta maravilhosa em 1min15s144 e colocou 0s059 no parceiro. Chamou a pista de “fenomenal” e contou que ficou estudando a noite inteira como bater Bottas, mudando traçado, pontos de freada, respiração, posição dos dedos no volante e considerando até tirar o piercing do nariz.

Valtteri, coitado, nem pôde tentar o troco. Na segunda tentativa de volta rápida, Ocon rodou à sua frente motivando uma bandeira amarela. E um monte de gente teve de se contentar com os tempos que tinha na primeira saída.

Ocon roda e estraga a segunda tentativa de Bottas: mais uma pole para Hamilton

Hamilton, Bottas, Verstappen, Albon (foi bem, o menino), Leclerc, Pérez, Stroll, Ricciardo, Sainz Jr. e Ocon formaram o top-10, sem grandes surpresas — exceto Charlinho, que conseguiu se colocar à frente de carros bem melhores como os da Racing India, Renault e McLaren.

Será uma corrida de poucas ultrapassagens, amanhã, pelas características de Mugello. Em compensação, como são previstas duas paradas, pode ser que tenhamos algumas novidades na classificação final, dependendo das estratégias de pneus da turma que está de 11º para trás no grid. E vai ser interessante, especialmente no início, observar como Leclerc vai fazer para segurar a turma mais rápida que vem atrás.

A Ferrari grená de Leclerc: grande surpresa do sábado, em quinto

Apesar de ser um fim de semana de festa para a Ferrari, correndo em casa e festejando mil GPs, Gola Profonda, meu informante secreto, mandou mensagens tristonhas hoje. “Estamos orgulhosos de tudo que fizemos nestes anos todos na F-1, mas tá foda”, escreveu no WhatsApp, com sinceridade. Imagino, respondi. Não deve ser fácil numa corrida histórica como essas nem passar para o Q3 com um dos carros, né? “Q3? Carro? Estou falando da comida. E da bebida. Acabou o treino e estamos comendo salame com Lambrusco. Foram buscar no mercado aqui perto, porque simplesmente o Binotto esqueceu de contratar um serviço de bufê. Ainda bem que os mecânicos do Vettel estavam de folga e tiveram tempo de comprar de manhã”, explicou Gola. De folga?, perguntei. Como assim, de folga? “É um lance de hora extra aí, não sei direito. Contenção de custos. Então, eles trabalham na sexta, folgam no sábado e domingo é só meio período. Aí hoje eles tiveram tempo de comprar Lambrusco e salame. É o que temos.”

Fiquei com pena, achei que pelo menos uma boa escolha de antipasti com fette di prosciutto di Parma quente e salsicce toscane cruas cairiam bem, seguidos de um delicado rigatoni cacio e pepe de primo piatto e uma tagliata di manzo con verdure spadellate alla salsa d’ostriche como secondo, para fechar com um clássico tiramisù parecido com o que faço aqui no Rio e briga com qualquer um na Bota. Para finalizar, um espresso Segafredo corto e um limoncello como digestivo.

“Mas só teve salame e Lambrusco”, suspirou Gola depois de ler minha sugestão de cardápio. “E, para piorar, Sebastião está obcecado agora com essa coisa de sugerir mudanças no carro para melhorar as coisas. Acabou de mandar uma foto no nosso grupo perguntando se daria para correr com um chassi diferente já na próxima. Vou mandar pra você.”

E mandou.

Pedido de Vettel: carro novo na próxima